segunda-feira, 24 de maio de 2010

A psicologia funciona para pessoas que estão indo obrigadas (por um juiz, por exemplo)?

Psicologia, talvez, dependendo da linha. Psicanálise nem tanto. Psicanálise pressupõe coragem, disposição para ver suas próprias sombras, e não se obriga ninguém a TER QUE atravessar seus infernos psíquicos. Entretanto, uma relação analítica de cumplicidade e confiança pode ser CONSTRUÍDA após algumas sessões. De comum acordo entre os dois. ALIÁS, psicanálise só começa após sessões que estabelecem um "contrato analítico" em que o analista precisa aceitar o cliente como seu paciente, e vice-versa. Dependendo da escola, temos critérios bem específicos para aceitarmos (ou não) alguém. Nenhum psicanalista que possa dizer praticar psicanálise trabalha só por dinheiro e/ou com pacientes obrigados ou que lhe desagradem. Seria um estupro, a si próprio e ao outro. Escolhemos nossos pacientes do mesmo modo que somos escolhidos por eles. Se um psicanalista aceitar trabalhar por coerção, estará praticando qualquer coisa - provavelmente "aconselhamento" ou "palpites psíquicos" - EXCETO psicanálise e suas indispensáveis transferências.

Mas a relação entre duas pessoas traz possibilidades infinitas, que não posso prever. Muitas vezes pacientes que vieram quase "obrigadas" à clínica (por mães, ou por cônjugues como requisito após descoberta de traição) se surpreenderam (e me surpreenderam) com a construção de um excelente relacionamento analista-partilhante. Afinal, nunca somos o analista de quem nos indica, e sim de quem deita em nosso divã. Com a relação clínica, intensa, íntima, a maioria dos que vêm compreendem que ELES é que serão ouvidos. É um alívio, e quase uma "vingança".

Por fim, ressalto que na minha experiência observo que a maioria das pessoas que EXIGE que seus filhos ou maridos TENHAM QUE fazer terapia eram elas mesmas tão ou mais necessitadas do que os clientes que me indicaram. "O inferno são os outros", dizia Sartre. Tive uma mãe que literalmente me disse que me mandou seu filho (entre 20-30 anos) porque precisava de alguém que o criasse para ela. Ainda assim, o "menino" teve uma relação clínica excelente por anos comigo, enquanto durou a terapia. Teve resultados excelentes, e nem lembravamos mais como e quando começou o processo.

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

Estou farto de auto-conhecimento! Vejo um abismo em correlação a auto-realização! Descobri uma penca de defeitos e sombras, mas não consegui vencer nenhuma delas! É muito frustrante...Terapia ajudaria nisso?

Certamente sim. Se você quiser ser ajudado. Mas não sem "auto" conhecimento, o de fato.

DICA: Talvez aquilo que você é, de "bom" ou de "ruim", não seja algo a ser exatamente "vencido"... ;-) Esse parece mais o discurso das religiões - ou da dualidade do ser. Ninguém pode ser feliz e uno enquanto dividido...

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Qual seu tipo psicológico? Tenho até uma ideia, mas prefiro não chutar :pAbraços

Já respondi com detalhes aqui no formspring e no blog. Sou intuição/pensamento introvertido. Sensação como inferior.

ATUALIZAÇÃO: Ao longo dos anos, fui equilibrando melhor o eixo introversão X extroversão, e a partir de 2013 a maioria dos meus testes revelam um perfil levemente extrovertido, ou no máximo pouco introvertido. Isso certamente está ligado à uma melhor resolução de minhas questões materiais e profissionais, mas também afetivas e existenciais. Talvez a posição introvertida por 40 anos fosse apenas o meu melhor posicionamento até então.

sábado, 15 de maio de 2010

Lázaro! você podia fazer uma breve relação entre o "não como artifício de linguagem" que você mencionou uma vez, na psicologia, e a impossibilidade do não-ser, do Parmênides? e Freud com as palavras antitéticas? tentei ler coisas mas sinto que n

Ahn?
:o)

(e eu que reclamei da minha prova de teodicéia em que pediram para relacionar a visão pré-socrática de Nietzsche com o capítulo sobre Religião de Hobbes em Leviatã, e como isso explica e o que isso tem a ver com a expansão das igrejas evangélicas neo-pentecostais via TV... Depois dessa pergunta acima, NUNCA MAIS reclamarei das provas de Filosofia da Religião, rs)

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Continuando so drogas ; ela sente o prejuizo ? nao, mas nos vemos o prejuizo..Nesse caso baseado nas suas respostas, o que fazer entao ? deixar ate o individuo pedir ajuda e se conscientizar , e arriscar a tudo ficar mais dificil , forte ?

Há possibilidades de diálogo?
Se ela é maior de idade e ainda depende de você, creio que ela tenha obrigações minimas também de dar alguma satisfação e/ou te ouvir. Sua casa não é só uma pensão...
Você poderia, talvez, colocar abertamente suas preocupações, e porque as tem, e se oferecer para ajudar. Ela teria chances de se defender, de não ser apenas julgada em silencio. E mesmo se ela mentir, terá qe se policiar mais, precisará oferecer a tal versão alternativa e terá que ser minimamente coerente com ela...
Pouco posso opinar, contudo, sem conhecer o caso melhor. Se ela negar e gerar conflito, vc pode ter um motivo para propor então uma terapia familiar, por exemplo. Se ela assumir, aí fica mais fácil propor ajuda. De qualquer modo, o dialogo franco e amigável entre vocês pode abrir a possibilidade de ajuda externa.

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

sábado, 8 de maio de 2010

não vejo a bíblia mais cmo um livro histórico, tirando algumas partes simbólicas muito interessantes. agora se apegar esse ou aquele livro para defender uma crença não limita o seu poder de julgamento?(não me refere a ng em especial, ou sim hehe)

Sem contar que o Velho Testamento não passa muito de um relato mitológico e protohistórico de uma cultura específica de um povo e culto em particular, dentre inúmeros que haviam no deserto e no mundo. Se ganhou destaque é porque poucos povos registravam tanto seus mitos e leis assim por escrito. Onde houve registro claro, houve religião de povo escolhido que se impôs, vide hinduísmo também. Parece que os "deuses" criaram o mundo ao mesmo tempo, sempre nos rios de quem conta a história. 

Curioso que, embora se pretendam antigos, esses livros todos - velho testamento, Maha bharata, etc - foram escritos entre 2000 e 1000 AC, época em que também ocorre a fuga histórica dos judeus do Egito. Os relatos tenta. "contar" coisas de milênios antes, como de tivessem sido escritos por contemporâneos dos "fatos". E tanto a bíblia hindu quanto a mitologia judaico-cristã tem páginas repletas de sangue, guerras contra povos infiéis, derrota de "gigantes", exaltação dos feitos dos "heróis"... Tem pouquíssimo valor religioso-espiritual, do modo que tomam ao pé da letra. Mas é uma mitologia e simbologia interessante. Serve também como coletânea de contos, mitos adaptados (diluvio, Jonas na baleia, etc), crendices, "profecias", provérbios, indícios históricos. É um documento histórico, a ser investigado dentro do contexto de seu tempo e capaz de revelar muitas superticoes e costumes da época - e não um registro histórico, fonte de autoridade, referencia para se viver hoje ou até mesmo palavra literal de Deus (risos) ou manual de instruções como tomam.

Já os evangelhos parecem ter algum valor filosófico e religioso, em um sentido mais universal. Seja real ou mitológico, Jesus parece um personagem bem interessante, e sua verdade é crítica, espiritual e atual.

Já as cartas, escritas depois e cheias de regras para as igrejas, são novamente apenas documentos; e seus autores JAMAIS as escreveram para que fossem tomadas como a própria Palavra de Deus ou berradas na TV como regras limitadoras e repressoras de DEUS para o homem contemporâneo. Creio que os próprios apóstolos tomariam isso como uma gigantesca heresia.

Portanto, da Biblia se salvam os evangelhos, com ressalvas e cuidados de interpretação. Os demais livros são registros histórico-culturais, com muitas coisas interessantes, mas não deviam jamais constituir teologia literal.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Tenho 33 anos. Sou diagnosticado como bipolar químico e faço terapia e tomo antidepressivos há 14 anos. O grande problema é que minha vida não se ajeita. Meu pai é alcoólatra. Não terminei uma faculdade. Não consigo ficar nos empregos (continua)

Não há no DSM essa classificação "bipolar químico". Se você é dependente químico isso tem uma psicopatologia própria. No DSM, um diagnóstico exclui o outro.

Antidepressivos para bipolares em geral são um equívoco, e pioram o quadro da mania. Avalie melhor sua terapia e medicação. Se for possível, peça uma segunda opinião psiquiátrica mais especializada, e consulte também um psicanalista.

Por favor, leia o alerta sobre antidepressivos e bipolaridade em http://www.bipolaridade.com.br

No site há também avaliação de medicações, descrição dos tipos (I, II, etc, não existe o tipo "químico") e alguns testes que podem ajudar a diagnosticar.

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

(...) o relacionamento não deu certo e me sinto um fracassado, vi que não construí nada. A questão é: de onde tirar ânimo para dar uma guinada na vida se há anos a terapia e o remédio não resolvem?

Terapia e remédio resolvem. Não sei que tipo de terapia e qual remédio você toma. Os adequados funcionam muito, pelo menos o suficiente para VOCÊ fazer o resto.

Dizer que é "fracassado" e que "nada resolve" não é um raciocínio, é um SINTOMA. Bipolaridade distorce a capacidade de juizo.

Você pode incrementá-los com moderadores naturais de humor, como práticas esportivas regulares e relações afetivas estáveis.

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

Laz,Paz e Luz! Sou uma voadora curiosa...aqui em Salvador haverá um evento intitulado imersão projecioterápica cujo objetivo será proporcionar aos participantes a homeostase holossomática necessária às reciclagens intraconscienciais, please pode t

imersão projecioterápica da homeostase holossomática das reciclagens intraconscienciais?

hahahahaha hahahaha hahahaha hahaha hahahaha hahahahahah hahahaha hahahaha hahahaha hahahahaha hahahahaha hahahahah ahahahahaha

Minha opinião é a de que essa nomeclatura é ótima para conscientizar o conscin invéx da gumex do tangenciamento de sua homeocineticidade ribonucleica tridimensional.

hahahahaha hahahaha hahahaha hahaha hahahaha hahahahahah hahahaha hahahaha hahahaha hahahahaha hahahahaha hahahahah ahahahahaha

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

Você não acha que "nivela por baixo" a respeito do daime? Concordo com que li sobre bipolares e etc. Sou médico e a maioria das pessoas que me procura estão doentes, e não falo que todo mundo é doente. Ninguém que esta bom vai lhe ligar.

Doutor, estamos falando de uma droga alucinógena, e não de uma estatística ou psicolpatologia ocasional. Drogas são proibidas - ou controladas - a partir da reincidência dos casos graves, e não a partir do relato do barato dos doidões felizes com a substância. Até porque, a característica de uma substância psicoativa assim é justamente o de distorcer a faculdade de juizo.

Para usuários felizes dessa droga, os que sofre são apenas 1%, e como li essa semana na voadores, "não são significativos" aos olhos de quem está feliz no daime. Acontece que para uma só das mães que atendo, o tal 1% é 100%, quando se trata de nossos filhos entrando em psicose ou perdendo o ano por crises de agorafobia provocados diretamente pelo daime.

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

Aliás, qual é a diferença entre psicanálise e psicologia? Ah.. recebi a recomendação desse livro:Introduçao A Psicologia Geral de David Myers.

Psicologia é uma graduação genérica de nível superior, bastante abrangente, onde o aluno tem NOÇÕES de psicanálise (e de muito mais coisas) mas não sai psicanalista. Muitos psicólogos saem formados sem sequer terem feitos seus próprios anos de análise. É uma profissão regulamentada pelo CRP.

A psicanálise é uma técnica específica para lidar com o INCONSCIENTE, com estrutura equivalente a um mestrado, que exige um curso superior qualquer (pode até ser o de psicologia), e mais anos de estudo depois, além da análise do próprio aluno durante anos por um analista didata habilitado. É uma profissão livre, auto-regulamentada por sindicatos e sociedades.

Muitos psicanalistas são psicólogos que resolveram complementar seus estudos e se especializar na clínica. Mas não é obrigatório ser psicólogo para ser psicanalista; assim como não é necessário ser psicanalista para clinicar em psicologia.

Do ponto de como lidam com as psicopatologias, entendo que em geral a psicologia se aproxime mais de uma abordagem biomédica, mais pragmática e focada em relação às consequências e "conhecido". Já  a psicanálise se aproxima mais de uma abordagem estrutural e filosófica, mais ampla e generalista priorizando às causas e "desconhecido".

Se por um lado a psicologia tem buscado alívios e curas, é célebre a frase de Freud dita a Jung, sobre os que comemoravam supostos "milagres" da cura psicanalítica: "Coitados... Mal sabem que viemos lhes trazer a peste". Encarar as próprias deslealdade e sombras não é tarefa fácil, mas na maioria das vezes, é a única opção para realmente mudarmos nossos padrões e repetições.

Falei apenas da formação. Para as diferenças ESTRUTURAIS mais importantes, Inconsciente X Consciente, por favor, veja meu artigo sobre essas diferenças em http://voadores.com.br/lazaro


Recomenda algum livro para um conhecimento básico em psicanálise?

Sim. Para leigos, recomendo muito o FREUD - VIDA E OBRA, do Carlos Estevam. Emende com o JUNG - VIDA E OBRA, da mesma coleção. São conceitos básicos porém bem escritos sobre os dois pilares da análise do inconsciente.

A seguir, você pode ler os livrinhos da coleção CONCEITOS DA PSICANÁLISE da editora Duetto. Vendem em bancas ou no site, são 21 livretos, alguns como o PARANÓIA e o INCONSCIENTE são excelentes.

Se quiser saber mais de CASOS PRÁTICOS, recomendo o "Vivências de um psicanalista", do David Zimmerman.

E se quiser já algo didático e teórico, visão geral de um curso de psicanálise, então sugiro muito o "Fundamentos Psicanalíticos", do David Zimmerman. Ou o "Curso de Psicanálise", do Andre Keppe. Ambos são parecidos e contemplam, de modo resumido, conceitos variados necessários à formação de um psicanalista.

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

terça-feira, 4 de maio de 2010

Meu pai morreu no dia do meu aniversário, depois de anos com saúde debilitada (em grande parte, por responsabilidade dele mesmo). O que você pensaria no meu lugar? Coincidência pura, sincronicidade ou ele pode inconscientemente ter pretendido dizer al

Eu pensaria em coincidência ou sincronicidade. Tentamos dar sentido e uma lógica especial a essas questões porque é de fato difícil lidar com a ausência, mas não creio que seu pai ou a espiritualidade fossem fazer isso com seu aniversario de tivessem opoertunidade de escolher, conscientemente ou não.

Estretanto, na sua ótica, há sim uma sincronicidade. A data PARA VOCE passou a ter um outro significado, um marcador de ciclos. Não conheço detalhes de vocês, mas uma leitura possível é a do final de períodos, um
convite para que você "nasça" de algum modo, uma possibilidade de vida sem a sombra psíquica do pai. Mas aí falamos do pai simbólico, interno, psicanalítico - e não da passagem daquela pessoa que você amava.

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

Na sua resposta em como ajudar uma filha de 19 com drogas vc falou: ela quer ajuda ? sente os prejuizos ? que drogas ? resp.. Nao quer ajuda, acha que nao precisa e nao adimite.. Nao sabemos que drogas ainda...

De fato, se ela é de maior e refratária fica difícil. Até porque droga é crime, segundo a Lei do país. Se vocês nem sabem que droga é, e ela não admite usar, suponho que seja um palpite, a julgar por comportamentos e companhias dela que vocês reprovam... Nesse caso, o diálogo é fundamental, para diminuir incompreensoes e preconceitos dos dois lados.

Em casos mais graves, sugiro conversar com o pessoal do CAPS álcool e drogas, ou com a área de psiquiatria e dependência química do HC. Eles são especializados nisso e podem sugerir estratégias de inicio de tratamento, seja com recursos e motivações psicológicas para incentivar a pessoa, seja ate mesmo com tratamento paralelo multidisciplinar (pais combinam com área multidisciplinar tratar de uma outra questão, mas em
cada sessão há um profissional psiquiátrico fazendo observações em paralelo).

A questão é complexa, por invadir livre arbítrio de pessoa de maior X tentativa de reduzir dano psiquiátrico
maior. Não há resposta fácil e muito menos única. Cada caso é um caso e gostaria muito de ter uma resposta pronta que solucionasse seu problema, mas sequer conheço a pessoa. Ficaria mais adequado se ela fosse ao consultório para uma conversa, ainda que informal.

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Sou dep.Químico e Alcoólatra em recuperação a 2 anos e 3 messes.Tento praticar os 12 Passos de A.A.o melhor possível e estou a escrever um livro sobre eles.Gostaria de saber se conheçe a respeito e sua opinião sobre os Passos.

Parabéns pelos seus esforços em superar a si mesmo e às suas compulsões. Conheço pouco os 12 passos das Associações de "Anônimos", sei que tem uma origem religiosa (embora hoje haja grupos mais universalistas). O que sabemos é que inegavelmente estes programas FAZEM BEM para inúmeras pessoas, ajudam muitas famílias e dependentes, e FUNCIONAM para aqueles que se propõem a seguí-los. Portanto, não cabe crítica a respeito da parte religiosa, uma vez que esta é recurso e artifício para atingir o verdadeiro objetivo ali, que é librar-se do vício. Não sei dizer se é para todos; mas é muito bom que seja bom para muitos.

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

o que você mudaria na sua formação de psicanalista, ou melhor, se você pudesse percorrer essa trilha novamente, o que você faria diferente? O que é necessário pára ser um bom psicanalista? Por onde começar?

Eu gostei de minha formação transpessoal e multidisciplinar, marcos da Transpsicanálise de Keppe. Eu gostaria de ter tido mais enfoque em prática clínica e técnica psicanalítica (a formação do NPP, que hoje recomendo, é bem mais forte nessa área). Teria sido bom ter mais professores para ter mais variedade de abordagens. Mas complementei isso fora. Hoje curso filosofia para envasar mais ainda a clínica.

Como é necessário um curso superior ANTES de cursar psicanálise, eu recomendaria filosofia ou medicina - não por acaso, são as áreas historicamente ligadas à psicanálise. Psicologia também ajuda, se e somente se a pessoa se submeter à formação psicanalítica completa após a faculdade (infelizmente, poucos psicólogos se habilitam de fato em psicanálise, se consideram prontos apenas com conceitos mínimos).

Eu gostaria de ter um pouco mais de aprofundamento em Lacan, minha maior deficiência (por enquanto). Mas faço terapia lacaniana, e tenho bases complementares à psicanálise clássica em Jung, Winnicott e Frankl.

A formação em psicanálise é um processo dinâmico e sem fim, portanto, qualquer (bom) curso longo reconhecido pelo Sindicato de Psicanálise ou Sociedade Psicanalítica já está bom... para começar.

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

O que fazer diante de uma injustiça pessoal que parece ficar por isso mesmo?

Cada caso é um caso. Há casos em que devemos chamar a polícia, há quem prefira preces, outros acendem velas pra Xangô. Em outros, é o "injustiçado" que demanda análise ou terapia; seja para aprender a lidar melhor com os revezes da vida e seguir adiante, seja para se questionar porque dava tanto poder de sua vida para quem supostamente o "injustiçou".

O mundo parece ter um mecanismo de equilíbrio - causas costumam trazer consequências. Cada um colhe o que planta, nembsempre diretamente. Muitas vezes o novo amor - ou a própria liberdade - já é a recompensa pelo amornperdido, o rancor não compensa nem é racional, a vida já nos recompensou. Muitas vezes reclamei das injustiças e intempéries sem causa que recebia de meu chefe, que de fato ocorriam, mas durante a reclamação me esquecia de focar no muito de bom que minha vida recebia em outros campos, alguns deles a partir de meu salário ali.

Uma vez um grande amigo "dantesco" que estava se separando me levou certa quantidade significativa de dinheiro, e ainda por cima perdi o amigo, que passou a me evitar para não pagar. Certa vez mudou de calçada numa rua pensando que eu não o vi. E um dia, ao ver que eu havia mudado de carro, me agrediu dizendo que "eu não precisava do dinheiro, já que eu devia estar muito bem a julgar pelo carro que eu tinha". Durante muito tempo fiquei magoado, mais pela perda do amigo e impotência. Mas posteriormente a vida me colocou um outro grande amigo (Olavo) em melhor condição que me ajudou bastante em um momento difícil meu, também após separação (minha), também envolvendo quantia parecida, até maior. Notei que a vida, não tendo como reparar a partir do agressor, usou os melhores meios para me recompensar. Passei por algo parecido no meu ultimo relacionamento, por mais que eu gostasse da pessoa ou fosse injusto o que eu passava, ela não podia me dar o que eu necessitava como necessitava - e, talvez, vice-versa. Terminamos, ambos achando tudo injusto sobre nossas óticas egoístas, mágoas mútuas indevidas - mas a vida nos recompensou imediatamente, com sincronicidades incríveis, dando a cada um o que fosse melhor para o seu momento. Entendi o recado da Vida. Ela, infelizmente, não. Mas cada um tem o seu tempo e razão.

Por fim, lembro uma frase de Bach:
"A marca de sua ignorância é a profundidade de sua crença na injustiça e na tragédia. O que a lagarta chama de fim do mundo, o mestre chama de borboleta."

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

domingo, 2 de maio de 2010

Lázaro, você não pensa que Deus seja "bom" e "perfeito" na perspectiva humana de bem e perfeição. Você pensa que Deus seja perfeito (aí, sem aspas) na perspectiva dele mesmo?

Difícil eu falar da perspectiva de Deus sobre si próprio, não?

Me parece novamente a questão humana de, daqui, tentar colocar nossos conceitos e projeções naquele que nos transcende.

Mas creio que o pensamento de Descartes nas Meditações pode ajudar no que você fala. Dá para perceber que somos finitos, imperfeitos, incompletos. Portanto, deduz-se daí a existência de um conceito de infinito, perfeito, completo. Aparecemos no vazio, e perguntamos o que somos e se existimos. Na falta de um outro termo, você pode chamar esse algo maior de Deus. Descartes o chamou. Mas dizer que o "perfeito" é Deus é bem diferente de dizer que Deus é perfeito. A primeira afirmação é filosófica e racional, a segunda é teológica e projetiva.

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

Estou escrevendo um livro de ficção-científica que tem a Viagem Astral como foco principal. Você acha possível, via tecnologia, "forçar" uma Viagem Astral?

Possível é, pelo menos nos terrenos na ficção científica. Filmes como Matrix e A Cela exploram essa possibilidade. Seriados como Fringe também brincam com os limites entre a ciência e o dito "paranormal".

Pelo que sabemos, a projeção parece se dar em descoincidências entre ondas cerebrais e consciência (vide meus artigos no site da voadores). Teoricamente, é possível diminuir as ondas cerebrais. E em tese, poder-se-ia ter algum estímulo químico para manter a consciência desperta. Em teoria, se o que sabemos estiver correto, seria possível induzir - ou pelo menos facilitar - a ocorrência de estados alterados de consciência.

Também é interessante ver os estudos de neurociência com monges tibetanos. O estado alterado do samadhi parece poder ser descrito em termos neuronais.
http://www2.uol.com.br/vivermente/reportagens/iluminacao_neuronal.html

E se um dia reproduzíssemos o que observamos neles, será que teriamos o mesmo resultado? Por enquanto, a ficção científica pode explorar. Amanhã, quem sabe? A experiência dirá, e não dá para fazer ciência já dizendo antes o resultado do experimento. Se é possível? Talvez.

Mais em
http://www.saindodamatrix.com.br/archives/2005/11/iluminacao_neuronal.html

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

O mundo é claramento injusto. Alguns nascem para sofrer, outros nascem com tudo na mão. Por que, no seu entendimento? Se Deus é bom e perfeito, por que faz isso?

Não creio que o mundo seja injusto. As leis "de Deus", sejam quais forem, estão aí, na natureza e não da Bíblia.

Não penso que Deus seja "bom" e "perfeito", nessa expectativa humana de bondade e perfeição. Somos nós quem separamos a natureza em coisas que gostamos e coisas que não gostamos, o "bem" e o "mal", e resolvemos (dentro de nossas cabecinhas) atribuir os NOSSOS conceitos de bem a um tal Deus, e os NOSSOS conceitos de mal a um tal Diabo. Enquanto isso, a natureza continua a ser o que é, sem dar tanta bola aos devaneios mentais e crenças dos macaquinhos bípedes humanóides do planetinha azul que gira na terceira órbita do solzinho que 5a grandeza em um dos bracinhos externos da Via Láctea...

Muita pretensão - ou infantilidade - nossa imaginar que o Criador de tudo isso está de olho na gente, e sendo exatamente aquilo que as supertições de um povo do deserto terráqueo resolveu escrever em sua Bíblia de 3000 anos atrás.

Agora, se você fala das diferenças dentro da SOCIEDADE humana atual, aí temos uma questão de sociologia, filosofia, política e economia para resolver. Podemos deixar a Teologia fora disso. Nós somos a sociedade, se nós fazemos injustiças, somos NÓS quem temos que resolver. É tão inocente achar que é Deus quem "faz isso" quanto esperar uma "intervenção divina" para que o Cosmo resolva as nossas próprias mazelas sociais.

Podemos começar votando melhor, privileginado quem tem projetos e compromissos sociais, e fazendo a nossa parte para o meio-ambiente. Já a reza é opcional.

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

onde fez formação em psicanálise? pq se diz psicanalista? é junguiano então é faz terapia de base analítica e não psicanálise. O que acha?

1) Em São Paulo, no Instituto Brasileiro de Transpsicanálise, formações em Psicanálise Transpessoal e Psicopatologias; atualmente faço análise com a Aracelli Albino, presidente do Sindicato de Psicanálise de SP, diretora do NPP, onde pretendo fazer complementações. Estudo também com o winnicottiano Gilberto Safra, em todos os Profocos e alguns LET's. Frequento congressos de Filosofia Clínica com o próprio Lúcio Pakter, fiz análise com Andre Keppe, filho de Norberto Keppe fundador da psicanálise integral. Tenho também formações livres em Jung e PNL, bem anteriores a isso.

2) Risos... Talvez por eu ser psicanalista? E por trabalhar com psicanálise, método psicanalítico, setting analítico, transferências, associações livres, sonhos, ferramentas de Bion, Freud e Winnicott?

3) Sou Junguiano? Sou Freudiano? Sou Nietzchiano? Sou Kantiano? Sou Hegeliano? Sou Winnicotiano? Sou Lacaniano? Sou Heiddeggeriano? Defina-me, porque já li esses autores e peguei deles várias contribuições. Qual significante SEU você "acha" que EU deveria usar para que VOCÊ ficasse em paz com o MEU trabalho, que vai muito bem lá no meu setting analítico?

4) Jung era psicanalista, foi inclusive presidente da associação internacional antes dele e Freud romperem por questões menores. Freud fazia terapia de base analítica. Etimologicamente, "Psicologia Analítica" quer dizer A MESMA COISA que sua forma sintética, "Psicanálise".

5) Acho de uma infantilidade sem tamanho - incompatível com a prática clínica - essa briguinha boba entre os grupos freudianos ortoxos, heterodoxos, junguianos originais e novas associações junguianas. Se você fez formação com tal autor, está proibido de usar uma contribuição do outro. Ridículo, parece coisa de religião - ou de gente insegura que lê pouco e que ao invés de se ancorar com aquilo que estudou, tenta atacar aquele que estudou algo diferente ou um pouco mais. Quem tem consultório cheio e formações suficientes não tem tempo para esse conflito de siglas e ortodoxias, como se a psique do paciente tivesse que se dividir de acordo com as neuroses e significantes dos que brigam pelo poder nos principais institutos formadores. Mesmo no meio winnicottiano, há quem saiba que estudo com o Safra e aí dizem "ah, então não é Winnicott oficial". E vice-versa. Prefiro nem comentar, mas registre-se que ouvi mais isso de estudantes inseguros do que de verdadeiros profissionais competentes e tranquilos com sua prática clínica.

6) Não uso o termo do Jung, "psicologia analítica", porque no Brasil a palavra "psicologia" é reservada aos psicólogos. Assim como não devem dizer fazer "medicina" alternativa. Psicanálise quer dizer a mesma coisa, e como tenho formações em psicanálise, uso método psicanalítico, faço psicanálise e "por acaso" sou psicanalista, achei que poderia. Parece que o grande problema foi apenas eu ter estudado muito de Jung. Isso incomoda a turma da divisão, gente que ainda está com a cabeça numa briguinha de egos dos dois por volta de 1920. O que ocorre é que freudianos imaturos odeiam e rejeitam jung, junguianos e suas nomeclaturas; e junguianos imaturos odeiam freud, freudianos e suas nomeclaturas. Não tenho o menor interesse em me manter nessa criancice de 90 anos atrás. Quando meu paciente descreve um sonho que claramente tem elementos de ânima e sombra, não vou me esquecer do que estudei só porque ele me contou no divã.

7) Por fim, Winnicott é muito mais "herege" do que Jung, mas é considerado como psicanálise. Isso apenas porque não viveu no tempo de Freud, e portanto não foi excomungado da psicanálise pela santa inquisição ortodoxa.

Acho tudo isso muito compreensível, se analisarmos a mentalidade e dificuldades da época do início da psicanálise. O QUE NÃO DÁ PARA TOLERAR é gente pequena, 90 anos depois, tentando regular a clínica e formação alheia por causa de suas próprias limitações.

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

sábado, 1 de maio de 2010

Grande Laz, só queria tirar uma duvidazinha simples: li um comentário seu dizendo que a depressão é a droga do passado e a ansiedade a do futuro. Eu sempre pensei que a ansiedade era a causa da depressão e dos outros distúrbios do mesmo gênero. qua

Eu disse que a depressão é a doença do passado. E a ansiedade a do futuro. Ansiedade é a premonição de uma emoção, há sempre algo de projeção futura nela. A depressão é depreciativamente crítica, lança olhares para o já vivido.

Há, claro, quadros consorciados. Hoje em dia a cultura e sociedade não deixam as pessoas viverem o lado positivo da depressão, e isso se traduz em ansiedade. Você "não pode" ficar triste, dizem que "temos que" sair, transar, gastar, viver - inibem o luto saudável. Isso implica em abafarmos nossa tristeza na marra, o que se traduz em ansiedade. Observo na clínica uma bipolaridade não classificada nos manuais psiquiátricos, que oscila entre mania e ansiedade, e não entre mania e depressão. Mas isso quer dizer que as pessoas não estão vivendo bem sua depressão, e a libido precisa sair de uma outra forma. A relação não é bem de causa-consequência, como você coloca, mas de psicodinâmica. Se a depressão não pode ser vivida, o inconsciente vai arranjar alguma outra defesa neurótica. Às vezes são compulsões, mas ansiedade também faz parte do leque de opções.

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

Se minha mãe não tivesse conhecido meu pai, mas sim casado com outra pessoa, eu simplesmente teria outro pai ou eu seria outra pessoa?

Ou não seria você para colocar essa questão. Afinal, você poderia ser o seu vizinho, e ele não parece preocupado em saber se é você, rs...

Mas falando sério, o que você conhece sobre você tem muito a ver com genética e psicanálise. Atendendo pessoas a tantos anos, garanto que mais de 90% do que somos tem a ver com nossos pais, por mais que neguemos isso. Você não teria como ser essa identidade que conhece. Ou se preferir uma versão mais mística e filosófica, o outro é um outro-eu. Se formos usar o idealismo pós-kantiano, podemos dizer que o Eu e o Não-Eu são limitados. O Eu que se posta define o limite do Não-Eu, e ambos se limitam. Portanto, isso dá lugar a algo maior ilimitado, um Eu Absoluto. Mas aí complica. Divirta-se: http://migre.me/AVTM

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa: