sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Por que temos pesadelos? Por que o inconsciente manda as mensagens de uma forma tão terrível? Ás vezes tenho pesadelos tão estranhos que fico surpresa com o "gore" que vem de dentro.

Sugiro que leia o livreto MAGIA INTERIOR, do Robert Johnson, que aborda de maneira didática o conceito junguano de "Sombra" psíquica, responsável por grande parte dos sonhos assustadores e/ou persecutórios.

De todo modo, pesadelos são sonhos riquíssimos, mostrando diretamente aquilo que o eu consciente não gostaria de ver. Recalques, traumas, sombra, compensações: está tudo ali, pedindo análise e providências, ainda que de forma simbólica. Caso não haja, o próprio pesadelo já é uma forma de vivenciar a sombra psíquica, diluindo a "energia" disso e evitando um surto posterior.

Costumo dizer que fico mais preocupado com pacientes que SÓ tem sonhos "coloridos", planos "celestiais" e cenários TeleTubies. Dos que "adoram" sonhar ou dos que preferem viver na cama do que acordar. Fico pensando como a vida desperta deve estar terrível e insuportável, para que tenha que COMPENSAR tanto, desse modo, no lado de lá. Do que o sonhador colorido tenta fugir? Haveria depressão?

De um modo ou de outro, sonhos "fortes" e repetitivos - sejam "bons" ou "maus" - sugerem análise, intervenção ou interpretação.

OBS: Não sei o que é "gore".

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Como a psicanálise e a neurociência enxerga a consciência? Já como algo ligado ao corpo físico mas q pode se desprender? Como a viagem astral nesse ramo? É um fenômeno visto como algum sonho?

Isoladamente, dependerá muito da visão de cada corrente neurocientífica ou psicanalítica em questão. Já transdisciplinarmente, faço uma pós em Neuropsicanálise na UNIFESP, e meus professores - que parecem ter alguma abertura para questões transpessoais, apesar da maioria serem médicos e cientistas - nos trouxeram "estranhas" reflexões no sentido de que não temos lá tanta certeza assim do que seja a consciência, e de que parece que o cérebro por si só, como o conhecemos, é pouco para explicar o "software" mental. Segundo alguns neurocientistas, "explicações metafísicas não podem ser descartadas".

Há neurocientistas que de fato vêem a projeção como apenas um sonho. Embora sejam os mesmos que não saibam o que um sonho queira dizer. Mas quando falamos em neuropsicanálise, ou em outras abordagens transdisciplinares que considerem a vida além do físico, há pessoas que são abertas a outras possibilidades. Quais? Isso implica em investigação. Mas há descobertas curiosos sobre as representações da "realidade" no cérebro. Afinal, trata-se de uma projeção, de um modelo de acesso epistemológico, processado pelo que parece ser uma "consciência". O que é? Porquê? Não sei, mas usamos filtros mentais, formas a priori da sensibilidade (KANT). Parece que nossa realidade talvez não seja tão real e concreta quanto gostamos de supor.

Se os 50 primeiros anos do século XX foram os da psicologia inicial, e os 50 finais foram os do cérebro, me parece que estejamos no século da mente, o século da integração. Perceber a vida por apenas um desses dois lados é uma forma de reducionismo. E não sou eu quem digo isso, mas Eric Kandel, psicanalista E neurocientista, ganhador do prêmio Nobell de 2000.

Quanto à consciência e necessidade de modelos maiores para explicar o que transcende o físico, gosto muito das contribuições de Ken Wilber. O seu modelo de esferas, quadrantes e espirais (holons, kosmo) me parece o que de melhor explica e integra as possibilidades epistemológicas das diversas áreas do conhecimento atual. Para um resumo, sugiro o livro "Uma Teoria de Tudo", ou uma visita aos sites brasileiros sobre este autor.

Sugestão de modelo simplificado:
http://www.integralworld.net/pt/subtleenergy-01-pt.html
(esta é a parte 01 de 05, mude os números no link acima)

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

Você tem alguma expectativa para depois que seu corpo físico morrer? no futuro longe, espero! :) Mas o que você imagina que vai acontecer? Tem medo ou ansiedade quanto a isso? Se preocupa com isso?

Os quatro remédios de Epicuro curam a dor dessa angústia. Se a morte existe, eu não vivo para sofrê-la. Se eu existo, a morte não existe. Então não há dor.

A fala de Sócrates diante de seu envenenamento também. Não há o que temer da morte. A perspectiva de um sono eterno não apresenta nenhuma dor. Então estarei muito bem. Em havendo vida, esta será de algum modo compatível ao que fiz e faço, e tenho minha consciência tranquila. Então estarei muito bem.

A única coisa que seria angustiante - e por isso Sócrates prefere tomar a cicuta do que negar as acusações - seria viver e morrer de modo diferente do que acredito. Minha vida é minha filosofia e crença, minha filosofia é minha vida e crença, minha crença é minha vida e filosofia. Em continuando, não há dor. Em não continuando, também. Então estarei muito bem.

Para saber mais sobre o quadrifármaco de Epicuro, receita infalível para combater a dor e viver o prazer, vide página 272 (do site) em http://pt.scribd.com/doc/36269858/Historia-da-Filosofia-Volume-1-Giovanni-Reale-Dario-Antiseri-theoriapratica (use o sistema de navegação embaixo)

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

Espiritualistas e outros dizem que nossa natureza não é daqui. Não somos o corpo, mas estamos nele. O real seria o etéreo, e a vida aqui seria o treinamento, a matrix. Partindo disso, conhecer, então, o outro lado, não é de importância prioritária?

Não acho. Primeiro porque isso significaria também dizer que uma crença (ou seja, o que "espiritualistas e outros" dizem) tenha que ser a SUA importância PRIORITÁRIA. Gosto de crenças, mas elas não substituem o viver.

Depois, pelo argumento de Nietzsche. Em havendo algo maior e imaterial, este mundo aqui também é sua criação, a mais manifesta delas. Deste modo, fugir daqui focando no "lá" imaginário seria uma blasfêmia, seria cuspir e escarrar na obra de Deus. Nesse sentido, não há ninguém menos religioso do que o "religioso". O que vive só lá, criando fantasias para lhe isentar da responsabilidade de viver aqui, ou para compensar uma inferioridade que caberia a ele mesmo - e não aos deuses - resolver.

Mais ainda, pelo argumento da utilidade da mensagem espiritual. Religiões e crenças são importantes enquanto sistemas de sentido. A mensagem espiritual nos ensina a vivermos melhor aqui. Nenhum mestre milenar que mereça o nome fez pregações destas pseudo-filosofias de deixar a vida para viver a fantasia do outro. Ao contrário, recados espirituais decentes sempre foram de natureza interna, transformadora, e não relatos "objetivos" de como "deveria ser" em detalhes o "mundo de lá".

E por fim, por enquanto, pelo argumento da psicose. Ora, a experiência espiritual é pessoal, simbólica, subjetiva. Já a psicose é caracterizada por alguém - doente - tentar não só ter uma vida psíquica e simbólica (o que é lícito e universal), mas tentar interagir com ela no mundo externo, como se o que fosse pessoal passasse a ser coletivo, como se o que fosse simbólico passasse a ser literal, como se o que fosse subjetivo passasse a ser objetivo. Há um rompimento com o princípio da realidade. Ora, quando a espiritualidade se dá em fórum íntimo ou em ambiente adequado, visando o crescimento espiritual e psíquico da pessoa, ela atende o primeiro critério. Mas quando a "espiritualidade" para a se fiar mais nos relatos do lado de lá, ou a exigir que as pessoas mudem aqui a partir do que o outro disse ter visto do lado de lá, mesmo que tenha visto temos o rompimento dos limites, ou seja, o que era simbólico, interno e subjetivo do guru ou médium está sendo apresentado como tendo que ser literal, externo e objetivo não só para ele, mas para o outro. A isto se chama esquizofrenia, e não religião.

Se eu falo com as plantas, sou normal. Se elas respondem, sou psicótico.

Quanto à Matrix, cada Neo precisa esperar o seu Morpheus. Ele só fez o treinamento quando convidado a Zion. Ou seja, se estiver projetado, além da Matrix, treine. Mas isso não nos isenta de vivermos bem, aqui, onde a morte é real.

Dizem que um discípulo chegou para seu guru todo feliz, após muito meditar, e disse:
- "Mestre, mestre, enfim vi, este mundo é uma ilusão, a dor não existe!".
E então o mestre lhe deu um forte murro no nariz: "
- O que está doendo agora?"

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Quando alguém morre, como a psicanálise pode ajudar? Se ela não considera o além do físico, o que poderia fazer por fobias que vem de outras vidas, obsessão de gente desencarnada, magia, etc?

Quem é "a" psicanálise, esta mulher que não acredita em nada?

Conheço psicanalistas de todas as crenças - em minha clínica há psicanalistas ateus, evangélicos, espíritas, seicho-no-ie e espiritualistas - assim como conheço médicos, arquitetos, engenheiros e professores de todas as crenças.
A arquitetura não considera a vida após a morte, como uma casa poderia me ajudar, sabendo que pessoas morrem nelas?

Psicanálise não é uma crença herética ou senhora atéia, é apenas um método, um conjunto de conhecimentos, que como qualquer outro tem a sua delimitação. Isso não implica não haver nada além dela, apenas não é necessário multiplicar as variáveis infinitamente. Um médico não para de lhe operar para discutir se seu tumor veio de outra vida. Mesmo se ele for espírita.

A questão é: QUEM DISSE que a fobia veio mesmo de outra vida? E, se veio, que PRECISA ser tratada lá e não aqui e agora, onde se manifesta? QUEM DISSE que o motivo de uma psicopatologia é mesmo a crença em um suposto "obsessor desencarnado" ou "agente mágico"? E, se for, que o manejo psicológico disso deva ser deslocado da psique para o campo na suposição, do invisível e da religião?

Ainda que seja essa mesma a causa de UM caso em particular, teríamos o direito de vender nossas crenças ao paciente como forma de terapia? E, pior, semear o medo do invisível nos demais, que nem apresentavam essa causa em suas patologias, pois é sabido que a gigantesca maioria consegue encontrar explicações NESSA vida e atitudes mesmo? E pensando neste UM que realmente tivesse causalidade em algo invisível ou distante, qual seria o nosso papel como psicoterapeuta? Fazer fofoca de sua vida passada? Alimentar a nossa curiosidade e a dele sobre "O QUE" haveria causado? Não seria mais honesto e eficiente entendermos, nós e paciente, que a questão é o "COMO" do agora do que o "O QUE" ou "QUANDO" do passado? Por fim, evocando a psicologia mais humanista e transpessoal, bem como o counseling, qual a vantagem de colocar aquele paciente em contato com o seu PIOR de um passado que sequer vê? Ora, a cura transpessoal parte do contato com o núcleo saudável da psique. Ainda que justificássemos uma investigação do invisível, uma fofoca akáshica sobre sua (suposta) vida pregressa, o risco disso justificar culpas é maior do que o benefício que essa culpabilidade venha a trazer. Curar por meio da culpa - especialmente da culpa em relação ao invisível - não é o que eu chamaria de honestidade terapêutica.

Ora, mesmo considerando que possam ter sido causados em esferas invisíveis - ninguém viu, tudo não passa de interpretação simbólica baseadas em crenças prévias de paciente e/ou terapeuta - não é sabido, espiritualmente, que isso se dá por SINTONIA, por pensamentos+sentimentos+atitudes? Que a vida passada se manifesta no eu-aqui-agora, e que a vida futura é determinada pelo mesmo eu-aqui-agora? Que qualquer obsessor ou ameaça invisível só poderia atuar havendo atitudes psíquicas compatíveis, que o convidem?

Não dizem os religiosos que a saída é o "orai e vigiai", não dizem os espíritas que a resolução se dá por "reforma íntima"? Pois bem, as psicoterapias trabalham nesse VIGIAI e nesse ÍNTIMO, sem exigir a "oração ou a reforma (conversáo religiosa) de ninguém. Religião é assunto de fóro íntimo, indispensável, e trata de outras questões filosófico-existenciais. Não é necessário que o médico ou o psicólogo VENDA suas crenças particulares para poder tratar o necessitado, e essa prática poderia ser vista até como um desrespeito ou falta de ética. Desse modo, me parece mais questionável uma "terapia" que, delimitando o físico, foque no invisível do que aquela que respeita as crenças de terapeuta e paciente, mas metodológica e eticamente as deixam fora do setting - a não ser como possibilidade de interpretação simbólica e possibilidade transpessoal.

Note que uma coisa é usarmos o transcendente como função de individuação, ampliando nossas possibilidades, e trazendo acréscimos do dito espiritual. Isso implica interpretar símbolos trazidos pelo paciente como possibilidades do Self, ou de contato com naturezas psíquicas mais sutis, ou como instâncias arquetípicas que nos trazem dados além do inconsciente individual - em geral, propondo um ORIENTE a seguir. Isso fazem, de algum modo, os junguianos, logoterapeutas, winnicottianos, wilberianos e afins. Isso tira a pessoa de seu ponto de desconforto a partir da possibilidade de novos caminhos e paradigmas. Isso é TRANSpessoal.

Outra coisa bem diferente é usarmos o invisível como o terreno das doenças imaginárias, da origem das culpas e expiações, da conversão automática de cada transe, visão ou sonho figurado em uma manifestação literal de crenças prévias; da visão do inconsciente, do passado e do além-físico como uma ORIGEM, geralmente negativa. Isso tenta mudar a pessoa hoje a partir de uma culpa, da visão de algo sempre pior ainda, que de algum modo "justificaria" o sofrimento pelo qual ela passa. Isso a aproxima da origem complexa de suas neuroses, sem sequer dar resignificação. Tomar o invisível assim me parece mais PRÉpessoal.

Sendo este tipo de acesso PRÉ-pessoal um contato com a parte doentia da psique, sem manejo adequado e interpretação (pois a considera como literal, e não simbólica), corre-se o risco de transformarmos qualquer neurose prévia em fobia, só curável a partir da culpa em relação a atos passados. E como dito na resposta anterior a essa, CULPA gera doenças físicas e suicídios indiretos. Se agimos assim, será mesmo que curamos alguém, ou apenas deslocamos sintomas, alienando o paciente a partir de NOSSAS próprias crenças?

Láz, uma coisa que me intriga: câncer. Gostaria de saber sua visão esp. unida a visão psic. e fís. sobre o assunto dessa doença que cresce cada vez mais com o adiantar dos anos. Não encaro o câncer como poluição dos nutrientes q ingerimos, me parece mais.

Compartilho de sua inquietação. Não sabemos o que seja. Unindo espiritualidade, psicanálise, neurociências, evolução, mutação... Também sinto cheiro de que câncer é bem mais do que imaginamos, mas não tenho competência para dizer o que seja. Eu especulo que tenha algo a ver com evolução e mutação, e também não há como ignorar as implicações psicossomáticas existentes. Intuo que, de algum modo, em um futuro longínquo tenhamos uma outra idéia sobre câncer e vírus dentro do sistema que permite a evolução da vida na Terra, mas não tenho como investigar isso cientificamente. Apenas sei, ou creio que sei, pelo mesmo motivo que antes eu sempre soube da Epigenética, e escrevi muito sobre isso antes de ter um nome - bastava observar para saber que nem Darwin poderia estar tão certo, nem Lamarck tão errado assim.

Câncer também me parece "mais". E a cada morte prematura por câncer, como esta de hoje (Steve Jobs), sinto uma certa impotência pré-histórica, um senso de que poderia ser evitada se já tivessemos a visão ou tecnologia certa. Atuando em psicanálise e vendo doenças psicossomáticas e interações psiconeuroimuno todos os dias, eu SEI que palavra e pensamento modificam mais que comportamentos. Antes de ser psicanalista, também trabalhei por 15 anos em centros espíritas, 3 vezes por semana, e conversei com milhares de pessoas, em especial doentes, tentando levar os alívios que aquela alternativa espiritual oferece. Na época também me convenci - empírica e fenomenologicamente - que as relações entre vida e câncer seguramente pareciam indicar "algo mais", quase uma drenagem de algo psíquico se manifestando no físico - nem sempre com intenções negativas, mas quase como um remédio amargo que às vezes mata o paciente, ou um mecanismo de defesa psíquico que às vezes nos traz patologias.

Há inúmeros casos de câncer agindo de modo auto-punitivo, como se tivesse algo ou de "energético" (no sentido dito "espiritual"), ou como reflexo da culpa, da conversão de sintomas contra o próprio corpo. Parece haver perfis de pacientes (os de posição neokleiniana viscocárica) mais propícios a desenvolvê-lo. Mas tudo isso não passa de estatística, de observação: conhecemos os fatores de maior predisposição ao câncer, mas não temos certezas sobre o seu funcionamento.

Não quero ser reducionista no caso do câncer, até porque nem sei se ele é tão somente uma "doença", é claro que há outras variáveis envolvidas (propensão genética, epigenética, fatores de risco como cigarro, bactérias estomacais, etc). Mas a relação psicossomática é inegável. Talvez por isso me sinta um pouco impotente, eu que atuo com a palavra e também estudo neuropsicanálise e psiconeuroimunobiologia. Antevejo um dia em que consideraremos uma lamentável estupidez termos perdido tantas e tantas vidas prematuramente devido ao desconhecimento do mecanismo desta "doença".

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

Fiz as ultimas perg, 3, 4 sei lá. Usei LSD esses dias, chorei umas 3 horas ininterruptamente, me sinto melhor. Guardo meus sentimentos pra mim, to chegando no fundo do poço, cada vez mais discrente em tudo, quero mudar, por onde eu começo?

Poxa, sinceramente, sou bem contrário a drogas alucinógenas - maconha, LSD, ayahuaska, daime, cogumelos. Só nesta semana, já recebi dois interurbanos de pessoas de outros estados que surtaram por uso de daime, e depois procuram ajuda, e chegam a meu nome na internet. São centenas de casos. E não há muita diferença entre os alucinógenos citados, todos eles às vezes usados para fins "cabeça" ou "espirituais". Este "me sentir melhor" e "guardo para mim" frequentemente é associado aos "cheguei ao fundo do poço" ou sintomas (às vezes irreversíveis) de psicopatologia. Acho isso muito triste, até porque tenho bons amigos usando essas drogas. Sei como poucos no país os riscos disso, pois é a mim que procuram os desesperados (e suas famílias), vla internet.

Então a única coisa realmente SINCERA que posso responder à sua pergunta de "por onde começo" é: POR FAVOR, POR AMOR A VOCÊ MESMO, E OS GENES DE SEUS POSSÍVEIS FUTUROS FILHOS, PARE DE USAR DROGAS. DAIME INCLUSIVE, MAS PRINCIPALMENTE LSD.

Desculpe de coração se não é o que os usuários, viciados ou não, gostariam de ouvir. É o único conselho honesto e responsável que posso dar a todos aqueles que confundem o uso de drogas alucinógenas - daime e lsd inclusive - com algum tipo estranho de "busca espiritual".

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

De acordo com o Sr. Waldo Vieira, Deus não existe, Jesus foi um homem como outro qualquer, (não foi filho de Deus e blá, blá, blá. Vc acha que essas idéias difundidas por este Sr. podem atrair consciências extrafísicas que não são boas?

Waldo deixou boas contribuições ao espiritismo e à projeciologia - não mais que isso - nos tempos em que era lúcido. Sua aposentadoria em Foz do Iguaçu merece todo nosso respeito, que tenha um bom descanso.

Meu pai vive dizendo que Hitler é um gênio incompreendido da humanidade (sério), talvez ele gostaria de debater isso com o Waldo na próxima rodada de dominó. Eu passo.

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

Você entendeu o final de Lost? Se sim, qual a sua interpretação?

Você entendeu o final de Lost? Se sim, qual a sua interpretação?


Toda a sexta temporada se passa no "astral" deles. Mas isso não significa que as 5 outras também tenham se passado. Lembre-se que eles se deslocam de diversas formas no tempo-espaço, inclusive para antes do nascimento. Ora, em tendo nascido, também morreriam um dia. 

Na minha compreensão, a sexta temporada se passa muito, muito tempo depois dos episódios da ilha. Mas isso não quer (necessariamente) dizer que todos estivessem mortos o tempo todo - embora esta também seja uma possibilidade em aberto. 

Nesse sentido, gostei bastante da parte astral e ecumênica. Já a parte da Ilha, não gostei, pois a mitologia não se fechou, muito pelo contrário: houve um excessivo apelo ao sobrenatural, sem resposta.


quarta-feira, 5 de outubro de 2011

O mundo tem seu tempo, ele pede pressa e não concorda com o tempo de muitos métodos terapêuticos. A psicologia não tem preocupação com eficiência?

Há perguntas que mais parecem querer afirmar defensivamente alguma crença prévia do que ter a humildade e dúvida sincera de quem ocupa um espaço de perguntas em busca de uma resposta.

O "mundo" não falou comigo ainda, atenderei seu procurador, se ele tiver paciência de escutar respostas. Mas se a ansiedade do "mundo" não lhe permite sequer "concordar" com o tempo que ele mesmo necessita para elaborar suas próprias questões (afinal, o tempo não é o do analista nem o da psicologia, mas o do mundo doente), creio que "a psicologia", essa senhora, talvez não tenha mesmo como ajudá-lo. Fico me perguntando porque "o mundo" procura "a psicologia", parece que ele gosta dela, mas continua exigindo de todos aquilo que um dia esperava imediatamente de Gaia, a sua mãe.

Infelizmente, "a psicologia" tem sim preocupação com a "eficiência" e com os "resultados", herança do pragmatismo americano, um "me-engana-que-eu-gosto" de um mundo que, após se complicar por anos sozinho, chega ansioso exigindo uma técnica mágica ou comprimido milagroso que lhe cure instantâneamente de sua própria condição existencial.

E é por isso que eu não concordo nem com "o mundo" nem com "a psicologia". Sou psicanalista, não psicólogo. Não sou curandeiro, trabalho com auto-conhecimento, e isso não tem prazo, não tem garantias que substituam o esforço do próprio buscador, nem faz sentido ser procurado apenas para extrair uma verruga. Respeito profundamente às escolhas e o sofrimento humano

Pobre do Sr. Mundo, no dia em que ele puder ser apenas um ser humano, procurando não a dona "psicologia", mas sim um outro ser humano qualificado e habilitado para ajudá-lo, estabelecendo uma relação analítica e transformadora, respeitando o tempo que ELE MESMO demandar para que ELE (e somente ele) possa resolver SUAS PRÓPRIAS questões.... talvez essa sua angústia tenha outra resolução. Dona psicologia não pode viver a sua vida por ele. E mesmo nós, psicanalistas, o respeitamos tanto que só podemos ajudar o ansioso Sr Mundo se e quando ele se permitir ser ajudado. Psicanálise está aí para todos, mas não é mesmo fast-food, e nem todos estão para a psicanálise.

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

("Sou contra o autoritarismo de legislar sobre a saúde do outro.") - inclusive no caso do daime? Ou melhor: no seu ponto de vista, em vez de abolir fumódromos a lei deveria regular a venda do cigarro?

Daime e drogas alucinógenas são questão de saude pública, assim como dirigir embriagado. Também há na questão do daime o abuso da boa fé, e uma certa inocência bem intencionada dos dirigentes, que não esclarecem (e em geral nem sabem ou acreditam) nos riscos reais envolvidos, especialmente os psiquiátricos.

O direito sartreano ao suicídio é inalienável, façam isso com batatinhas fritas em excesso ou cigarros. Mas que seja consciente, que não seja transformado em "religião" multiplicadora e, de preferência, que seja cometido de uma vez só, atingindo apenas a si próprio. Se o seu excesso de batatinhas fritas e gordura vegetal hidrogenada lota os serviços públicos de saúde, onerando a todos, já cabem políticas públicas de esclarecimento ou controle. E se o equívoco de um é induzido pela ignorância ou má fé do outro, com riscos psíquicos sérios, também. Se um pai obrigar o filho a fumar ou descuidar de sua obesidade mórbida infantil apenas por gostar de batatinhas, então cabe intervenção. E há [crimin----] religiosos no Daime que dão essas substâncias alucinógenas às suas crianças - e, pasmem, até mesmo a gestantes. (!!!)

