quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Olá. Porque é necessário parar de consumir carne vermelha enquanto se pratica o mantra om na testa por 6 meses, no seu texto sobre abrir a clarividência?

Por que é um sadhana (disciplina espiritual) que tem maior probabilidade de dar certo. Não é a única. Mas se exigiam uma, eu a dei.

Antes de mais nada, perceba que meu texto é na verdade uma CRÍTICA àqueles que exigem "fenômenos espirituais" antes de perceberem o quanto despriorizam as questões VERDADEIRAMENTE espirituais, que EM QUALQUER RELIGIÃO encontram-se muito mais no cotidiano, na ética, na coerência e nas atitudes do que na pirotecnia fenomenológica ou numa constante fuga da realidade, tentando ser "especial". Por isso o texto, de modo quase irônico mas não menos verdadeiro, PROPOSITALMENTE destaca atitudes práticas e pequenas disciplinas que, embora óbvias e coerentes, são desprezadas por quem busca clarividência, religião ou "espiritualidade" como FUGA (de si e do mundo); sendo que a essência do religare é, ao contrário, um ENCONTRO.

Dentro de uma visão mais hinduista E bioenergética, que adotei em parte como paradigma para a minha resposta, a questão da alimentação tem função de sutilização dos fatores externos que "ingerimos", e seus efeitos sobre nossa "sintonia" espiritual . Não é a única sutilização necessária, nem talvez a mais importante. Mas além da questão da sutilização, relatada por inúmeros caminhos e mestres espirituais ao longo dos séculos, pense como um teste, uma válvula, uma prova inicial: quem já acha até mesmo essa impossível, talvez não tenha condições de enfrentar um sadhana mais rigoroso em termos de ascetismo.

No Candomblé, por exemplo, há excelentes sensitivos que comem carne, em alguns casos até sacrificando animais. Mas é outra abordagem, e lhe GARANTO que as asceses, purificações, disciplinas e despojamentos exigidos para quem trilha um caminho serio e profundo no Candomblé são bem maiores do que o que sugeri a quem me "exigia" uma "receita" para se tornar "clarividente". Há monges católicos carnívoros também, mas estes tem toda uma vida como ascetas. Aliás, provavelmente envolvendo alguns jejuns.

Quem não se preocupa com o mundo à sua volta não é digno de buscar as coisas dos céus.

Quem não é capaz de perceber o divino no nada e no um dificilmente adquirirá a experiência mística de fusão no múltiplo e do Todo.

Quem não respeita aquilo que ingere - material ou emocionalmente - para dentro de si dificilmente devolverá ao externo algo melhor que sua própria sintonia.

Quem não puder encontrar Deus dentro de seu próprio coração e psiquismo terá muito mais trabalho ao buscá-lo em Himalaias ou galáxias distantes.

Se você não vê a Deusa nos milhões de brasileiros louvando Aparecida do Norte ou Yemanjá, não a verá tampouco na religião exótica distante.

Se não é capaz de ver o Deus de seus pais, dificilmente verá o de seus filhos, e o mundo sempre lhe parecerá injustamente sem sentido.

Se despreza as revelações dos sonhos sem interpretá-las sequer psiquicamente, em vão clamará por "novos" sinais e visões "mais espirituais" de Deus.

O templo divino da vida começa aqui. Matéria, então psíquico, então mental, então espiritual. Transcender incluindo. Quem não se preocupa sequer com seu barrigão e neuroses, dificilmente se preocupará autenticamente com qualquer outra coisa.

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa: