terça-feira, 29 de março de 2011

Um amigo pegou um caso de incesto entre mãe e filho, com tentativa de suicídio do rapaz, e se sentiu incapaz de trata-los, por causa de seus preconceitos. Já teve algum paciente que não conseguiu tratar? Ou algo que pense não conseguir tratar?

Em geral gosto de desafios, e como sou PSICANALISTA, e não terapeuta, eu SEMPRE analiso (sozinho e com minha supervisora) os motivos inconscientes que teriam gerado esta suposta minha contra-transferência, isto é, os MEUS sentimentos e julgamentos pessoais que estão interferindo no método.

Psicanálise e Psicologia Analítica são diferentes de todas as outras abordagens JUSTAMENTE por trabalharem em cima da transferência e contra-transferência. Isto é, não é o juizo moral do Lázaro que interessa à sessão, e menos ainda meus "conselhos", por melhor que fossem. Temos sérias críticas às psicoterapias que mais vendem experiência e dicas do que análise, isto para mim seria quase ser um "prostituto da amizade". Não é isso que é psicoterapia analítica séria, é preciso se dissociar do próprio julgamento. Note que isso não é negar que exista, mas sim reconhecer o desejo do analista (ou julgamento) e tratá-lo em outro viés.

Não estou ali por amizade ou envolvimento, certo? O que se passa diante de meus olhos e ouvidos são histórias de seres humanos, o melhor que puderam fazer em suas existências dentro de suas condições. Então qualquer sentimento meu - desejo, julgamento, repulsa, incômodo, expectativa, etc - não deixa de ser também uma contaminação de meu inconsciente no processo. Seria um desperdício deixar de analisar isso, ainda mais lidando todos os dias com tantos sonhos e relatos diferentes.

Portanto, se eu me recusasse de modo inconsciente a atender um caso de incesto entre mãe e filho, por causa de preconceito e repulsa, eu me perguntaria imediatamente como estaria o MEU complexo de Édipo, o que eu não queria ver sobre os meus desejos em relação à minha mãe, a disputa com meu pai, e porque raios um relato edipiano assim - tão clássico para qualquer praticante de psicanálise - conseguiria me atingir tanto a ponto de eu não poder exercer meu trabalho. Note que, por tudo que estou dizendo, eu não levo a sério nenhum terapeuta, psicanalista ou similar que não faça a sua própria terapia e supervisão. Se a pessoa de fato acredita e identifica o inconsciente, então inevitavelmente estará ciente dessa necessidade, e da presença do seu próprio interferindo na sessão, e pedindo análise do analista. E se a pessoa acha desnecessário fazer terapia, tenho que me perguntar o que está fazendo nessa profissão, se não acredita em análise nem mesmo para si próprio.

FINALMENTE, considero possível não atender por motivos ÉTICOS, em alguns casos; e principalmente se a prática analítica implicar em violação legal, conivência com crimes e omissões. Também entendo que o analista tem todo o direito de não aceitar um paciente, assim como o paciente ao analista. O que destaquei nos parágrafos acima é a "repulsa" ao atendimento por "preconceitos" ou atuação do inconsciente do analista, como pareceu ser o caso. Ainda assim, se o analista julgar que o seu preconceito ou julgamento interferirá no caso, e/ou que não conseguirá separar adequadamente a contra-transferência, ele pode e deve passar o caso para um colega, mas isso em favor DO PACIENTE, e não da defesa de seu preconceito.

Eu particularmente não gosto de atender casos em que o analista terá que ser conivente, tolerante ou atenuante com violências físicas, morais e sexuais; em geral em casos de sociopatia e psicopatia. Não se trata, porém, de repulsa ou préconceito, nem impossibilidade inconsciente minha de acomopanhar os casos, pois já os atendi com sucesso. Mas sabendo que consigo, sem interferência, e exatamente por isso, prefiro me reservar o direito de não TER QUE ser pago para ajudar a manter situações que minha própria ética, vida, espiritualidade e filosofia trabalha em sentido contrário. Seria me tornar um prostituto, não mais da amizade, mas da técnica. Tanto pior.

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

Ei Lázaro. Qual seu hobby favorito? Como sei que curte vinhos, pergunto: Qual o melhor vinho que já tomou? Qual o que mais toma no dia-a-dia? Muito sucesso em seu trabalho! Abraço!