Não vivemos em uma selva. Para os que vivem, aliás, sou a favor do daime, lá no seu contexto amazônico. Nem tenho direito de dar palpite naquilo, lá. Falo de "espiritualistas" bem urbanos que tomam no final de semana, em um contexto completamente equivocado, repetidamente, em nome de uma "iluminação fast food". Ou da distribuição indiscriminada para portares de psicopatologia, sob alegação falaciosa e irresponsável de que "daime cura tudo, e nunca faz mal". Ou dos que são viciados nessa droga e suas alucinações - boa parte mentindo para a família (ou para si mesmos) alegando que a usam para PARAR com as drogas e alucinações.

Também, é claro, o drogado não justifica o traficante, assim como o enganado pelo daime não justifica a ignorância dos responsáveis pelas casas, que lucram com isso (pessoal e financeiramente), e deveriam ser responsabilizados pelo esclarecimento que (não) dão.



Para saber mais sobre o tema, inclusive os esclarecimentos que todo dirigente daimista (responsável) deveria conhecer, acessem: http://migre.me/qmIq

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

Como você encara o neoateísmo de pensadores como Richard Dawkins e Sam Harris?

Eu não os encaro. ;-)

Bem, cada um CRÊ naquilo que pode, quer ou consegue. É direito inalienável de cada um.

O problema é quando a (des)crença de um tenta ser imposta aos demais, tentando anular experiências íntimas alheias, sem nenhuma base maior além da própria descrença. Isso vale para ateus ou religiosos, há fundamentalistas conversores nos dois extremos.

Creio que quem não tem muita certeza de suas posições de risco tenta de todo modo conseguir adeptos, talvez para ter o conforto íntimo da presença próxima de seus convertidos, usados como escudos vivos contra a possibilidade de contato com pensamentos divergentes. Observo isso tanto nos neo-Richard Dawkings quanto nos neo-Edir Macedos.

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

Pergunta ao Lázaro Espiritualista (e não ao Psicanalista). Depois de tantos anos, ainda crê em reencarnação? Porquê?

Creio - ou melhor, de algum modo experiencio - que a vida é bem mais do que experimentamos empírica e sensorialmente. Isso me dá uma certa crença - ou certeza íntima - em realidades transcendentes, das quais (me parece) o que chamo de "eu" faz parte. É mais que suficiente para mim. Nas palavras de Jung, compreendi que Deus é, para mim, uma das experiências (grifo) mais diretas (grifo) que tenho. Não "creio", eu "sei" que Ele existe.

Trabalhando na clínica com sonhos, levantando dados sistêmicos de todas as famílias de todos meus pacientes (milhares) até 3 ou 4 gerações, estudando a nova área da Epigenética (pesquise) nas minhas aulas de Neurociências e Neuropsicanálise na UNIFESP, não tenho dúvidas de que, de algum modo, nossas experiências e acertos não são em vão, e que continuamos vivos naqueles que nos sucedem. Os orientais parece que já sabiam disso há milênios.

Pra mim, tudo isso é mais que suficiente. Vivo o Eu, Aqui e Agora. Tenho experiências de estado alterado de consciência. Só nesse final de semana, recolhido em um Templo em Salvador para a celebração do Equinócio de Primavera, http://casatelucama.blogspot.com , tive várias projeções, ), mas há muito tempo parei de tentar colorí-las e distorcê-las a partir de minhas crenças prévias, espiritualistas ou não. Hoje eu as aceito como são. Chegando lá, tenho para mim que haverá um novo Eu, Acolá e Depois. E nele viverei o Eu, Aqui, Agora de então. Se sou hoje a continuação de uma outra vida é irrelevante a partir do momento em que não a acesso diretamente, e ela não me isenta da responsabilidade de meus atos do dia. Nossa vida "reencarna" a cada manhã.

Sei que muitos tem seus mitos e crenças para explicar - às vezes com "detalhes" de uma certeza religiosa que não passa de aposta - aquilo que todos nós percebemos, cada um em sua prática espiritual ou fenomenológica. Creio que a verdade talvez esteja contida parcialmente em muitos dessas nossos tentativas pobres de explicação daquilo que a memória coletiva e a nossa (suposta) existência perene possam vir a ser, mas acho pouquíssimo provável que "a verdade" esteja integralmente em qualquer uma dessas apostas.

A maneira pela qual concebemos "reencarnação" no Brasil, por exemplo, é bastante curiosa e local, pós-Kardec e pós-Darwin. E tomamos como regra! Para um hindu ou grego antigo, não havia este caráter "espírita" e "mediúnico" nas idas e vindas à roda de Samsara, nem esse conceito de "evolução", tão dependente fisicamente do tempo-espaço (que talvez seja uma experiência mais local do que espiritual).

Portanto, SIM, creio ser altamente provável a continuidade de nossa existência, inclusive como um centro de personalidade consciente. E também, SIM, estou convencido de que a vida é mais coletiva que meu ego (que talvez seja supérfluo à "evolução"), e que minhas experiências individuais não são em vão, por motivos que ainda engatinhamos em perceber. Mas NÃO, por tudo que vivenciei, não estou tão certo assim de que seja na mesma linha temporal crescente, e baseado no mesmo ego, como querem os espíritas. E NÃO, não creio que nenhum dos grupos espiritualistas ou religiosos comumente conhecidos sejam possuidores de uma "verdade absoluta" sobre as coisas que nos transcendem. Embora SIM, eu creia que a verdade (se há uma, e só uma) resida um pouco em cada um dos que a experienciou, teorias religiosas inclusive, e cada um tenha uma explicação poética, simplista e didática para algo que é muito maior, para o qual não temos condições (nem necessidade) de responder sobre.

No fundo mesmo, minha crença pessoal é de que será algo como uma mudança de paradigmas, muito mais simples do que imaginamos, algo que seria impossível de ser pensado daqui, e que a primeira fase que diremos será: "Ah, mas então era ISSO?". Feito uma daquelas aberturas de temporada de Lost, ou finais de filme estilo Sexto Sentido, onde tudo anteriormente fica ridiculamente simples com a mudança de perspectiva, inimaginável até então.

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

Como ter uma vida sexual saudável sem sexo disponível, naquelas fases às vezes bem longas em que não há parceira?

Tá vendo essa mão aí? ;-P

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

Acredita que uma pessoa pode ter experiências de vida que são traçadas ou determinadas previamente por uma força maior (Deus, ou seres mais inteligentes)? "Você vai nascer, e quando tiver a idade X, tal coisa vai acontecer com você."

Mal sei porque estou aqui ou quem de fato Eu Sou, o que poderia eu dizer sobre os desígnios de Deus?

Mas quero CRER que a vida não seja tão determinista assim. Deus não precisa de robôs.

Este foi um bom debate filosófico... na Idade Média.

Livre Arbítrio: http://pt.wikipedia.org/wiki/Livre-arb%C3%ADtrio
Determinismo: http://pt.wikipedia.org/wiki/Determinismo

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

Qual sua opinião sobre os textos de Luis Pondé, publicados na Folha de SP?

Em geral, gosto do Pondé e de boa parte dos argumentos dele. Especialmente os polêmicos ou que vão contra o senso-comum, INCLUSIVE o senso-comum acadêmico que "acha" que é contrário ao senso-comum-comum.

No Seminário Paulopolitano, onde estudei Filosofia, percebi que o Pondé sofre muitos preconceitos e generalizações. Por sorte, tive também professores como o Domingos Zamagna (que utilizava em sala visões do Pondé sobre Estética) e Mauro Araujo de Sousa (autor de Nietzsche Asceta, e que foi orientado pelo Pondé em seu doutorado), que me permitiram ver Pondé com outros olhos, antes que o preconceito acadêmico tentasse me converter.

Agora, cá entre nós, ô perguntinha simplista e genérica esta acima, não? Sei que foi uma pergunta inocente e bem intencionada, mas nas entrelinhas ela embute uma generalização ad hominem que ilustra o que ocorre contra pessoas que pensam como ele.

Tipo, qual dos textos? Se gostar de um, tenho que assinar embaixo de todos? Mesmo ele sendo intencionalmente polêmico e provocador? Ou o contrário: Se alguém um dia se incomodar com uma das quebras de paradigma do Pondé, deve baixar para o nível pessoal e refutar todos seus textos, a priori?

Percebo isso particularmente por ocorrer bastante comigo, que às vezes penso além do senso-comum de algumas áreas onde trafego. Embora eu não seja nenhum Pondé, e no máximo escreva algumas mensagens - despretensiosas e sem edição - em alguns blogs, redes sociais e listas de discussão. Pobre Pondé.






OBS1) Para quem não sabe de quem estamos falando, segue o Lattes deste filósofo, especialista em ciência da religião. Seu currículum fala mais por ele - e por seus temas de pesquisa - do que alguma opinião minha generalizada:
http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4728105J6

OBS2) E aqui seguem-se as íntegras dos artigos dele na Folha, inclusive o último (Religião Sustentável), onde critica a "busca de uma Espiritualidade Light que mais parece a busca de uma marca de jeans". Desta vez, sobrou para o (pseudo) budista pop, um tipo que conhecemos bem nas listas de discussão e grupos espiritualistas - e, mais recentemente, nas rodas sociais e casas da venda do saber: fã (distante) dos Dalai Lamas, classe social média-alta, preocupações "sustentáveis", estilão de terapeuta-pseduo-ativista-light (ou cliente mais light ainda destes), que trata a espiritualidade como... bem, vamos dar a palavra ao autor:
http://integras.blogspot.com/2009/06/artigos-de-luiz-felipe-ponde-para-folha.html

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Como diferenciar aquilo que é questão a ser trabalhada (com possível resistência) e aquilo que é simplesmente divergência filosófica entre analista e paciente?

Com interpretação, oras. Até porque, o paciente não está ali para concordar ou divergir filosoficamente com o analista. Acreditar que se trata de um embate intelectual já pode ser um mecanismo de defesa, tanto da divergência mas até mesmo na concordância. Conheço pacientes que "resistem" concordando com tudo, quase aplaudindo a interpretação, tentando dar um ar acadêmico. É como se dissessem para si mesmos que, por terem concordado, por terem um "bom" analista, não precisariam se transformar. Em geral, estes são OS MESMOS que mais adiante na análise entrarão em resistência igualmente "intelectual". A "racionalização" é um mecanismo de defesa documentado, e é indiferente quando essa se instaura de forma positiva ou negativa.

Provavelmente o analista lhe mostrará seu mecanismo, sua disputa intelectual, ou até mesmo lhe apontará pessoas (pai, irmão) internalizadas, com (ou contra) as quais o embate está se dando. Ou seja, o paciente PENSA QUE está num colóquio intelectual com seu analista, e que com isto está fugindo do comprometimento com a análise, mas na verdade pode estar repetindo a disputa intelectual fictícia que tinha com o pai, com o irmão ou com alguém; OU tentando se isentar da ação fora dali (se já sei em detalhes o que é meu câncer de pulmão, posso continuar fumando; ou como o endocrinologista gordo).

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

Terapia a distância dá resultado? Ouvi no rádio que psicólogos agora estão atendendo via Skype...

Não, não dá o mesmo resultado. Psicanálise à distância é quase uma contradição, em função do setting e transferência. Quem mais adota terapia à distância são as terapias do ego, as cognitivo-comportamentais e as terapias alienantes, bem como os "vendedores de conselhos". 

Psicanálise séria não é isso, e depende da análise da transferência, em ambiente isolado. Como o paciente chega, como se porta, como se dá a relação "esterilizada" com o analista em uma sala diferenciada. Isso fala mais do funcionamento psíquico da pessoa do que a própria "história" que ela conta (que muitas vezes é parcialmente falsa, ou encenação, o que não importa). 

Portanto, quem faz esse tipo de atendimento faz no máximo "aconselhamento", ou venda de auto-ajuda personalizada à distância. Isso não é nem 5% das possibilidades clínicas. Em um caso de emergência, poderia até ser, excepcionalmente. Mas sabendo que se trata de counseling raso e pontual (como nos serviços de escuta), não dispensando jamais as práticas clínicas e transferenciais.

Há mais um fator, que é o do clientelismo, da concorrência desleal. Psicanalista não é verdura na feira. A escolha do analista é parte da relação de cura, e ela precisa poder fazer isso livremente, por identificação psíquica, algo quase "inconsciente". A oferta de atendimentos "fáceis", à distância ou (predatoriamente) "promocionais" na verdade PREJUDICA a todos, inclusive aos pacientes, uma vez que interfere bastante na possibilidade de livre escolha dele. Alguém que já está resistente sempre preferirá algo descompromissado e à distância do que algo que lhe peça envolvimento, tempo, esforço. Nesse sentido, a terapia pode estar agindo em sentido contrário ao que deveria.

E se eu ofereço aqui em São Paulo terapias via internet, estou fazendo concorrência desleal aos meus colegas de Salvador, de Quixeramobim, de Lages, de Caixas do Sul. Estou desincentivando as pessoas de várias cidades a procurar profissionais para estabelecer uma relação analítica autêntica e compromissada! A pergunta é PORQUE EU FARIA ISSO, se sou um bom profissional, o que implicaria em agenda cheia? Será que estou tão sem clientes assim? Porque será? Talvez por isso, em geral, quando alguém me mostra um "terapeuta" que faz "psicanálise e psicologia" à distância, eu geralmente mostro alguém recém-formado, ou com mais tempo livre do que alguém competente e bem-indicado costuma ter.

Há exceções, claro. Mas elas são ocasionais. Por exemplo, um estudante de psicologia do interior do Mato Grosso que precisa de um supervisor clínico com base junguiana E winnicottiana; ou uma ex-paciente minha que acaba de se estabelecer em outro país, ainda com barreiras linguísticas, financeiras e culturais, mas já precisando de atendimentos eventuais.

Há anos estudo um modo de fazer atendimentos à distância, devido à grande procura. Mas como sou criterioso, o fato de há anos eu não ter resolvido todos os problemas envolvidos me parece um sinal de que a maioria dos que "atendem à distância" estão em geral mais preocupados em clientelismo do que em preservação do setting. Como quero crer que sejam bem intencionados, imagino apenas que SEQUER lhes ocorreu pensar em 0% dos alertas sérios que problematizei. Isso não me parece um bom sinal.


Sei exatamente para onde eu vou depois de morrer: para uma terra que existe em um livro que eu li, gostei de lá, quero morar por lá qdo desencarnada, vou adorar. Mas as pessoas acham que não é uma opção espiritual válida. O que vc acha? Eu acho que é!

Eu "acho" que seja a sua crença. Íntima, pessoal, inalienável. É direito seu. Ou no mínimo seu "desejo", a melhor opção dentre as que leu. Temos o direito de imaginarmos o que quisermos para a nossa vida, e mais ainda para o que está além dela.

Não sei se as coisas por lá funcionam assim , na base do "gostei de lá, quero morar por lá, vou adorar". Aqui na Terra, não funciona exatamente assim. Gostei muito de umas casas de Ilha Bela, adoraria morar lá, mas ainda não consegui. Há muita gente espiritualista (séria) que diz que as leis do lado de lá são mais parecidas com o lado de cá do que gostaríamos.

Nesse caso, não posso garantir que seja assim porque você quer que seja assim. Mas concordo que, do lado de lá ou de cá, querer, desejar, acreditar já é um ótimo começo. Nem sempre acreditando, desejando, investindo e perseverando conseguimos tudo aquilo que queremos. Mas em geral, as que conseguem souberam acreditar, desejar, investir e perseverar. Você não precisa abrir mão da sua fé.

Outra coisa distinta é o que vem a ser "opção espiritual". Para mim, não é o mesmo que crença ou fé. Simplesmente acreditar que vai para um lugar lindo não é "espiritualidade", pois essa é feita no eu, aqui e agora. Com ou sem fé em algo depois. Talvez seja isso que as pessoas estejam querendo lhe dizer. Independentemente do que você acredite que ocorrerá no futuro, faça sua espiritualidade (ou opção espiritual) aqui e agora. No hoje. Quando chegar o dia de estar lá, onde quer que seja este lá, faça o mesmo, e viva bem o momento presente de então. Isso é espiritualidade, bem mais do que acreditar em algo... ou não.

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Já vi você comentando, caso o paciente tenha interesse, sobre a utilização do I Ching ou Tarot na terapia. Como introduzir/anunciar isso na psicanálise? Seria necessário algum curso de Jung para melhor enfoque/proveito? Indicações aqui em SP de Jung?

1) Se o terapeuta utilizar ferramentas deste tipo, não se trata mais de psicanálise. Sem julgar a veracidade do que um instrumento divinatório qualquer possa (ou não) dar, a questão é até de MÉTODO: Psicanálise implica em interpretação do conteúdo do paciente. Ou seja, não é o analista quem "diz" algo de novo, ou "dá conselhos", pois se fizesse isso (mesmo que via uma ferramenta, ou uma suposta conexão espiritual), quem estaria falando seria o inconsciente do terapeuta, e não o do analisando. Ou seja, psicanalista não tem como dar sequer "conselhos", pois ele não é "terapeuta", "conselheiro", "mestre ou "clarividente" ali (mesmo que seja em outro lugar), e sim "analista". Ouve, interpreta. Sua opinião não conta, mas sim sua interpretação.

O problema é que ferramentas divinatórias, métodos alternativos, curas espirituais, clarividências e afins IMPLICAM em fazer valer algo que o terapeuta sabe, ou acha que sabe, e o paciente não. Muda o foco. Vira, de algum modo, uma venda de conselho: seja baseada na sabedoria, espiritualidade ou experiência do consultor; seja na crença em alguma energia ou presença espiritual inerente à egrégora ou ao instrumento.

PARTICULARMENTE, gosto de algumas ferramentas divinatórias e conheço alguns coordenadores espirituais de grande sabedoria e, na minha visão, profunda conexão com o transcendente. Eu mesmo tenho minhas crenças e práticas, extra-consultório, em fórum íntimo. Mas aí não se trata mais de psicanálise. Um psicanalista pode ser católico ou protestante - Freud era judeu - e é claro que não fará seus cultos dentro da sessão analítica. Do mesmo modo, não há nada incompatível em um psicoterapeuta ser espírita, espiritualista, pagão, budista, hinduista, devoto do candomblé ou o que for. Desde que, é claro, não baixe o santo nem se denomine "o médium", "o clarividente" ou o que for no meio da sessão, nem saia dizendo que está "sentindo" que o problema do consulente é tal.

2) Dentro das possibilidades transpessoais e para-junguianas, em campo já longe da psicanálise, alguns profissionais se utilizam de ferramentas divinatórias em clínica - tais como astrologia, i-ching e tarot - como instrumentos de (suposta) prospecção, ou interpretação de sincronicidades. Crer nisso implica na aceitação de alguns pressupostos além de Freud, e que já tocam mais em sincronicidades, arquétipos, símbolos e inconsciente coletivo (mais típicos da psicologia analítica de Jung).

Ainda assim, um profissional mais sério (em psicoterapias) que opte por utilizar desses instrumentos precisa ter um cuidado metodológico maior que a média para não substituir a interpretação pelo acaso. Ou seja, um astrólogo mais junguiano pode optar por partir sua investigação do inconsciente das informações que um mapa astral (supostamente ou fenomenologicamente) lhe daria sobre o paciente, acelerando o processo. Mas a partir daí, a necessidade de análise e interpretação continuariam do mesmo modo, a partir da identificação ou recusa do consulente em relação a cada uma das "previsões" apresentadas. Lembrando sempre que se por um lado há bons profissionais que trabalham deste modo, seja por sua base junguiana (seja por sua sensibilidade em particular, seja por algum outro meio que não conheçamos ainda), de todo modo ISSO NÃO É MAIS PSICANÁLISE.

3) Cursos de Jung não ensinam ferramentas divinatórias. Pelo menos não os mais sérios. Há muita confusão a esse respeito. Jung não era um tarólogo ou esotérico, até onde saibamos. Ele era um médico e investigador do inconsciente, apresentando seus resultados da maneira mais científica quanto possível para a época e tema, e trabalhando com a psique, com a loucura e com o fenômeno espiritual, INVESTIGAVA também as causas de "coincidências" estranhas, "sincronicidades", alguns estados alterados de consciência e a repetição arquetípica de certos padrões. Entender como isso ocorre em um mapa astral ou tirada de I-Ching é assunto junguiano, inclusive academicamente. Já se tornar um tarólogo, astrólogo ou mestre taoista, certamente não. Nada contra, mas o próprio Jung nos lembrava que nosso compromisso é com pacientes neuróticos ou psicóticos da clínica, no campo da psicoterapia. Segundo ele, podemos OBSERVAR fenomenologicamente certas ocorrências, e até dar conta delas, mas suas "explicações" não seriam de nossa competência ou responsabilidade, cabendo mais deixá-las, segundo ele, "para a filosofia, para a parapsicologia ou mesmo para a teologia". Ou seja, ele admitia a existência de questões metafísicas influenciando a psique, mas entendia que o clínico não precisaria (ou deveria) se adentrar na suposta CAUSA (provavelmente incognoscível) desses fenômenos, sendo mais sensato *considerá-los* (não descartá-los) e interpretá-los a partir de como se apresentam e do que parecem (simbólica ou metaforicamente) querer dizer.

O que ocorre é que grupos esotéricos, divinatórios ou místicos, querendo dar um "ar acadêmico" (pseudo-acadêmico) às suas crenças e práticas, muitas vezes se APROPRIAM do pensamento do Jung, que parece mais próximo de suas crenças do que outras correntes da psicologia. Há quem faça isso com uma certa inocência reducionista e boa intenção, apenas por ignorância do que Jung realmente seja, embora alguns façam isso de má fé mercantilista. Mas em geral, a idéia é que "ah, se ele fala de inconsciente coletivo e sincronicidade, então aí há uma possibilidade de que aquilo em que eu acredito tenha uma explicação possível, no terreno junguiano". Sim, há a POSSIBILIDADE (se há inconsciente coletivo, TALVEZ alguma telepatia seja possível, em ALGUNS casos), mas o erro é pensar que apenas por isso já seja uma CONSTATAÇÃO ou ENDOSSO de QUALQUER COISA que se praticar ou acreditar. Equívocos semelhantes ocorrem também em relaçao à física quântica: Não é porque uma partícula subatômica possa aparentemente desaparecer ou parecer estar em mais de um lugar que eu possa atravessar paredes, nem "provar cientificamente" que aquilo que eu pensar IRÁ se realizar, só porque PODE SER que se realize.

Portanto, se você vê um esotérico que se pretenda sério (seja ou não), ele provavelmente tentará alegar a teoria junguiana (ou até a física quântica, risos) em seu favor. Mas isso não quer dizer que a teoria junguiana em si (e menos ainda a física quântica) sejam escolas de ferramentas e práticas esotéricas. Sérias ou não.

4) A UNIP está com uma pós graduação em Jung que parece bem razoável. Pesquisando na internet, encontrei também há algum tempo uma especialização em Jung com Waldemar Magaldi, na Vila Mariana, reconhecido pelo MEC e formando psicoterapeutas junguianos. Não o conheço, mas o discurso e o programa me pareceram sérios e consistentes. Avaliem por vocês mesmos: http://www.ijep.com.br/index.php?sec=cursos&id=10&ref=psicoterapia-junguiana#conteudo

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

sábado, 10 de setembro de 2011

Se estamos passando por um período de resgates cármicos, encontrando pessoas de outras vidas, com as quais ainda temos alguma dívida, o que fazer para arrumar isso, e como saber o que fazer? Pode ser apenas fazer amizade e viver sem brigas?Pedir desculpa?

Há perguntas que mais afirmam uma crença do que de fato perguntam algo. O problema é que elas já de algum modo embutem a "resposta" que o perguntador espera, pois elas condicionam e delimitam quem responde ao paradigma do entrevistador, já que é nisso que ele acredita - mas não necessariamente o entrevistado.

Por isso, entendo que essas perguntas sejam, de algum modo, uma tentativa de adesão do entrevistado à causa ou crença do entrevistador, ou de ajudá-lo a ter mais convicção de crenças (que são particular, inaliável e intransferivelmente suas), ou no máximo um teste para ver se o entrevistado comunga das crenças do entrevistador. Nenhum destes três propósitos é o meu objetivo nesse espaço.

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

sábado, 3 de setembro de 2011

Ter armas em casa (seja revólver, espada, etc) ou ter que trabalhar com elas (no caso de policiais ou praticantes de esportes) pode trazer algo de negativo para quem as usa? Só o fato de uma arma ser concebida para causar dano já cria uma "egrégora" r

Já leu o Baghavad Gitá?

Entendo que o policial ou segurança que precisa usar uma arma no exercício de sua função apenas cumpre seu dharma (missão de vida, ocupação, realização), como Arjuna. Realiza seu papel no mundo, um papel importante e justo, mesmo que um dia precise usá-la.

Já quem tem arma em casa por "suposta" segurança, não está cumprindo seu dharma. Ao contrário, ele a possui por imaginar mentalmente uma situação crítica e negativa. E pior, reagiu fisicamente (comprar a arma) a uma situação infeliz que criou em sua própria cabeça. Não é de seu dharma matar. Mas é uma atitude (karma) comprar a arma, já prevendo intencionalmente a consequência (karma, ação e reação).

A arma não "cria" uma egrégora. O conceito de egrégora implica em uma série de pessoas fazendo uma atitude por uma série de tempo, uma espécie de holopensene coletivo (pensamentos+sentimentos+energias), a ponto daquilo criar uma instância "protetora" da sua existência. Pelo conceito espiritualista, o comprador da arma tem um holopensene, mas não uma egrégora. Ele talvez ALIMENTE uma espécie de "egrégora negativa", um arremedo de egrégora, mas chamaríamos isso mais de um holopensene coletivo, que não é o mesmo que egrégora (que religiões e ordens tem). Em termos populares, ele entra na "onda baixo astral" paranóica e coletiva em que tanto Datenas quanto bandidos quanto telespectadores sintonizam e alimentam, um mundo mental bárbaro onde todos devem matar e morrer, onde perigos persecutórios estão para todo lado. 

Do ponto de vista espiritualista e energético, não seria surpresa se os telespectadores desse tipo de programa ou compradores de armas de fogo atraíssem mais assaltantes que a média, afinal, eles se retro-alimentam mentalmente, e comprar uma arma pensando em matar alguém (ainda que em suposta defesa), além de ser "karma", também é uma maneira de aumentar uma suposta guerra cada vez mais mortal. Quanto mais riscos de armas em casas, pode estar certo que mais agressiva e fatal precisará ser as ações dos bandidos. 

Então, pela lógica espiritualista, dentro das crenças desse paradigma, SIM, ter armas em casa seria algo negativo, e poderia até mesmo atrair coisas ruins. Já usá-las como parte de uma profissão necessária e de interesse coletivo, não, até mesmo ao contrário, pois nesse caso sim, as corporações teriam a sua "egrégora" protetora (aí sim egrégora de fato, e não apenas um holopensene coletivo e negativo).

Por outro lado, de acordo com o pensamento de algumas linhas budistas, perguntar-se-ia porque a intenção de trabalhar em algo que causa dor ao semelhante. No caso do policial, a intenção do dharma é proteger. Mas trabalhar em uma indústria de armamentos, por exemplo, mesmo indiretamente, não seria o que chamam de "trabalho lícito". Na medida do possível, o adequado seria ter ações - no amor, no trabalho, na vida - que evitem causar sofrimento aos semelhantes. O dharma de um bom policial seria uma (boa) excessão, que não deveria ser usado para justificar a posse de armas por cidadãos comuns - até exatamente por já haver pessoas preparadas para exercer esse dharma.



Tenho medo de dentista! Muito medo! Mas meu dente doi... oque eu faço????

Como diria Gandhi: "Vá ao dentista! E pare de comer açúcar..." ;-)

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

Qual é a religião mais reacionária o catolicismo do Papa Bento XVI ou a conscienciologia do médium pangráfico Waldo Vieira?

Há perguntas que parecem querer mais afirmar ou impor algo do que de fato perguntar. Caberia ao "perguntado" apenas confirmar de algum modo o Plurium Interrogationum falacioso. Não as respondo, por humildade: pelo jeito é o perguntador que sabe a sua própria resposta, não eu. O que mais eu poderia acrescentar a ele? Sugestões de pontuação?

Eu considero a conscienciologia uma estrutura neo-religioso-dogmática em muitos aspectos, mas certamente isso não tem a concordância de seu fundador e membros. Portanto, a comparação tornar-se-ia improcedente desde a palavra "religião". O catolicismo é uma religião de fato, não uma caricatura. Tem séculos de atuação, bilhões de adeptos ao longo da história. Muito reducionismo generalizá-lo, ele é de fato "católico", universal, há centenas de ordens, inúmeras formas de ser católico, algumas se aproximando dos grupos protestantes neopentecostais, outros parecendo ritos medievais, alguns com vida monástica, comunidades, retiros, liberalismos, conservadorismos: impossível generalizar apenas por usarem a mesma liturgia.

O catolicismo como concebo não é "do Papa", nem do antigo Ratzinger, um teólogo de posições mais conservadoras, às vezes radicais, mas ainda assim teológicas, baseadas em conceitos da filosofia da religião. A única comparação possível é que Waldo Vieira é igualmente radical, e fim. Waldo não é necessariamente conservador ou "religioso", não demonstra maior preparo ou formação filosófica ou teológica. Waldo apenas estipula o que Ele acha certo (ou até mesmo necessário) para uma minoria exótica de seguidores, boa parte deles afastados de suas vidas e cidades originais. Um "Vale do Amanhecer" da Cultura [Racional] Consciencial.

Ora, há movimentos assim em Planaltina, São Tomé das Letras, Mapiá, Alto Paraíso, Porangaba, Trindade, Figueira...  Discirnam por vocês mesmos: Que nome dariam a isso se as crenças fossem de outros pastores e gurus? Não me parece acaso Waldo Vieira dedicar diversas páginas de seu "Livro Branco - 700 Experimentos" para atacar esses seus espelhos e concorrentes co-irmãos. Waldo acaba criando sem querer um enorme corpo dogmático, bastante dependente de sua pessoa. Um novo Trigueirinho ou Osho, sem 1% do alcance de seus rivais. Pior: os gurus ao menos repousavam em antigas tradições e religiões, assim como um papa poderia no máximo dar um tempero seu a uma boa e grande religião já existente. Waldo, ao contrário, parece negar e invalidar toda e qualquer religião, dogma ou rito - toda - o que paradoxalmente acaba sendo uma forma de afirmar a sua própria "religião".

Mas se sobram dogmas e exigências de Waldo a seus crentes e militantes virtuais, falta à conscienciologia tudo ou quase tudo que faz com que TODA religião seja boa. Os dogmas e imagens são apenas a camada primeira das religiões, mas muito mais importante que isso, há a possibilidade de uma vida simbólica (indispensável ao homem, segundo Jung), há toda uma consciência e tentativa de comunicação com o transcendente (que a conscienciologia reduz a tecnicismo metodológico-fenômenológico), há um fortíssimo senso de compaixão e empatia, há sempre toda uma preocupação ética e moral, há sempre um trabalho em favor de utopias de amor e paz, há um certo respeito e submissão ao divino, há um forte caráter filosófico-existencial, e a lista seria imensa...

Observando tudo isso que qualquer religião faz, mas a conscienciologia não, podemos CONCLUIR que TODA religião é boa, em algum nível... Mas que, infelizmente, apesar de ser bastante dogmática e meta-religiosa, a conscienciologia não é, de fato, nem mesmo uma religião.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Você sabe me explicar como fazer para entrar em contato com meu mestre interior ou o sagrado anjo guardião ? Beijos

Faça menos barulho com a mente, neuroses, paixões e desejos. O coração sempre está tentando falar conosco e nos conduzir de volta ao caminho de nossa felicidade e auto-realização - só que ele fala baaaiiixxxinho, e pouquíssimos fazem o silêncio interno indispensável para escutá-lo.

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

Você acha que vale a pena procurar um "professor" em alguma tradição meditativa ao invés de praticar meditação sozinho? Quando os benefícios superam os problemas que essa relação pode trazer?

Evidentemente, em qualquer área de qualquer coisa, quem dedicou-se especializadamente a algo por mais tempo e ainda se dispõe a repassar o conhecimento SEMPRE pode ter algo a ensinar àqueles que tiverem a humildade de aprender. Eu entendo que um guru seja excelente para aqueles que precisam de um guru, e péssimo para aqueles que não precisam de um guru. Qual a sua necessidade, só você poderia dizer.

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

A capacidade de ver aura auxilia nos nos seus tratamentos?

Não.

O papel de um analista NÃO É o de fazer julgamentos sobre o paciente. A minha "opinião" - natural ou paranormal, dedutiva ou preconceituosa, material ou espiritual - sobre a aparência da pessoa analisada NÃO IMPORTA. Por mais que exista. Aliás, seria um desrespeito utilizá-la, supondo que nem sempre seria favorável. O paciente tem o direito de ser aceito integral e incondicionalmente AO MENOS ALI.

Além do mais, religião e crenças são assuntos de fóro íntimo. Se um psicanalista tem o direito de ser católico, ateu ou judeu, também o tem de ser espiritualista ou o que quiser ser. Desde que, em todos esses casos, a crença dele (ateísmo inclusive) não adultere o trabalho de observar e interpretar o que o paciente traz de seu inconsciente (fenômenos ditos espirituais inclusive). Observe que um suposto julgamento meu acerca da "aura" do paciente não seria exatamente algo que ELE trouxe, dentro do simbolismo DELE.

Evidentemente, o fato de eu ser espiritualista, ter especialização em filosofia da religião, conhecer de mitologia e de várias manifestações religiosas e espirituais facilita (e muito) o meu diálogo com pacientes que usem ELES essas linguagens. Consigo perceber o que há por detrás de certos simbolismos de sonhos e visões (do paciente!), uma vez que sei o que estes significam em seu contexto. Isso me dá um diferencial sobre psicoterapeutas não espiritualistas e não religiosos quando preciso lidar com substratos inconscientes presentes na fenomenologia religiosa e espiritual. Tendo percorrido bastante esses caminhos, também tenho alguma capacidade de discernir entre o que é mais fantasioso, o que é mais simbólico e o que parece ser mais transcendente de fato. Mas isso não quer dizer que EU vá "receber o santo" em meu divã, risos, ou sair adotando "tratamentos" mágicos ou "mediúnicos" em que o MEU inconsciente substituiria o do paciente. Espiritualista ou não, sou o ANALISTA; o papel de analisado e produtor de material inconsciente é dele.

Se eu "acho" algo, devo tratar isso em MINHA terapia. Não sou um personal-vidente ali, e mesmo se fosse, a PIOR coisa que um psicoterapeuta pode fazer é dar conselhos e dicas para a vida alheia. Quando isso ocorre, há dois neuróticos na sala, o que confia sua vida à subjetividade de alguém (mesmo em um espaço onde foi teoricamente para conhecer a SUA própria)... E o outro, pior ainda, que se alimenta da dependência alheia para se sentir "o" conselheiro, "o" vidente, "o" resolvedor de problemas, "o" oráculo psíquico e espiritual "profissional". Teríamos dois casos graves de baixa-auto-estima em conluio.

Deixemos esse tipo de intervenção para a religião e para os amigos. Ambos tem papel importantíssimo na nossa vida, conselhos tem seu lugar. Mas isso não pode nem deve invadir o setting terapeutico, onde o que acontece é OUTRO TIPO DE TRABALHO, mais parecido com um espelho. O analista interpreta, traduz o insconsciente para o consciente, mas o tema precisa ser aquilo que o paciente for capaz de enxergar.

Sei que há alguns "terapeutas" que se aventuram em vender sua espiritualidade ou supostos poderes paranormais durante o tempo da sessão. Não quero julgá-los, mas entendo que isso não seja psicanálise, nem psicologia junguiana, nem nenhuma psicoterapia validada e comprovada, devendo ser encarada mais dentro do terreno da religião e "terapias alternativas" do que da psicologia e psicanálise que dialoguem de modo sério com o transpessoal.

Quero deixar registrado que religião é importante, mas não substitui a terapia séria ou psicanálise, especialmente para quem dela PRECISA. Nada contra quem crê ir buscar um médium, uma religião, um tarólogo ou um vidente para certas questões, só não o chamem de psicoterapeuta.

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

Em sua vida, há algo que aprendeu apenas com a idade, com o passar do tempo? Há algo que gostaria de ter feito, caso tivesse a cabeça que tem hoje, porém em corpo mais jovem?

Experiência é um pente que te dão quando você já está careca, é um farol de milhas que instalam na traseira do carro apontando para a estrada que já passou.

Evidentemente, gostaríamos todos de ter mais maturidade emocional na juventude. Fico pensando como poderia ter sido minha vida, meus amores, minha carreira, minha família, meu patrimônio, minhas realizações se eu tivesse apenas uns 10% a mais de maturidade emocional para o óbvio, para o que já estava em meus sonhos, para o que meu inconsciente já apontava e eu não via. Mas isso é o problema de todos, e isso é o tipo de coisa que descobrimos em terapia.

Por isso, a única coisa que desejaria MUITO ter feito 10 ou 20 anos antes era psicoterapia séria. O resto seria consequência. Perdemos muito tempo tentando perceber o óbvio que no fundo já sabiamos. Há questões infantis que só resolvi há pouco tempo, outras talvez eu nem tenha descoberto ainda. Não era necessário perder tanto tempo com algumas. Dá para descobrir isso aos 50 ou 80 por si só, mas eu preferiria ter feito terapia aos 20 e usado esse tempo vivendo para MIM - e não tanto para o desejo do Outro.

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

O que acha deste recado de deus para os psicanalistas? Deuteronômio 13:6-12 Quanto ao profeta ou intérprete de sonhos, deverá ser morto, porque propôs uma revolta contra Javé seu Deus. :)

Fique tranquilo, este não é um recado de Deus, e sim de Moisés, o (suposto) autor do citado livro. Pelo jeito, Moisés mataria até mesmo José do Egito, famoso intérprete de sonhos da mesma Bíblia, poucos livros atrás.

Creio que os crentes do Estado Cristâmico demorarão a cumprir a ameaça e matar os psicanalistas. É que se seguirem as instruções do Pentateuco de Moisés, precisarão matar antes vários outros tipos de pessoas, inclusive os estrangeiros, membros de outras crenças, pessoas que aparam a barba, quem come moluscos e todos aqueles que trabalham no sábado, vide:


(Se bem que agora fiquei preocupado, pois sou psicanalista, interpreto sonhos, uso cavanhaque aparado, atendo aos sábados, não sou judeu, adoro frutos do mar e nasci em outro estado...)


Num caso de depressão leve, onde há muita tristeza, muito choro e negatividade (parcialmente justificável) mas ainda é possível trabalhar e levar o dia a dia, você acha que há necessidade de medicação? Estou cansada de ser triste todo dia.

Quem disse que a depressão é leve ou pesada, e por qual critério? Há um diagnóstico e acompanhamento médico/psicológico? Se não há, como dizer os limites e intensidade de sua depressão? Lembrando sempre que uma das coisas mais traiçoeiras sobre doenças psíquicas é que elas, por definição, quase sempre alteram o juizo do doente sobre seu próprio quadro e sintoma. Assim como não é quem bebeu que pode dizer se está apto ou não a dirigir, do mesmo modo as avaliações psicológicas alheias costumam ser mais seguras do que as nossas. O que as pessoas que gostam de você estão lhe dizendo (ou diriam) sobre seu quadro e comportamento? E os profissionais?

Se você tem MUITO choro e negatividade, pode ser que esteja deprimida. A questão é quanto isso lhe incomoda, que prejuízo isso lhe traz, e há quanto tempo está nisso. O sofrimento é proporcional ao motivo? Até que ponto ele está cumprindo a função da tristeza, que é de realizar um certo luto e reavaliação para não incorrer nos mesmos erros passados OU para renovar forças para o novo período? Ou ele já passou do ponto, e tornou-se um ESTADO de ser, já recursivo? O que você tem feito para mudar? Não dá para fazer uma avaliação por aqui, mas faça a você mesma essas perguntas, lembrando que TRISTEZA pontual e justificada não é o mesmo que DEPRESSÃO, que já envolve um certo estado de consciência, um HUMOR "deprimido", uma falta de motivação generalizada.

Sou completamente a favor de medicação quando a medicação é necessária, e sou completamente contra medicação quando medicação não é necessária. Parece óbvio, mas poucos seguem essa regra, que implica em atentar para o fato de quem define a NECESSIDADE de MEDICAÇÃO são profissionais especializados - e nunca um amigo, nem uma ginecologista, nem um clínico geral, e MUITO MENOS a própria pessoa!

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

Freud esta obsoleto? A psicanalise se renovou desde Freud? Ou algumas coisas se constataram e outras foram descartadas? O quanto Freud acertou e o quanto ele errou segundo as pesquisas atuais como a Neuropsicanalise?

- Freud era um gênio em seu tempo. O que ele descobriu não está "obsoleto", ao contrário. Mas seu campo de observação não englobava tudo, e precisava ser acrescido das futuras descobertas neurológicas, como ele mesmo advertiu.

- A Psicanálise se renovou bastante desde Freud. Klein, Bion, Winnicott, Lacan... Mesmo Jung, que parte de bases psicanalíticas e do inconsciente. Vejo grupos psicanalíticos bem contemporâneos e atualizados na USP, PUC e UNIFESP. Sem falar nos renovadores explícitos, transdisciplinares, como Gilberto Safra e o Grupo de Neuropsicanálise. Mas isso não quer dizer que todos os psicanalistas, institutos e sociedades psicanalíticas tenham se renovado. Muitos querem fazer de Freud mais um tabu do que um tótem, e agem como se a clínica, o profissional e a sociedade ainda fossem as de 1920. Não são. Como em toda área, autor ou mesmo religião, há os mais ortodoxos e fundamentalistas que se apegam literalmente ao que as obras de referência dizem, impedindo qualquer progresso e alteração; e há os mais heterodoxos que lêem os clássicos para entender o método do autor, continuando ou atualizando sua obra.

- Freud não é um santo ou profeta, apenas um observador fenomenológico da psique. Sorte nossa que ele não tinha ressonância magnética e neuroimagens. Ele relatava, anotava, teorizava sobre o que observava. E em relatos assim, os critérios de "certo", "errado" e "comprovável" não se aplicam tanto. Alguns de seus juizos são estranhos, certamente (inveja do pênis, por exemplo), outros talvez sejam contaminados por suas crenças e época. Mas não há erro em relatar algo, e se ele vivesse hoje, talvez relatasse ou concluísse outras coisas, uma vez que a psique coletiva parece ir mudando aos poucos, embora a meu ver mantendo algumas estruturas mais arquetípicas. Os (pseudo) cientistas de hoje nem sempre compreendem isso, um erro a meu ver de método filosófico. Se Freud fala em "superego", como estrutura funcional observável, alguém mais reducionista quer "encontrar" um superego passeando pelo cérebro e acenando para o tomógrafo. Freud deixou claro que não era essa a idéia ou o conceito dele, mas essa parte poucos lêem.

- Neuropsicanálise é um termo que pode ser compreendido em algumas abordagens. Se você a usa como Mark Solms, ela de algum modo estaria ali para comprovar ou endossar neurocientificamente as posturas de Freud. Não penso assim, e os grupos que conheço também não. Embora os trabalhos de Solms sejam muito relevantes e pioneiros, há outras frentes que tentam levar a Neuropsicanálise para ALÉM dos limites da neurociência E DA psicanálise, ou seja, que a vêem como uma NOVA área que não pode ser tão reducionista quando uma neurociência que não enxergava a complexidade da psique, nem tão reducionista quanto uma psicanálise ortodoxa que não enxergava as implicações das descobertas da neurociência ampliando aquilo que Freud só podia conhecer por observação.

você é mesmo herege?

O que você chama de herege? Deus está mais presente em minha vida, pensamentos e atitudes do que na da maioria dos que se dizem religiosos. Ética e amor, também.

Se o que chama de "heresia" é o significado original do termo, "escolha", capacidade ou possibilidade de questionar o senso comum, então nesse sentido sim, todos os filósofos são "hereges" por definição - inclusive (ou principalmente) os filósofos cristãos. Se por outro lado usa o termo como nos tempos da Inquisição, designando membros de correntes alternativas do cristianismo, subversões alternativas ao pensamento dominante, creio que não se aplique a mim: não me reduzo a esse jogo de poder e crença entre os "oficiais" e "opositores". Um membro de heresia, nesse sentido, quer de algum modo ser a oficial, tem também seu dogma, ainda que contrário. Não é meu caso, não quero disputar nada, nem levar "verdade" pronta minha para ninguém. Mas se por "herege" entende o que o senso-comum chama, uma espécie de rebeldia atéia ou anárquica, então não, não sou herege. Meus pensamentos giram ao redor de Deus, e Ele é para mim uma experiência direta, íntima, alienável. Não há "heresia" por não haver competição com nada ou ninguém. Talvez isso incomode quem preferia que eu fosse de uma certa ortodoxia, espiritualista ou cristã. Esses talvez me chamem de "herege" por eu ousar falar de ou com Deus sem (necessariamente) adotar os mesmos pastores. Eu relevo, pois eles não sabem de minhas experiências íntimas - nem o que o termo "herege" quer dizer.

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

terça-feira, 26 de julho de 2011

Posso me livrar de alguma compulsão sem terapia somente tentando me controlar?

Talvez sim. Mas não gosto muito da palavra controle, que presume um tremendo esforço, não raro com recalques. Ora, muitos dos problemas que tratamos em terapia vem justamente da tentativa de controle. Portanto, quando se trata de inconsciente - e não me parece que ninguém queira ter neuroses e compulsões conscientemente - pode ser que "controle" seja muito mais o problema do que a solução.

Além do mais, sua pergunta não dá detalhes do caso. Há vários tipos e graus de compulsão, com possibilidade de prejuízos funcionais ou sociais. Parece haver uma relação entre transtornos obsessivos e compulsivos e um baixo nível de serotonina, e alguns casos se beneficiam de alguns inibidores seletivos da recaptura da serotonina, de acordo com orientação médica adequada. Se a compulsão lhe traz prejuízos funcionais, sociais, sexuais, alimentares, de saúde ou de qualquer tipo, convém sim procurar profissionais adequados. Para que prolongar o desconforto, se houver possibilidade de tratamento, seja psicoterapêutico e/ou farmacológico? O esforço despendido em tentar "controlar" poderia ser utilizado em outras coisas. Ser feliz, por exemplo. Ou realizar melhor os próprios projetos. Mas não tenho conhecimento do caso para dizer o que melhor se aplica a você.

Ainda assim, a resposta é "sim", se não for através de tanto "controle". A psicanálise tem só 110 anos; e o homem, 200.000. Quero crer que possamos sim nos resolvermos por nós mesmos. Entretanto, uma orientação psíquica adequada (psicoterapia, espiritualidade, etc, de acordo com o caso) pode acelerar em MUITO alguns estes processos, economizando muito desgaste, tempo, dinheiro, desilusões.

Entendo o analista, pelo menos o junguiano / espiritualista, como uma espécie de substitutivo funcional dos antigos xamãs e gurus, só que numa acepção mais profissional e libertadora do que geradora de dependência religiosa. No ambiente das grandes cidades, nos problemas usuais de nosso mundo neurótico, é o analista que reintegra o homem ao seu inconsciente, que devolve o significado de sua vida simbólica, que promove o encontro com a vida interior, que ajuda na interpretação dos sonhos e dos sinais, que facilita a percepção de insights, que quando necessário conduz o "iniciando" urbano aos porões mais sombrios de sua psique, fazendo-o enxergar tanto suas deslealdades internas quanto seus mais escondidos potenciais.

Costumo dizer, brincando (mas nem tanto), que psicanalista não é o mesmo que psicólogo nem terapeuta, e que a maioria das pessoas vai ao "terapeuta" (sic) para sair se sentido "melhor"; mas que em sessões de psicanálise, algumas vezes sucesso é quando o paciente chora ou sai "pior", isto é, quando enfim consegue tocar nas questões que, não raro, gostaríamos de esconder até de nós mesmos.

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Sua constante ponderação atual para falar sobre fenômenos espirituais/metafísicos que antes eram tratados com naturalidade tem a ver com a preservação de uma imagem acadêmica, de não parecer estranho entre outros filósofos/terapeutas do seu círculo?

Gargalhadas, claro que não, rs. Respondo com base no que acredito, no que vivencio, no que percebo em clínica. Não tenho escritos "acadêmicos" aqui. Me parece natural, na vida de mim e de muitos, que quanto mais se estuda e vive, mais incertezas temos; ao mesmo passo que não é difícil perceber que quanto menos segurança e conhecimento, mais certeza absoluta teremos dos nossos objetos de fé. Isso é mais verdadeiro ainda em filosofia.

Se eu for escrever um artigo acadêmico específico sobre fenômenos espirituais, claro que LÁ no artigo eu usarei as devidas citações e referências a outros autores, e preferirei termos adequados, dentro de um enfoque fenomenológico, metafísico ou o que for. Mas lá não é aqui, e eu NÃO ESCREVO sobre estes temas em minhas pesquisas acadêmicas. Escrevo sobre "técnicas psicanalíticas para o professor de filosofia do ensino médio", sobre "hedonismo epicurista X neohedonismo narcisista - equívocos na busca do prazer no mundo líquido" e sobre "bases filosóficas da epistemologia freudiana para endosso transdiciplinar da área da neuropsicanálise". SE eu escrevesse sobre espiritualidade lá, TAMPOUCO o "mundo acadêmico" seria uma espécie de "pai projetado" que as pessoas (em geral as de fora da academia) imaginam estar ali castrando as fantasias espirituais delas. Escrever acadêmicamente implica apenas em citar e defender o que se fala, e não em converter pessoas. É evidente que uma banca de filosofia da religião não vai exigir a materialização de Deuses na faculdade. A metodologia científica para humanas e metafísica é, evidentemente, diferente da demonstração EMPÍRICA da área de exatas ou naturais, por motivos ÓBVIOS.

Penso que as pessoas tem uma certa fantasia sobre aquilo que elas chamam de "acadêmico", risos. Se a pessoa estudar engenharia, matemática, história, administração, pode. Mas se algum espiritualista OUSA estudar humanidades (o que seria natural), filosofia, ciências da religião, psicologia, parece que - aos olhos de quem NÃO estuda - este pobre espiritualista torna-se IMEDIATAMENTE uma espécie de herege, incrédulo, falso, obsediado, dissimulado! Não, não pode ser! Ele deve estar disfarçando o que diz para ser aceito no "tal" meio adult, ops, acadêmico!!! Curioso é que não implicam com quem estuda outros assuntos, que não incomodam a sua fé. Mas o que estudamos também não incomoda a NOSSA fé ou à NOSSA experiência íntima. Mas parece que incomoda demais aos demais.

Escrevi sobre isso em: http://www.voadores.com.br/site/geral.php?txt_funcao=colunas&view=4&id=336

Então, quando eu soltar a minha voz por favor entenda que, palavra por palavra, eis aqui uma pessoa se entregando: tudo o que você ouvir, pode estar certa que estarei vivendo. E compartilhando também.

Certezas, nunca as tive, e menos as tenho quando estudo. Eu busco perguntas, e não respostas. E em geral, as perguntas incômodas. As "certezas" hoje me fazer rir. Principalmente as minhas, antigas. Após algum tempo de caminho, o máximo que alguém intelectualmente honesto pode conseguir é uma temporária "ausência de dúvidas". E ainda assim, dentro de um paradigma.

Quanto aos meus círculos, estudei filosofia no Seminário de São Paulo, junto com seminaristas mas também protestantes, espíritas e budistas. Uma escola que, por tradição, se dedica particularmente à filosofia da religião, à teodicéia, à filosofia medieval, à antropologia religiosa, aos autores da metafísica, dentre outros. MInha formação em psicanálise se deu numa escola da área transpessoal. Não sei o que poderia ser "estranho" para os "meus colegas" filósofos.

Quanto aos que não tem a mesma crença que eu, tampouco se incomodam.. Há médicos espíritas, há administradores de empresa católicos, há professores budistas, há dentistas ateus, há publicitários maçons, há chefs de cozinha judeus, há contadores messiânicos, há consultores muçulmanos, há economistas protestantes... NINGUÉM do meio profissional - que mereça o nome de profissional - fica ali se incomodando se o psicanalista ou psicólogo, em seu fóro íntimo, é espiritualista ou agnóstico. Parece que quem se incomoda MUITO com isso são os próprios espiritualistas, dando conta da relação entre fé e profissão dos seus iguais. Nos meios de classe ou nas escolas, nunca tive problemas. Já com "gurus" que fugiram da escola, aí complica mais. Nosso estudo é, para alguns deles, quase uma heresia ou ofensa pessoal.

O que você acha da busca por mais dinheiro? Por exemplo, sempre tentar galgar no trabalho, mesmo sem saber exatamente para oque você irá usar o dinheiro!

Tudo que é compulsivo é... compulsivo. Tudo que é completamente inconsciente... é completamente inconsciente! Nesse sentido, a própria pergunta já se respondeu.

Se a pessoa nem sabe pra que faz isso, é evidente que não é "dinheiro" o que ela quer. Aí torna-se patológico, não só por ser o "dinheiro" (o que ele simboliza? poder? ilusão de liberdade? aprovação social?), mas principalmente pela estrutura da projeção compulsiva em um objeto qualquer.

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

Cap. 5 Caminho por outra rua. Pergunta: qual é esta rua, agora?

Fabrício Vampré e Vigário Albernaz, entre pós-graduações e Camomilla Avella. :-P

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

Lázaro, é possível que uma ferramenta (em sentido evolutivo), como a viagem astral seja um grande produto da mente, mesmo para quem as tem com incrível lucidez?

Sim, possível é. Mas aí você cai em um problema filosófico clássico. Se as experiências das quais você tem enorme sensação de lucidez e certeza são produtos da mente, o que não é? O que podemos dizer é que o que chamamos de projeção da consciência parece ser uma experiência fenomelógica tão ou mais verossímil do que aquilo que chamamos de "realidade" da vigília.

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

quarta-feira, 13 de julho de 2011

O que você acha da prática de lutas? (jiu-jitsu, judo, karate, etc) Eu pergunto em termos mentais e físicos.

Gosto muito de Aikido, já pratiquei, e voltaria se tivesse tempo ou um bom dojô perto de casa. Pratiquei judô por anos, quando era mais novo. Gosto bastante. Para a prática mental, além do físico, prefiro uma que tenha particular atenção a esta questão - por isso, dentre as que conheci, recomento o Aikido.

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

Sempre sonho que estou fazendo sexo. às vezes parece real demais, porém nunca chego ao orgasmo. Eu não gosto desse tipo de sonho. Tenho a sensação de que algo do além vem me assediar sei lá. O que dizem os especialistas sobre quem sonha sempre com sexo?

Cada caso é um caso. Uma visão Freudiana poderia sugerir a manifestação de um desejo. Se você não gosta e associa sexualidade com assédio, com coisa errada, pode ser que o desejo esteja mesmo no inconsciente, pedindo realização deste modo. Mas não o/a conheço.

Em todo caso, a sexualidade é uma das manifestações mais naturais do ser humano. Literalmente. E é também natural ter PRAZER nisso. O que não é natural é ter culpa, é não gostar da experiência, é revestir a sexualidade - até mesmo a dos sonhos - com uma forte camada religiosa (culpas, assédios, pecados, etc).

Não conheço o caso, mas fico me perguntando se a vida sexual de quem sonha SEMPRE fazendo sexo e NUNCA gozando está mesmo tão ativa, frequente e satisfatória assim. Se está, será que o parceiro concorda? Como está a relação com o corpo, com o outro? Sexualidade DENTRO de você, há, senão não haveria TANTOS sonhos repetitivos...

Há diversas formas de trabalhar a sexualidade, direta ou indiretamente. Mas me parece que a vida da natureza ainda seja a mais natural. Jesus Cristo não tem nada a ver com isso, assediadores menos ainda. Curiosamente, o que alguns espiritualistas dizem é justamente o contrário: a recusa em dar ao "problema" a saída natural e óbvia é que pode trazer prejuízos, inclusive acumulando energias estranhas. Os espíritas dizem que ISSO é que atrai assédios. Os psicanalistas dizem que ISSO é que forma recalques. Em ambos os casos, a solução é a mesma. E eu prefiro a via natural. Se falharem todos os recursos, resta ainda o artesanato (unir mãos e criatividade para a construção de uma nova realidade estético-sensorial, risos).

Em todo caso, a associação religiosa é que me preocupa. Rezar nessas horas não adianta - habitamos um corpo humano cheio de hormônios e desejos, e embora a prece seja algo maravilhoso, provavelmente Jesus Cristo, Buda e Krishna não vão "se meter" (ops) nessas questões, e sendo imateriais, não vão tirar o tesão - assumido ou enrustido - de ninguém. :-)

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

terça-feira, 12 de julho de 2011

Os relatos de experiencia de quase morte são provas de que existe algo alem do corpo físico?

Não necessariamente. Mas dão uma fortíssima suspeita, não acha?

Além do mais, para se falar em PROVAS, temos que pensar em método científico, em evidências empíricas. Me parece que ISSO não é possível, por razões óbvias.

Muitos filósofos da religião lançaram-se a compilar PROVAS da existência do transcendente. Algumas eu acho muito boas. Mas eles mesmos advertem que, embora usem o nome "provas", NENHUMA delas se traduz em evidências empíricas por si só. ENTRETANTO, quando temos uma série de indícios aparentemente coincidentes, podemos fazer APOSTAS (crença, fé) com um certo grau maior de "certeza".

Ainda assim, é divertido e fascinante observar que pelo menos ESTA dúvida é inevitável para todos, ateus ou céticos. E que pelo menos ESTA dúvida permanecerá SEMPRE sem resposta, SEMPRE inalcançável pela "ciência" (aspas), por motivos óbvios: tudo aquilo que se revela imanente deixa imediatamente de ser transcendente. E então o novo além passa a ser o novo transcendente para o qual se estabelecem novas dúvidas. Se a lagarta conseguisse demonstrar a existência de vida-após-o-casulo, ainda assim jamais imaginaria a nova duração da borboleta. E assim por diante.

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

sexta-feira, 8 de julho de 2011

O que você pensa a respeito da Neuropsicologia ?

Interessantíssimo e indispensável. Pretendo fazer uma especialização em Neuropsicanálise brevemente. Não podemos transformar a psicodinâmica em uma espécie de religião metafísica que fecha os olhos para as evidências científicas mais recentes. Óbvio, embora não pareça a alguns colegas meus. Mas do mesmo modo, não podemos reduzir tudo a neurotransmissores, como se quiséssemos compreender o amor do poeta a partir da mera análise dos átomos de tinta deixados no papel. Óbvio também, embora não pareça a alguns psiquiatras. AMBAS as posturas são reducionistas, e as novas áreas transdisciplinares da neuropsicologia e neuropsicanálise me parece a tendência natural enquanto síntese da antítese que o reducionismo neurológico-cognitivo-comportamental produziu em relação às crendices metapsicológicas anteriores.

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

Vc falou aqui certa vez que não podemos ter certeza absoluta de nada. Poderíamos aplicar também para a morte física e negar aquele ditado popular que diz que a única certeza que temos é da morte?

Eu me referia, evidentemente, às crenças metafísicas. Já a morte física, me parece epistemologicamente auto-comprovável, pelo menos observando o passado. Dizia David Hume que não podemos induzir que o sol nascerá amanhã só porque o observamos nascer em 50 ou 20000 dias. Nesse sentido, há gigantesca probabilidade de morrermos fisicamente, por indução. Dúvida esta que basta continuarmos vivendo para esclarecermos, um dia.

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

Existe uma pós de Psicanalista Transpessoal? Vi que você tem especialização em várias áreas desta. Quais os pré-requisitos? abçs

No momento, não. A formação que havia em São Paulo fechou. Um dia pretendo preencher essa lacuna, mas não necessariamente dentro do rigor psicanalítico. Talvez uma especialização em fundamentos do inconsciente para espiritualistas, E uma especialização em conceitos transpessoais para analistas e psicólogos. No momento, há muitas abordagens, mas não tive a oportunidade de conhecer nenhuma que eu pudesse indicar. A maioria das que vi ora é muito "espiritualista", ora é muito superficial. Se alguém conhece alguma que mereça a minha indicação, terei prazer em ser convidado a conhecer. O que posso indicar por enquanto é fazer uma formação sólida em psicanálise (No NPP, por exemplo) e TAMBÈM uma formação em Ken Wilber (estão montando um Integral Institute em São Paulo), ou talvez em conceitos junguianos.

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

Uma amiga psicóloga estava me dizendo que, devido a características dela, ela não consegue atender mais que 6 pacientes/dia. Ele começou a estudar a parte "energética" para aprender a não se desgastar tanto. Você citou sua rotina pesada, como conse

Bem, cada um tem seus limites e necessidades. Faço terapia. Gosto do que faço. Marco sessões de 45 minutos, para ter (em tese) tempo para respirar entre uma e outra. E cada vez que algum paciente falta, ou que tenho alguma lacuna (graças a Deus são poucas), faço algum tipo de trabalho de energia, meditação ou simplesmente repouso na própria sala. Amo ser psicanalista: É um privilégio ter uma profissão onde seu "escritório" tem sempre iluminação reduzida e aconchegante, música de qualidade, ótimos livros... e um confortável divã, rs.

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

Na sua vida, qual a relação entre viagem astral e Deus?

A mesma que existe entre meus sonhos e Deus, entre vigília e Deus, entre comer e Deus, entre atender na clínica e Deus, entre acordar e Deus, entre dar minhas aulas e Deus, entre tocar e Deus, entre fazer amor e Deus, entre celebrar com amigos e Deus.

Nas palavras de Carl Jung, que endosso: "Meus pensamentos giram ao redor de Deus como os planetas em torno do sol, irresistivelmente atraídos por Ele. Compreendi que Deus - pelo menos para mim - é uma das experiências mais imediatas. Não "creio": Eu SEI que ele existe." (Jung)

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

Vc poderia compartilhar como foi a sua primeira experiência com o Nada (pergunta)

Sobre o NADA, não há NADA que eu possa dizer. O nada nadifica. Mas o NADA do qual falo está PLENO do TODO silencioso de Deus. O nada é justamente o instante em que tudo se revela por impossibilidade de palavras. Tentar descrever já seria alguma coisa, e estou falando do instante em que tudo para, onde não há descrição, e você volta com um sorriso, sabendo que o vazio está pleno de Deus. Aí não cabe mais fé. Talvez só um mergulho, quando chegar a hora. O vazio está pleno de Deus. Não tenho a menor pretensão de tentar explicar. Quero crer que todos saberão um dia. Está tudo certo. Não há como tentar explicar. Sobre o NADA, não há NADA que eu possa dizer. Não há causa sem consequência. Sai tudo e fica A Causa, no vazio. E tudo está ali, não estando. Não há nada. Não há. As coisas estão cheias de deuses, e o nada está pleno de Deus. Ah, se eu pudesse explicar! Mas pra quê? ;-)

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

quinta-feira, 7 de julho de 2011

o descordo de sua teoria. Eu ja li,e reli algumas partes do livro ``O PODER DO SUBCONCIENTE``. e aquilo,me pareceu bem convencente...

Bom proveito! Claro que é bem convincente, é um best-seller. O Segredo também. Se trouxesse mais advertências, bom senso ou coisas chatas de se ler, não venderia tanto. Vale para qualquer tema.

O que eu tenho a acrescentar ao assunto certamente não venderá tanto, jamais, pois coloca limites e responsabilidades, causas e consequências. E não isenta ninguém de atuar. Evidentemente quem compra um livro de pensamento-mágico não procura aquilo. Todos querem mudar o mundo e lutar por justiça, desde que não precisem ajudar a mãe a lavar os pratos. Todos querem o livre-arbítrio, desde que seja só o meu. O "chato" disso de sermos deuses é que isso implica em aquele vizinho mala do 201 também ser. ;-)

Sábia mesmo era minha avó, que dizia sempre: "Cuidado com o que você pede, menino! Vai que um anjo escuta?". Pois é, nossa sorte é que essas técnicas geralmente não funcionam, devido à nossa própria ansiedade ou infantilidade. Se funcionassem, estaríamos perdidos, vítimas de nossos próprios desejos irrefletidos. Muito cuidado com o que pedes aos deuses, eles podem lhe conceder!

Além do mais, as pessoas pensam que liberdade é poder fazer tudo, e se esquecem que só sou livre quando posso ESCOLHER, e escolher implica sempre em deixar muitas opções boas para trás. Logo, ser livre é PERDER. A criança tem todas opções, porque não escolhe nenhuma. Ser livre é ter a maturidade de saber viver com suas próprias escolhas, é ser adulto o suficiente para fazer CORTES, para ter menos, e não mais. Já que este mais mágico da criança que pensa-e-consegue não passa de uma abstração.

Eu gosto bastante do que escrevi sobre isso, mas creio que poucos entenderão. Esses poucos valem a pena. Minha contribuição:
http://www.voadores.com.br/site/geral.php?txt_funcao=colunas&view=4&id=347

São meus dois tostões ao Poder do Inconsciente de Joseph Murphy. Fique com qual dos dois você quiser. Eu prefiro evitar as "leis de Murphy", nos dois sentidos da expressão.

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

Gostaria de saber sua opnião a respeito de livros que difundem a ideia que possuem espiritos demoniacos ou magos negros e que se alimentam da nossa energia ???

Não tenho motivos para acreditar ou desacreditar, mas me parece que há muita mitologia em tudo isso. Acredito no transcendente e metafísico, mas ando muito mais ocupado em viver a minha vida BEM, aqui na Terra mesmo, bastante atento ao EU-AQUI-AGORA, fazendo o melhor que eu posso fazer, seja para mim, seja para os demais. Assumo que o que não posso ver, não posso ver. Que o meu passado pode ser deduzido pelo meu presente, e que meu futuro também. Há inúmeras estações de rádio e TV me atravessando AGORA com suas ondas, algumas com mensagens bem violentas, outras de péssimo gosto... mas eu só sintonizo aquela que EU quiser.

Para mim, estudar assuntos espirituais não é o mesmo que ser espiritualizado. Já gastei muito tempo na vida contando quantas pétalas cada sub-chacra tem, segundo não sei quem. Tudo isso é muito bacana e interessante, mas não necessariamente faz você viver melhor. Ao contrário, muitos que citam tudo são arrogantes e não conseguem sequer estabelecer vínculos afetivos, sociais e profissionais normais.

Hoje acho mais espiritual atender pessoas na clínica, envolvido no dia a dia com a vida delas, e tratar amorosamente alunos do ensino médio, levando-os à uma reflexão filosófica. Sinto que minha vida se completa assim, que fez diferença eu ter passado pela terra, coisa que nem sempre sentia ao demonstrar para platéias do Brasil quantas palavras em sânscrito eu sabia, ou contar "fofocas" do lado de lá.

Qualquer sintonia que eu atraia será decorrência de minhas atitudes. Alguns fundamentalistas me ameaçam dizendo que eu devo estar obsediado, já que não é possível viver feliz assim sem pagar tributos espiritualistas. Onde já se viu, estudar em seminário e dar aulas em colégio cristão? Onde já se viu, dar palestra em congresso ocultista? E depois ainda passar pela tenda de umbanda, no mesmo dia em que rezava com amigos na igreja do colégio por um professor que está doente? Onde já se viu, gostar de tudo e não ser possuído por grupo nem mestre nenhum, e ainda se recusar a ser mestre dos demais?

Bem, juro que eu nunca queimei nenhuma bruxa - ao contrário, muitas vezes viajo a Salvador para celebrar com elas. Nunca vi ninguém em nenhuma dessas religiões se reunindo para fazer o mal para ninguém. Em grupos umbandistas, católicos, espiritualistas, iniciáticos, budistas, maçons, de bruxaria tradicional, qualquer agrupamento sério que conheci ou frequentei, só encontrei gente tentando CRESCER, tentado REFLETIR, tentando de algum modo serem ÉTICOS. Toda religião faz o bem, TODA, e aquilo que não faz não é mais a religião, é a doença de alguém, que ocorre dentro ou fora de qualquer religião ou denominação - e, a bem da verdade, ocorre mais ainda FORA da religião.

Portanto, agradeço a preocupação dos católicos que acham que vou pro inferno pois me dou bem com espiritualistas e ocultistas, das bruxas que não entendem como posso me dar bem com os católicos, e dos espiritualistas que acham que estou obsediado ou traindo-a-espiritualidade (a deles) por ser livre e feliz. Deus está em meu coração, meus atos falam por mim, SÓ EU SEI das experiências mais íntimas que experiencio. Qualquer sintonia que daí advenha será baseada única e exclusivamente nos meus atos. Paraíso, astral, protetores, o que for que exista, o que vejo e principalmente o que não vejo.

Então, voltando à sua pergunta... Talvez. Costumamos mesmo encontrar o que buscamos. Dizia o Zé Rodrix que a morte é a coisa mais democrática que existe, pois quando ela chega TODOS se acham certos: Quem não acreditava em nada encontra o nada, quem aguardava julgamentos ficará aguardando julgamentos, quem se sente culpado de tudo encontra o inferno expiatório que tanto desejou, quem acredita em nossos lares esterizados cristãos com violininhos e fontes insossas encontra exatamente isso, quem é de umbanda vai pra aruanda... Seguindo essa lógica, eu sou feliz e vivo o aqui-agora, da melhor forma possível. Não desrespeito as supostas forças trevosas invisíveis, mas jogo em outro time, e prefiro atuar no visível. Se alguém trevoso resolver fazer um estágio comigo, invisivelmente, encontrará alguém feliz, amando, trabalhando, estudando. Talvez quem sabe ele melhore um pouquinho em minha presença? ;-)

As consequências disso tampouco me preocupam muito. Só um pouquinho, mas prefiro estar mais atento ao presente. Se eu for mandado para um lugar onde só tem harpa, tentarei conseguir um sintetizador para compor um clima new-age e melhor um pouquinho aquela paradeira toda. Se não der, toco a tal harpa, da melhor forma que eu puder. Um ditado de grande sabedoria nesse sentido é "está no inferno, abrace o capeta". Se eu estiver por lá, nos caldeirões, pedirei uma chopp gelado. Tenho certeza de que o diabo me dará, depois que eu contar umas piadas ótimas para ele. E se eu fizer o inferno feliz, e se o outro fizer do céu um lugar triste, prefiro o primeiro, onde até o capeta poderá se iluminar. A diferença é que penso que isso já se aplica ao momento presente. Céu e inferno faço onde estou.

Se há alguém se alimentando de sua energia agora mesmo, e você não vê, e ainda assim é feliz, para quê tanto egoismo? Se não me prejudica em nada, que eu devolva para o universo aquilo que o universo me deu. MINHA energia? Onde foi mesmo que eu a fabriquei?

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa: