sexta-feira, 23 de julho de 2010

Cinco anos depois, ainda me pego repetindo mentalmente as palavras que queria ter dito a uma pessoa e não disse. Penso nisso todo dia. Ressinto a coisa todo dia. Como lidar com isso?

Compreendo, já vi casos parecidos, mas não tenho como ajudar sem compreender o caso em detalhes. Precisaria compreender bem a sua vida, porque essas palavras não foram ditas, que palavras são essas, como isso toca em seus padrões inconscientes. O que essa pessoa significa, em que isso implicou, o que teve de vida depois que talvez não tenha sido visto, o que poderia ser dito ou não... Não sei se há trauma no caso, e daí um stress pós traumático, ou algum outro tipo de memória especialmente ativada por repetição ou emoção. Não sei qual seria a reação da pessoa se tivesse dito. E não sei como a vida seguiu a partir daí.

Essa última parte é a mais importante. Num caso assim, provavelmente precisariamos analisar como lidou com suas escolhas - e com as consequências delas.Muita vida ocorreu - ou poderia ter ocorrido - em cinco anos. Muita coisa em minha vida seria diferente se algumas coisas tivessem sido diferentes, isso me parece natural na condição humana. Mas isso não me desobriga de viver bem as consequências de minhas ações ou omissões. Sempre há novos começos, e novas palavras por dizer.

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

Como trabalhar o animus para quebrar padrões de comportamento repetitivos, no relacionamento? Estou com muitas dificuldades.

Terapia séria. É um trabalho de formiguinha, no dia a dia. Enquanto isso, sugiro que leia "Mulheres que Correm Com Lobos" (versão longa que vira livro de cabeceira de 90% das mulheres que lêem, leitura para ser sorvida aos poucos como cálices de licor), e/ou "She" (versão curta, didática e mais superficial). Ambos vão falar desta questão do ânimus da mulher. Após um dos dois, sugiro também o "We", que trata da relação de ânimus-ânima presente no amor romântico (e seus padrões).

De todos esses, o livro mais "terapeutico" (no sentido de mudar a sua relação com seu ânimus - e, por conseguinte, com o masculino) é o "Mulheres que Correm". Já sugestões mais práticas dependem necessariamente de sua análise particular.

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

o homem é um ser racional ou um ser pacional?

A pergunta sugere haver uma oposição entre razão e emoção, com predomínio de uma e exclusão da outra. Não concordo. Aliás, o fato de haver a pergunta e dúvida já responde: Temos ambos, e não dá para definir entre branco OU preto. Precisamos ligar com os dois. E com muita coisa mais. Explico.

Segundo uma das classificações, temos um cérebro reptílico (instintos) como as galinhas e jacarés, um sistema límbico (emoções) como os mamíferos inferiores, e temos um córtex frontal (razão, lógica) como os mamíferos superiores. Temos também sabidamente serotonina, dopamina e outros neurotransmissores. TUDO ISSO AO MESMO TEMPO.

Mesmo dentro do racional, temos uma inteligência do tipo pensamento e outra do tipo sentimento (eixo do julgamento), além de uma do tipo intuitiva e outro do tipo sensitiva (eixo da percepção).

Fala-se hoje também em inteligência emocional e inteligência espiritual. Além disso, temos os bem-aceitos trabalhos de Gardner sobre múltiplas inteligências, sugerindo que há bem mais, pelo menos NOVE (!) tipos: http://pt.wikipedia.org/wiki/Intelig%C3%AAncias_m%C3%BAltiplas

Dito isso, fico aqui me perguntando o que é "pacional" (sic). Se falamos de paSSividade e paixões, falamos do latim PASSION (passividade) e do grego PATHOS (doença). Vem daí patologia, por exemplo. Algo que nos deixa passivos, submissos. Como a doença. Como um amor passional. Bem, eu prefiro ser ativo e racional do que passivo, hehehe. Cérebro passivo de bêbado não tem dono. Ou seja, temos nossa passividade diante de circunstâncias, temos dopamina distorcendo algumas percepções, mas quero crer que tenhamos consciência e alguma capacidade de ação e discernimento também. Eu procuro ter.