Os melhores vinhos que há tomei me foram servidos por pessoas que podiam pagar os 3 dígitos por garrafa, o que não é o meu caso. Eu teria que perguntar o nome para esses amigos mais afortunados. Não sou grande conhecedor e gastador. em geral tomo vinhos viáveis, comerciais, no dia a dia (leia-se fim de semana) aqui os chilenos medianos, 120, Casillero, 35 Sur, e também JP Chenet, Mateus e coisas bens comuns, de supermercado, em especial os de meia garrafa. Só às vezes fazemos algumas gracinhas mais caras, sempre nos 2 dígitos de Pão de Açúcar, ou presentes de amigos. Mas um lema (real) daqui de cada é que água mineral para beber pode faltar, mas espumante e prosecco JAMAIS. Really.

ATUALIZAÇÃO: A partir de 2015, eu e alguns grandes amigos - Alan Frank (da Banda Polegar), Eduardo Cunha (o Dudu Burton da Voadores), Olavo Borges, dentre outros - montamos uma confraria mensal de vinhos e gastronomia, a "Confraria E-li-tilizada", e nossos valores e exigências em vinhos subiram para as garrafas de 3 dígitos, ainda que sempre divididos por 10 pessoas.

Meu hobby favorito é e sempre será a música, mas ando meio desleixado, preciso de uma banda nova para motivar a tocar mais. Gosto de ir à academia, também, aulas, musculação, balance, yoga, etc. Estou afastado do aikidô, mas gosto muto. Gosto bastante de gastronomia japonesa tradicional sofisticada (nada de rodízios e sushis), mas os quilos e os custos me mantém à distância comedida.

No dia a dia, o que mais faço como lazer é sair com a Cammy e amigos: cinema, teatro, restaurantes, passeios, pequenas viagens, shows. E ver DVDs e séries em casa. Na verdade, não sobra muito tempo para hobby, trabalho das 7 da manhã às 22:00 todos os dias, e das 8 às 18 aos sábados, entre atividades docentes matinais diárias em 3 colégios de segunda a sábado, uma pós graduação mensal e mais 40 pacientes semanais. De certo modo, estudar assuntos diferentes sempre foi meu hobby. Estudar e ensinar espiritualidade era quase hobby no tempo da informática, estudar e ensinar psicanálise era quase hobby no tempo da espiritualidade, estudar e ensinar filosofia é quase hobby nesses tempos de psicanálise.



Segundo o Livro dos Espiritos, voce deve fazer o bem para se elevar. Mas, segundo o livro, o que conta é a intenção de fazer o bem pelo bem sem segundas intenções. Assim, se busco me elevar e fizer o bem, não teria essa ação uma intenção "não n

Como você disse, segundo o livro. Ou seja, segundo o seu autor. Não entendi, portanto, a pergunta. Em sendo um livro, escrito, deveria ser isento de contradições? Mais ou menos como pensam da Bíblia, como se fosse escrito diretamente por Deus, em lugar de serem ambos belas e boas codificações ou compilações de textos e experiências de fé?

Bem, se gostar desses - ou de outros - livros religiosos, sagrados e afins, eu sugiro que prefira eleger partes que lhe acrescentem, que façam de sua vida algo melhor... Creio que tentar atribuir aos mesmos uma espécie de infalibilidade divina não deixa de ser uma forma de desvirtuar sua verdadeira utilidade.

Lembro também que não se tratam propriamente de livros de filosofia. São textos religiosos, e servem (bastante) para quem quer uma referência religiosa, e daquela religião. Toda religião tem seus dogmas, penso que isso é normal. Dogmas são mesmo inquestionáveis, e às vezes contraditórios, concordo. Daí nascem os problemas teológicos. Não somos obrigados a seguir dogma algum, se não quisermos. Mas se queremos seguir uma determinada religião ou rito, é mais prudente aplicarmos as partes que geraram nossa identificação, mesmo que não seja o "pacote" todo. Afinal, nunca é.

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segunda-feira, 28 de março de 2011

No meu caso não tenho dinheiro para fazer terapia, mas preciso aprender a quebrar os padrões repetidos no relacionamento, o que posso fazer, ler, pra onde correr?

O Sindicato dos Psicanalistas do Estado de São Paulo mantém uma CLÍNICA SOCIAL perto do Metrô Ana Rosa, no mesmo quarteirão de minha clínica, onde todos podem ser atendidos por valores compatíveis com suas posses. Se a intenção for fazer psicanálise, há alternativas.

Quanto a leituras de auto-ajuda, não sou um especialista no gênero, mas as prateleiras costumam estar cheias. Algumas dão boas dicas, outras nem tanto, mas todas elas foram escritas sem conhecer o seu caso, portanto não passam de generalizações. Se por um lado fazer psicanálise não dispensa ninguém do bom hábito da leitura, menos ainda uma boa leitura substituiria a prática psicanalítica, que USA a transferência e o outro analítico como técnica, coisa impossível de ser feita com um livro, por melhor que seja.

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...não tenho mais ereção espontânea, matinal e noturna. Somente por masturbação e não fica muito rígido. Antes da fluoxetina nunca tive disfunção sexual e nunca havia tomado antidepressivo antes. Estou me sentindo muito mal com isso.

A ereção espontânea tem outros fatores envolvidos, e não é uma obrigação, e muito menos fator de medição da "potência sexual". Você não toma fluoxetina há 7 meses!! Não há relação direta. E masturbação também não é parâmetro definitivo, uma vez que está relacionada com a fantasia envolvida, lembrança, em alguns casos sendo associada a culpa, religiosidade, etc. Para falarmos em "disfunção" erétil ou não, seria melhor observamos o parâmetro da vida sexual normal, a dois, atividade esta que você não chegou a citar...

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Gostaria de saber se antidepressivo pode causar disfunção erétil irreversível. Tenho 21 anos e tomei fluoxetina 20mg/dia por 2 semanas e parei por sentir queda na libido e disfunção erétil. Após 7 meses que parei com o medicamento o problema persi

Não, não causa. O motivo deve ser outro. Aliás, acho controverso isso de dizer que um Inibidor Seletivo da Recaptura da Serotonina CAUSA impotência. Sexualidade estimula a serotonina, o que pode ter acontecido é que alguém usava a sexualidade de modo compensatório, e ao equilibrar via aumento de serotonina deixa de cumprir os rituais de compensação. Em outras palavras, a libido por si só já não estava tão bem, e a aparência de normalidade podia estar se dando por rito compensatório. Além do mais, 2 semanas é muito pouco para avaliar o efeito. Seria melhor ter tomado o remédio para melhorar o estado psíquico que o levou a tomar, e então na normalidade trabalhar a sua sexualidade e relação com o corpo.

Ereção está ligada a vários outros fatores, inclusive motivação, auto-estima, circulação, idade, relacionamentos, etc. Se você tomou o medicamento por APENAS 2 semanas, e a disfunção erétil tem 7 meses, certamente não há relação direta entre uma coisa e a outra. Se o motivo da disfunção estiver ligada, por exemplo, a ansiedade ou a depressão, pode ser até que a medicação, depois de um tempo, ajude! Além do mais, há outros medicamentos do gênero ISRS, como paroxetina, sertralina, escitalopram, etc - discuta com seu médico a suposta impotência, não tome nem pare de tomar medicamentos por contra própria, e verifique se não seria adequado trocar o inibidor por outro mais adequado a seu caso e que lhe trouxesse menos efeitos colaterais, sejam estes psíquicos ou reais.

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segunda-feira, 21 de março de 2011

Oi Lázaro! Posso te perguntar?, aquele AQAL (“todos os quadrantes, todos os níveis, todas as linhas, todos os estados, todos os tipos”) do Wilber funciona?! Serve mesmo de parâmetro para nos conscientizar sobre todo nosso Ser e sua capacidade de cr

A metodologia de Wilber "funciona", se é que se pode usar esse termo pragmático para um sistema filosófico de classificação. Não creio que a "função" seja o de "nos conscientizar sobre todo nosso Ser", isso parece mais um discurso religioso. Como o Wilber diz, o conhecimento é dinâmico, e ele não pode ter a pretensão de abarcar tudo aquilo que nem sequer existe ainda. Mas para aquilo que existe, visões de mundo, ciências conhecidas, disciplinas da faculdade, sistemas religiosos, física, biologia, espiritualidade, psicologia, filosofia conhecida, sociologia, etc, o sistema Wilberiano é capaz de colocar cada coisa em seu lugar SIM. Já a consciência espiritual (ou material, dependendo de seus objetivos).

Lembro também que o Wilber atual não defende mais o paradigma "evolucionista" na espiral. Antes ele pensava que atingir os níveis mais ecológicos e holísticos era um objetivo; hoje ele aborda mais uma visão INTEGRAL. Cada coisa em seu lugar.

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O sarcasmo é o primo feio da raiva?

O sarcasmo é o primo feio da raiva?


Não creio. Raiva é uma emoção, portanto necessária, inerente a todos mamíferos, sistema límbico, constitutiva. Já sarcasmo envolve intelecto, elaboração, cortéx cerebral, mais desconstrutor do que constitutivo, e geralmente desnecessário. 

Sarcasmo é a ironia usada de modo mais agressivo do que bem humorado. Ironia é um exercício inteligente, sarcasmo é um nocaute. Jesus e Sócrates eram bastante irônicos, mas não sarcásticos. 

Ironia pode ser amorosa, uma forma de bem humoradamente apontar o equívoco alheio pela negação, afirmando a inteligência e percepção sem precisar fazer a auto-afirmação, é quase um respeito à ignorância alheia. Já o sarcasmo é usado em discussões, em geral deixando bem evidente o ridículo da posição contrária - é um golpe, não necessariamente "raivoso", mas quase sempre uma forma de combate. 

Note que a raiva é inconsciente, tem algo de límbico; enquanto o sarcasmo requer intelecto, tem algo de córtex pré-frontal. 

Dá para viver sem sarcasmo, pois além dele exigir grande dose de inteligência para ser efetivo, é fácil errar na mão, ou acertar um queixo frágil que não o aguente. Concordo que o sarcasmo possa ser violento. Mas, convenhamos, há quem o mereça. :-P

Vc disse logo abaixo "Amo a Deus e não de um modo romântico". Como seria isso?! É Bakti?!

Bhakti é um termo em sânscrito, meu amor a Deus é o meu amor a Deus. Pode chamá-lo de bhakti, se quiser, mas não creio que bata muito com as descrições hindus. Tanto faz. ;-)

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Oi Lázaro. Você pode dizer algo sobre 2 situações: de um lado, temos algumas substâncias (como a chakrona e o cipó), permitem à alguns acessos ao TODO; e do outro tem linhas espirituais que precisam de anos de sadhana para poderem permitir o mesmo acesso.

A questão é bastante complexa, mas do modo que você coloca, parece tratar-se de uma iluminação fast food via substância. Do modo que você fala, parece que disciplina espiritual e auto-desenvolvimento é uma espécie de desconforto, pedágio, algo que atrapalha nossa urgência ansiosa de atingirmos logo os "resultados", a tal "iluminação". Dá o que pensar.

E não, não se trata do mesmo acesso. Até porque, espiritualidade é o caminho, e não o destino. A morte coloca todo mundo em contato com o "todo", mas suicídio não é espiritualidade.

Para continuar, o acesso instantâneo não é "ao todo", mas a algo. Algo que pode ter muito de espiritual, mas também pode ter muito de psíquico, mas também pode ter muito de patológico. Não é culpa do daime, nem da espiritualidade. Se alguém arrebenta - de uma vez só - as pilastras que sustentam nosso teto, o que estiver em cima vai desabar. Abrindo mão do ego - via morte, via loucura, via alucinógenos ou via qualquer outro modo - evidentemente vamos adentrar conteúdos do inconsciente pessoal e coletivo, INCLUINDO aí o dito "espiritual" (entre aspas, porque espiritualidade não é necessariamente ou tão somente "ver o invisível"), mas INCLUINDO também muitas outras coisas.

Quanto a acessos instantâneos e "sem esforço" ao que julgam ser o todo, não sou totalmente contra, especialmente para quem tiver bastante condições de lidar com isso. Ou seja, para os que tiveram - olha só a ironia - algum tipo de sadhana, disciplina, reforma íntima, auto-desenvolvimento, terapia ou recurso do gênero.

RESUMINDO, quem "precisa" tomar daime para atingir a "iluminação", em geral não tem condições internas de tomar. E quem tem condições internas de tomar, em geral não "precisa" tomar. Mas, claro, admito a possibilidade de EXCESSÕES, o que é o CONTRÁRIO de "generalizações".

sábado, 19 de março de 2011

você acha que quando o amor acaba a amizade continua?

Não sei se acredito que amor acabe. O que acaba é outra coisa. Não vejo mãe dizendo que não ama mais o filho, que vai trocá-lo por outro que mereça mais.

Se duas pessoas que tiveram trocas românticas o fizeram de forma amiga, é uma estupidez encerrar a amizade por não haver mais a troca íntima e sexual. Entretanto, costuma ser saudável dar um pequeno tempo, em respeito a dor alheia e necessidade de reestruturação. As pessoas não dão, tentam forçar a "amizade", e acabam invadindo e desrespeitando o outro ou a si mesmo. Ao final de 6 meses, o que poderia ser uma amizade e companheirismo preservando o lado bom do amor havido torna-se quase ódio. Seria mais inteligente ficar 6 meses sem ver durante o período de dor e perda, para poder recuperar o que for possível depois.

Por fim, costumo brincar dizendo que aquilo que uma ex se torna depois não é exatamente "amiga", mas uma "ex e amiga", o que cai em outra categoria e relação. Há as ex amigas, ausentes e inimigas. Mas em geral é um equívoco fingir que não houve a intimidade e reduzir o outro ao mesmo papel de qualquer amigo, como se nunca houvesse um plano conjunto e uma troca íntima. Isso pode ser inclusive ofensivo ou humilhante, especialmente a quem gosta mais ou a quem não queria terminar. Ex que são amigas para mim caem em outra categoria, muito especial em meu coração, que é algo quase familiar, e que merecem todo o respeito devido àqueles que um dia foram a cor e alegria de meu coração. Eu digo que as amo, pois o amor para mim não acaba. Amo minha mãe e não vivo com ela, amo filhos de um outro modo e não vou para cama com eles, amo a Deus e não de um modo romântico. O amor é flexível o suficiente para abrigar muitas formas e pessoas. O erro é chamar o sexo de amor, e achar que quando acaba o relacionamento afetivo, acaba também o amor. Isso, me parece, é um tiro no próprio coração, um cuspir no prato em que se pensa que comeu, sem perceber que de algum modo ainda o comemos. É uma heresia ao Deus do Amor que um dia evocamos por aquela pessoa. Não estou dizendo que devamos aceitar tudo, nem sermos "amigos" de quem está nos machucando, mas sim que antes de machucarmos ou desprezarmos o coração de alguém, é de bom tom observarmos antes se não estamos nós mesmos dentro dele.

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Por que acontece tanta euforia em fãs de Crepúsculo, Beatles, Restart, etc? O que acontece, psicologicamente, para que essas coisas se tornem tão importantes a ponto de levar as atitudes a níveis quase irracionais?

Não sei se entendi a pergunta? Você nunca foi fã de ninguém? E acredita mesmo que só o "racional" nos salvará e explicará tudo?

Evidentemente, não sou fã de Crepúsculo e Restart - mas já fui guitarrista de banda cover dos Beatles, nos anos 80. O mundo fica um pouco pior quando desistimos de nossas utopias.

Claro que há histerias e compulsões que são projetadas patologicamente para tudo, inclusive para os "ídolos". Há também catarses nessa relação com a música. Mas me parece claro também que SEMPRE há uma geração curtindo seus ídolos, que de um modo ou de outro refletem utopicamente seus ideais, e isso me parece.. bom! E sempre há uma geração mais velha, que agora somos nós, tentando achar ridículo esse gosto tresloucado dos adolescentes de então. Sempre nos esquecendo que, em outros tempos, os adolescentes éramos nós.

Eu gosto de Beatles, Restart e Crepúsculo. Não artística ou esteticamente, mas pelo que representam, enquanto utopias. O que traduzem. Exagerados, todos os gostos adolescentes o são, mas precisamos ir além e entendermos o que eles querem nos dizer.

Nos anos 60, o movimento Paz e Amor e "all you need is love" dos beatles apontava formente o excesso de guerra que quase destruira o planeta anos antes. Era exagerado, era utópico, como tem que ser mesma a juventude traidora da tradição e renovadora. Mas também dava a tônica do mundo que aqueles jovens construiriam depois.

O fenômeno Restart e Emmo destacam, exageradamente, a importância do amor e dos sentimentos. È ruim esteticamente? Pra mim sim, pra outros não. Mas mais importante do que isso, a utopia restart aponta aquilo em que seus pais falharam: amor, esperança, carinho, subjetividade. Os jovens hoje querem ser emocionalmente hardcores, e isso é um tapa-na-cara de nossa geração que esfacelou relacionamentos, que chamava de tolos ou trouxas quem se expunha, quem amava, quem chorava. Eles estão nos dizendo que a guerra destrutora que travamos não foi mais como a dos anos 40 que Beatles criticava, mas contra nossos próprios corações.

Crepúsculo também tem muito desse tom, e vejo pais criticando o "excesso" de romantismo da saga. Na verdade é o contrário, os filhos é que estão criticando a FALTA de amor da geração dos pais, e estes estão tão cegos que não percebem o tom em comum de quase todas as obras culturais dessa geração.

Mas crepúsculo é mais grave, porque fala também de vampiros e lobisomens, ou seja, figuras arquetípicas da SOMBRA psíquica, aquilo que jogamos na lixeira e que volta para que possamos trabalhar. EM outros tempos, mais violentos, os vampiros eram também violentos, destrutivos. A agressividade estava em nossa sombra psíquica. Décadas depois, nos anos 70 a 90, o tema vampiros falava mais da sexualidade. O que achavamos que era livre, e ao mesmo tempo recalcada. No mundo do sombrio, nos porôes da psique humana, estava a sexualidade, recalcada antes, e agora vazando pelo ladrão. Mas curiosamente, o tema dos vampiros atuais não são mais a violência ou a sexualidade invasiva, mas sim o romantismo. É um recado triste à nossa geração anterior, pois significa que não só despriorizamos o romantismo, mas o jogamos na vala da sombra psíquica, de modo que os adolescentes precisam resgatá-lo através dos mitos de vampiros e lobisomens. Eles estão nos dizendo que SOMBRA igual a ROMANTISMO, e deveríamos ter muita vergonha disso. Deviamos pedir desculpas aos nossos adolescentes pelo mundo emocional que lhe deixamos de herança. Mas é mais fácil e cômodo criticarmos os ícones deles que trabalham amor, emoção, romantismo e sentimento. Afinal, para nós essas coisas são ridículas e falsas, não é mesmo? QUE BOM QUE PARA ELES, NÂO!

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sexta-feira, 18 de março de 2011

Quem são as 3 pessoas que você consegue lembrar que mais possuem a mediunidade aberta, a percepção espiritual? Qual a importância de se ter abertura, percepção mediúnica, capacidade de sair do corpo consciente, na evolução?

Concurso entre pessoas "mais"? Então eu voto em Buda, Krishna e Jesus.

Quanto à segunda pergunta, eu PASSO. Buda, Jesus e Krishna nunca falaram em "evolução", ficamos muitos darwininianos de pouco tempo para trás, acho ridículo essa conversa de "pré"-história, sociedade "primitivas" ou "bárbaras", chegou a tal ponto esta insanidade que, depois de Kardec, um homem do tempo de Darwin, até mesmo a espiritualidade precisa ser Pokemon!!!

Espiritualidade não tem "finalidade". Você não é ético para ser salvo, nem para "ser mais" do que os outros, nem para estar nos Top-3 da mediunidade. Ou eu sou porque eu sou,, no eterno retorno do existir... ou, me desculpe, nunca fui. Como diz o Osho, quem precisa de "graus" (iniciátivos, evolutivos, classificatórios, etc) é a mente, e não o coração. Ou ele está iluminado... ou não está. Os três que citei estavam. Dentro das minhas possibilidades e limites, sem me comparar a ninguém, também procuro estar. E toda a minha existência se justifica por este momento, e vice-versa. Se não tenho certeza sequer da existência do tempo, como falar de um antes-agora-depois como se o objetivo da existência fosse "evoluir" ao longo da linha do tempo no intuito de ser sempre "mais e maior" que os demais?

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quarta-feira, 16 de março de 2011

Há muitos sentimentos a serem comunicados, mas o outro, que até ontem os alimentava, decretou unilateralmente que não há nada a dizer. O que fazer?

- Sentimentos desse tipo não são para ser "comunicados", e sim vividos. Em reciprocidade. Do ponto de vista da relação, não há muito, uma vez que relação a dois implica em "relação" e em "dois", e parece não haver mais nem uma coisa nem outra. Do ponto de vista de seu amor, que é seu e não "do outro", ele pode ser vivido outras formas - ou com outros rostos. Ninguém leva o seu amor embora, ele é seu. O outro apenas trocava com você durante algum período. Se alguém não é capaz de receber amor, o problema é dela, e não de quem ama. Simplesmente ame, e aos poucos deixe a ilusão de confundir o amor com a pessoa que o recebia. Em todo caso, é justa e lícita a tristeza, afinal há perdas, e precisamos elaborar nossos lutos psíquicos. Só não fique tempo demais nela: o amor é vivo e livre, é seu, e não foi feito para ser estancado, nem propriedade de uma só pessoa - especialmente de quem não o quer.

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