Se o "pacional" (sic) refere-se às emoções, e não às paixôes, sabemos hoje que estas são indispensáveis, e servem para preservar a espécie. São sinais de alerta, reguladores. Mamíferos as tem, e sem elas não sobreviveriamos, evolutivamente falando: tristeza, raiva, ciumes, medo, alegria. Não devem ser "controladas" nem "exageradas". Na medida certa, são indispensáveis. Mas o que nos faz humanos, além dos demais mamíferos, é que temos capacidade intelectual para integrá-las a nosso favor. Ou deveríamos ter. A maioria não consegue sem terapia. Alguns, nem com a ajuda dessa - depende de nosso empenho e maturidade, também.

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Como eu posso estabelecer um paralelo entre Neo (do filme matrix) e o filósofo Sócrates ou o espírito do homem que supera o abscurantismo da caverna? obrigado

O filme Matrix parece tratar da mesma analogia das sombras da caverna de Platão (Livro 7 do A República). Aquilo que os orientais chamam de Maya, uma ilusão dos sentidos. No platonismo, é necessário superar esse mundo das formas, uma vez que a realidade é a do mundo das idéias. Poderiamos comparar ao astral dos espíritas, do qual este mundo seria uma "cópia imperfeita", ou o Zyon de Matrix (embora Zyon não pareça lá uma imagem de perfeição).

Em todos os casos, temos variações do pensamento IDEALISTA ( Ver http://pt.wikipedia.org/wiki/Idealismo ) , uma visão filosófica de que o que percebemos é uma manifestação SENSORIAL (ou um fenômeno que se manifesta na percepção de tempo-espaço diante de nossas mentes, sentidos), e não a "verdadeira-realidade", que para alguns seria incognoscível (como o númeno de Kant).

Em Platão, o filósofo pode vislumbrar esse mundo das idéias a partir da dialética. Vide metáfora da linha: http://www.gilvicente.eu/cultura/platao.html

O que não podemos esquecer é que A REPÚBLICA é, antes de tudo, um projeto POLÍTICO-PEDAGÓGICO de Platão. A metáfora é empregada em um contexto, para defender a idéia de que um filósofo seria melhor Rei da República por estar preparado para ver aquilo que o interlocutor, cego pelas formas, não conseguiria perceber. Isso faz do sistema platônico, de algum modo, um sistema pragmático, tecnocrata, comprometido com um "objetivo" - o que é quase o contrário da livre filosofia, embora ele usasse a filosofia como meta. Digamos que Platão até hoje não teve muito sucesso na implementação de seu sistema. A única cidade que resolveu acolhê-lo e adotar suas idéias acabou fazendo o próprio Platão de escravo, pouco depois. Aguardemos os próximos 2600 anos, quem sabe nos elejam reis sobre os demais? Como sou filósofo, me candidato desde já ao cargo de supremo rei condutor.

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

(cont) como vc vê o processo de individuação?!

Em uma resposta curta? O deslocamento do centro da personalidade do ego para o Self. A integração e religare entre consciente e inconsciente (mais inconsciente na vigília, mais consciência no onírico) de modo a tornarmo-nos INDIVÍDUOS plenos, e não as metades neuróticas que somos. O processo de consciência psíquica e "espiritual" buscando a atitude de holding para nos tornarmos pessoas plenas, alinhados com nosso sentido de existir. O objetivo final, oriente, norte, alcançável ou não, da psicoterapia de bases junguianas. Uma auto realização possível, vivenciável, terrena, em contraponto às utópicas teorias de "iluminação" e "dissolução" do ego em um oceano de Self. Não se trata de anular o ego, nem viver como sábio ou guru, mas simplesmente perceber que há algo mais, e ter confiança e lucidez para ouvir os recados da direção maior do Self, tendo coragem e confiança para realizar as atitudes necessárias para essa auto-realização, MESMO quando não totalmente compreensíveis pela consciência. (Foi assim que eu entrei no relacionamento atual e no curso de Filosofia, aliás).

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

Transferir sempre a responsabilidade dos nossos atos e da nossa felicidade para os outros é um sintoma de paranóia?

Não necessariamente. Pode ser codependência, dentre outras coisas. Mas seja o que for, convenhamos, não parece ser boa coisa. E pelo pouco que dá para perceber pela sua pergunta, parece haver uma certa consciência de tratar-se de um equívoco, com possíveis danos psíquicos, pessoais ou sociais. Não seria o caso de tratar em terapia?

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

Existe em algum site o teste psicológico do C. Jung? Já que não aprova o ITMB.

Eu não disse que "não aprovo" o ITMB. Disse que não trabalho com ele. Mas vejo com bons olhos o que tem base junguiana. Eu prefiro ter minhas próprias formas de avaliação, baseadas em pesquisas junguianas sérias inglesas, com amostragem suficiente, adotadas por cursos de pós em Jung - mas ainda assim readaptadas para o caso do Brasil atual, do perfil de meus pacientes e do objetivo de minha clínica.

Como deve saber, testes psicológicos sérios não costumam ser os aplicáveis pelos sites. É de bom tom haver uma contextualização, preparo e acompanhamento. O que implica inclusive na escolha de um teste específico para cada perfil de analisando.

Se há demanda para uma avaliação psicológica séria, creio que uma deveria ser consultada. Se o objetivo não é tão sério ou focado, então creio que o de quase qualquer site serve. Teriamos aí uma curiosidade natural, mas pouco científica. O Google pode ajudar.

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

É normal gostar pouco de sexo?

Bem, "normal" creio que não seja, se estiver em idade sexualmente ativa. A sexualidade é importante, e a maioiria da humanidade parece gostar muito. Normal é um critério estatístico.

Você poderia me perguntar se é "saudável", "natural" ou "funcional", que são outros critérios diferentes de "normalidade". Saudável, pode ser. Não há riscos conhecidos à saúde por não fazer sexo. Mas para isso precisaria haver uma investigação psicológica mínima, porque PODE SER que a falta de gosto tenha a ver com bloqueios psicológicos, experiências passadas, educação ou traumas. Aí deixa de ser saudável, do ponto de vista psíquico, ainda que saudável organicamente.

Natural, não é. Me parece que os animais na NATUReza "gostem", ou pelo menos "façam". Não parecem ter complexos, se acharem feios ou gordos, guardarem mágoas de outras relações ou se fecharem em crises existenciais.

Funcional, DEPENDE. Para quem está numa relação afetiva a dois - que é a via natural e saudável para a maioria - não gostar de sexo não é nada funcional, pode trazer alguns aborrecimentos e crises desnecessárias.

Veja, estamos falando em não gostar. O que é "normal" ou não para um casal varia bastante, e tem inúmeros componentes. Inclusive a relação com seu próprio corpo, sua idade, o desgaste ou não da relação, a sua auto-estima... E a presença ou não de estados psicopatológicos.

Outra questão é a idade. Tenho pacientes de 50 a 70 anos que criam crises desnecessárias em suas relações por cobrarem, de algum modo, de si mesmos ou dos parceiros, um desempenho / frequência / interesse sexual mais compatível com o que vivenciavam na faixa de 30 a 40 anos. Certamente não deveria ser o caso. Expandimos nosso tempo de vida, mas o corpo ainda tem seus limites, e a mente acompanha nossa evolução - ou deveria. Há muito adolescente de 50 anos por aí.

Em todo caso, se isso lhe traz prejuizo, discuta o assunto com um psicoterapeuta sério. A maioria deles não cobra consulta inicial. Se vocês dois compreenderem que há questões mais profundas que demandam um processo psicanalítico, em havendo, porquê não? ;-)

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

Devo acreditar em David Icker em relatar que todo poderoso é um "fantoche" de uma raça reptiliana intergalactica?

Ah, sim, claro. Qualquer um que precisa perguntar a outro se deve ou não acreditar numa coisa dessa certamente tem condição de acreditar numa coisa dessa. Lhe parece coerente? :-)

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

terça-feira, 20 de julho de 2010

O que é amor? Existe a alma gêmea? É possível existir alguém com quem possa trilhar uma jornada em comum? Como atrair essa pessoa?

- Depende do contexto em que se pergunta ou responde. Para a neurociência, falariamos em oxitocina e dopamina explicando amor e paixão, e estão relacionados à preservação da espécie. Para Platão, amor é o sentimento dos seres incompletos, projetando o que lhes falta em outro ser. Para o grego, algo que podia ser dividido em eros (a dois, erótico), phylos (fraterno) e ágape (maior), faltando incluir o amor por si mesmo (ego). Em um sentido metafórico e espiritual, Amor é um sentimento maior, podendo ser confundido até com o próprioc conceito de "Deus". Eu costumo dizer que o Amor. Para enamorados, confunde-se com paixão e tesão, e é rebaixado a mero cumprimento ou pronome de tratamento. Muitos contextos, muitos significados, muitas respostas.

- Não existe. Em nenhum dos contextos. Nem mesmo o espiritual. Seria um contrasenso. Essa idéia vem da má compreensão literal dos mitos socráticos do banquete ou das mônadas de Leibniz. O que ocorre é muita fantasia espiritual em cima de tudo. E o amor romântico é de longe o tema mais propenso a fantasias. Explico bem melhor isso em um conhecido (e recomendado) texto meu, vale a pena ler:
http://www.saindodamatrix.com.br/archives/2005/03/utopias_espirit.html

- Sim, é possível trilhar jornadas em comum. A humanidade vem se reproduzindo assim. Eterninade é fazer o aqui-agora tão presente quanto puder durar. Eternidade irrefletica seria uma maldição. Não deixe as fantasias inalcançáveis de "amor-astral-5-estrelas" lhe roubar o prazer que poderia haver em uma simples e proveitosa relação 1 estrela possível, e ainda assim plena.

- Não se trata de "atrair". Não é uma caçada ou predestinação. Falamos de um RELACIONAMENTO, ser agradável a alguém que é agradável a você, aprender a trocar, aceitar o outro com seus defeitos assim como ele aceitaria os seus, estar disposto a sair da zona de conforto. Se parece impossível "atrair" alguém sendo quem se é, talvez seja o caso de mudar algumas coisas desse "seu jeitinho". O que observo em muitos casos é gente que ao mesmo tempo que quer "ser amada" é cada vez mais exigente e fechada, e ao mesmo tempo menos disposta a ceder, a tolerar, a ser agradável, a entrar no mundo do(s) outro(s). E os anos não colaboram, é claro. Repito a velha máxima da Leila Navarro: NADA MUDA SE VOCÊ NÃO MUDAR.

Cada vez que me perguntam na clínica "porque meu amor ainda não veio" ou "porque só gostam de mim e não surgem como o MEU amor" observo sempre que essas pessoas já tinha o "destino" antes mesmo de empreender a viagem. Acontece que o amor (romântico) não é o destino, mas a estrada. Compatilhada a dois.

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

Olá, tenho um amigo engenheiro que é muito racional e esta com problemas na vida mas não aceita nada espiritual. Gostaria de saber se tem algum dica de livros consciênciais para indicar, sem serem muito espirituais.

Então. Fica difícil, sem saber o que você (e menos ainda ELE) considera "espiritual", "racional" e "consciencial". Se ele tem problemas na vida oriundos de uma condição psíquica, para isso existe psicoterapia - que é um RELACIONAMENTO humano, complexo e dinâmico (embora condense a síntese de dezenas ou centenas de livros que o terapeuta leu, mas não só isso). Não há comprimido, passe, palestra ou livro mágico que modifique a condição humana de um momento para o outro, sem esforço e sem trabalho relacional.

Além do mais, psicoterapia séria NÃO É algo "espiritual", no sentido estereotipado do termo. Se ele não quer espiritualidade, nem mudança, nem terapia, e a única "cura para a racionalidade" for racionalizar em MAIS livros, será mesmo que ele QUER mudar sua condição? Me parece tão coerente quanto curar uma ressaca com outra bebedeira. Fazendo a mesma coisa que sempre lhe trouxe problemas, provavelmente encontrará mais problemas. Com ou sem terapia, NADA MUDA SE A PESSOA NÃO MUDAR.

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

Você acredita que a esquizofrenia seja TAMBÉM fruto de uma mediunidade mal trabalhada/desenvolida? Se sim, até onde vai o limite da patologia e do fator mediunidade?

Precisamos dar nomes aos bois, ou chamar as mesmas coisas pelo mesmo nome. Quem fala "esquizofrenia", um termo da psicopatologia, não está se referindo preferencialmente à espiritualidade. Não foi nela que o termo surgiu. E doença mental EXISTE sim, assim como religiosidade. São coisas distintas. Mas médiuns também ficam doentes, como quaisquer outros mortais. Não conheço doenças que façam distinções de religião.

Esquizofrenia É uma psicopatologia. Ponto. Há perda neuronal, perda de contato com a realidade, prejuizos sociais e físicos. Não há nada de romântico ou espiritual nisso. Precisa ser tratado o quanto antes. Com medicação e terapia. Ponto. Caso contrário, há danos sérios envolvidos. Perde-se capacidade cognitiva em cada surto. Isso NÃO É uma experiência "espiritual". Enquanto encarnados, nós PRECISAMOS do ego e discernimento aqui - INCLUSIVE para avaliarmos bem nossas experiências físicas e espirituais. ALIÁS, nada é mais difícil e espiritual do que conseguir viver bem AQUI E AGORA, no mundo material. Creio fortemente que essa seja a maior "prova iniciática" pela qual tenhamos que passar.

Quanto às DIFERENÇAS E SEMELHANÇAS ENTRE MEDIUINIDADE E PSICOSE, já escrevi bastante, tanto aqui quanto na Lista Voadores. Seguem-se dois ótimos textos meus sobre o assunto, leia atentamente:

* Mediunidade ou Esquizofrenia? Sensitivo ou Psicótico? Como diferenciar?
http://www.voadores.com.br/site/geral.php?txt_funcao=colunas&view=4&id=375

* Normais, Bipolares, Esquizofrênicos... e Médiuns!
http://www.voadores.com.br/site/geral.php?txt_funcao=colunas&view=4&id=215

* Como matar o ego... e viver em psicose!
http://www.voadores.com.br/site/geral.php?txt_funcao=colunas&view=4&id=222

O que deveriamos fazer para uma maior aceitação das pessoas com algum tipo de deficiência dentro da sociedade, se essa mesma sociedade cria alguns MITOS dessas pessoas? (com deficiencia)

Não sei o motivo das diferenças diversas entre os homens. Algumas correntes religiosas tentariam explicar com carma ou vontade de Deus. Pode ser. Mas não muda o fato que elas existem, e precisamos aprender a conviver com elas. Facilitar, incluir, no que for possível. Respeitar. Mas para mim isso implica também em não querer imputar ao externo a responsabilidade ou reparação de minha limitação, seja ela de que natureza for. Caso contrário, quem não teria aceitado a minha condição seria eu, e não o outro.

Sinceramente, eu creio que a sociedade já tem uma maior aceitação das diferenças. Sou otimista, vejo muito progressos e respeitos. Nos shoppings, nas aulas de Libras, na mídia, na consciência das pessoas. Há mitos porque há desconhecimento, e é assim com qualquer coisa que não seja majoritária. Religião, opção sexual, cultura, deficiência. Mitos, quando ocorrem, são combatidos com esclarecimento. Na medida do BOM SENSO, o que não justifica spam. A sociedade não TEM QUE ser ensinada compulsoriamente o tempo todo, a meu ver, a lidar com cada uma das inúmeras diferenças e particularidades (não só físicas, mas também) que podem ocorrer. Portanto, creio que uma boa educação seja a que ajude a lidar com DIFERENÇAS (aulas de filosofia, por exemplo), e não necessariamente termos que fazer um curso extensivo sobre cada tipo de deficiência que possa haver.

Senti muito isso em minhas aulas de LIBRAS, obrigatórias na licenciatura. Foram ótimas, mas e as outras inúmeras formas de diferenças linguísticas, culturais, deficiências físicas, etc? Me parece inviável ter uma disciplina para cada caso. Talvez precisassemos atuar mais no coletivo do que na educação de TODA a sociedade para lidar com CADA caso particular. O que não acho boa estratégia é quando é imputada a toda uma sociedade uma espécie de culpa pela deficiência alheia. Não acho que isso a longo prazo ajude nem a sociedade nem ao deficiente. Algumas deficiências podem ser talvez terríveis, mas não são necessariamente "culpa" da sociedade. Nem sempre há como "a sociedade" (o externo) repará-las. Ela se prontifica a minimizá-las, a na medida do possível facilitar a inclusão do portador de deficiência. E creio que isso ela faça cada vez mais, ainda que persistam mitos a esclarecer.

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Em alguns episódios de House ele aparece fazendo terapia. Pessoas como o personagem, altamente inteligentes ou perceptivas, têm maior dificuldade com o processo da análise, ou mesmo alguma outra particularidade?

Não necessariamente. Penso até que a análise é tradicionalmente mais procurada por pessoas inteligentes, que tem uma certa predisposição e curiosidade em SE conhecer melhor.

O que ocorre é que racionalização pode ser uma das várias formas de mecanismos de defesa. Mas note que isso também é analisável... E que embora confundam racionalismo com inteligência, não é lá muito "inteligente". Seria como um médico descobrir que tem um câncer, especular quais teriam sido as supostas causas, e achar que por isso não precisaria se submeter aos "colegas" para se tratar e operar. Além de ser pouco esperto, convenhamos que os motivos dessa defesa e negação ao tratamento já seriam uma NOVA manifestação do inconsciente, tão ou mais grave que o "câncer" (ou neurose) em si. Afinal, câncer tratado nem sempre mata, e neuroses bem conhecidas não trazem tantos prejuizos nem impedem tanto nossa socialização.

Apenas um detalhe: Até onde assisti, começo da 6a temporada, não vi o House fazendo análise. Eu o vi numa clínica psiquiátrica, mas não era método psicanalítico. Uma série que se aproxima mais do setting analítico é a "In Treatment". Mesmo assim, ainda não é plenamente psicanálise, embora se aproxime em algumas intervenções.

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

Existe fobia de fazer faxina?

Fobia é um MEDO, e um medo muito particular, o que tem causas inconscientes. Talvez você tenha aversão à ter que fazer faxina. Ou preguiça. Eu tenho um pouco de ambos.

Já para ter FOBIA de fazer faxina, precisaria que você tivesse, por exemplo, uma crise de pânico (sudorese, taquicardia, ansiedade, sensação de morte, etc) a cada vez que pensasse em fazer faxina, ou visse uma vassoura. Mesmo QUERENDO fazer a tal faxina. Algo simbólico inconsciente gerando uma reação inconsciente.

O que pode ocorrer também é algum trauma anterior, associado inconscientemente à faxina, que faz agora haver uma reação inconsciente. Praticamente um bloqueio. Por exemplo, alguém que era obrigado a fazer, ou que apanhava por isso, e não conseguiu elaborar bem isso.

Todos esses casos tem tratamento, seja psicanalítico (traumas, origens) ou cognitivo-comportamental (dessensibilização ao agente fóbico, elaboração de crenças associadas à limpeza e faxina). O importante aqui é não usar a "fobia" (ou o que quer que seja) como desculpa para não fazemos o que precisar ser feito: isso já seria um reforço ao tal trauma, se existir. E um conteudo inconsciente lhe IMPEDINDO de fazer algo da vida social, o que não é nada interessante.

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

Quais livros e autores você mais gosta de ler, porque?

Atualmente estou muito envolvido com os livros da filosofia e da psicanálise.

Mas tenho um gosto bastante eclético para livros. Vão de Yogananda a Ken Wilber, de Jung a Asterix, de Nietzsche a Osho, de Yogananda a Zé Rodrix.

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

ô Laz, existe alguma causa frequente entre pessoas que roem unha? noto em mim e outros que é um hábito duro de matar, relacionado a ansiedades, repressões, tensões no maxilar. por que se comer assim? às vezes sinto que sugo minha própria vitalidade

No seu caso, parece ter se tornado um ato impulsivo. Aquilo que no senso comum chamam de "compulsão".

Cada caso é um caso, mas pode sim estar ligado à insegurança, ansiedade, até depressão. E pela sua descrição, para você isso tem um "valor" simbólico: sugar a própria vitalidade, como se ela estivesse ali. É sintoma de que alguma outra questão, mais interna e inconsciente, deve estar associada e disfarçada no que o impulso tenta "compensar".

Se por acaso faz isso em "obediência" a algum pensamento prévio, alguma ordem interna ou com alguma "intenção", aí temos um caso de obsessão<->compulsão. Se não há a "ordem" anterior ou "risco" se não fizer, temos uma impulsividade, provavelmente de natureza ansiosa.

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa: