sexta-feira, 30 de setembro de 2011

("Sou contra o autoritarismo de legislar sobre a saúde do outro.") - inclusive no caso do daime? Ou melhor: no seu ponto de vista, em vez de abolir fumódromos a lei deveria regular a venda do cigarro?

Daime e drogas alucinógenas são questão de saude pública, assim como dirigir embriagado. Também há na questão do daime o abuso da boa fé, e uma certa inocência bem intencionada dos dirigentes, que não esclarecem (e em geral nem sabem ou acreditam) nos riscos reais envolvidos, especialmente os psiquiátricos.

O direito sartreano ao suicídio é inalienável, façam isso com batatinhas fritas em excesso ou cigarros. Mas que seja consciente, que não seja transformado em "religião" multiplicadora e, de preferência, que seja cometido de uma vez só, atingindo apenas a si próprio. Se o seu excesso de batatinhas fritas e gordura vegetal hidrogenada lota os serviços públicos de saúde, onerando a todos, já cabem políticas públicas de esclarecimento ou controle. E se o equívoco de um é induzido pela ignorância ou má fé do outro, com riscos psíquicos sérios, também. Se um pai obrigar o filho a fumar ou descuidar de sua obesidade mórbida infantil apenas por gostar de batatinhas, então cabe intervenção. E há [crimin----] religiosos no Daime que dão essas substâncias alucinógenas às suas crianças - e, pasmem, até mesmo a gestantes. (!!!)

Não vivemos em uma selva. Para os que vivem, aliás, sou a favor do daime, lá no seu contexto amazônico. Nem tenho direito de dar palpite naquilo, lá. Falo de "espiritualistas" bem urbanos que tomam no final de semana, em um contexto completamente equivocado, repetidamente, em nome de uma "iluminação fast food". Ou da distribuição indiscriminada para portares de psicopatologia, sob alegação falaciosa e irresponsável de que "daime cura tudo, e nunca faz mal". Ou dos que são viciados nessa droga e suas alucinações - boa parte mentindo para a família (ou para si mesmos) alegando que a usam para PARAR com as drogas e alucinações.

Também, é claro, o drogado não justifica o traficante, assim como o enganado pelo daime não justifica a ignorância dos responsáveis pelas casas, que lucram com isso (pessoal e financeiramente), e deveriam ser responsabilizados pelo esclarecimento que (não) dão.



Para saber mais sobre o tema, inclusive os esclarecimentos que todo dirigente daimista (responsável) deveria conhecer, acessem: http://migre.me/qmIq

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

Como você encara o neoateísmo de pensadores como Richard Dawkins e Sam Harris?

Eu não os encaro. ;-)

Bem, cada um CRÊ naquilo que pode, quer ou consegue. É direito inalienável de cada um.

O problema é quando a (des)crença de um tenta ser imposta aos demais, tentando anular experiências íntimas alheias, sem nenhuma base maior além da própria descrença. Isso vale para ateus ou religiosos, há fundamentalistas conversores nos dois extremos.

Creio que quem não tem muita certeza de suas posições de risco tenta de todo modo conseguir adeptos, talvez para ter o conforto íntimo da presença próxima de seus convertidos, usados como escudos vivos contra a possibilidade de contato com pensamentos divergentes. Observo isso tanto nos neo-Richard Dawkings quanto nos neo-Edir Macedos.

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

Pergunta ao Lázaro Espiritualista (e não ao Psicanalista). Depois de tantos anos, ainda crê em reencarnação? Porquê?

Creio - ou melhor, de algum modo experiencio - que a vida é bem mais do que experimentamos empírica e sensorialmente. Isso me dá uma certa crença - ou certeza íntima - em realidades transcendentes, das quais (me parece) o que chamo de "eu" faz parte. É mais que suficiente para mim. Nas palavras de Jung, compreendi que Deus é, para mim, uma das experiências (grifo) mais diretas (grifo) que tenho. Não "creio", eu "sei" que Ele existe.

Trabalhando na clínica com sonhos, levantando dados sistêmicos de todas as famílias de todos meus pacientes (milhares) até 3 ou 4 gerações, estudando a nova área da Epigenética (pesquise) nas minhas aulas de Neurociências e Neuropsicanálise na UNIFESP, não tenho dúvidas de que, de algum modo, nossas experiências e acertos não são em vão, e que continuamos vivos naqueles que nos sucedem. Os orientais parece que já sabiam disso há milênios.

Pra mim, tudo isso é mais que suficiente. Vivo o Eu, Aqui e Agora. Tenho experiências de estado alterado de consciência. Só nesse final de semana, recolhido em um Templo em Salvador para a celebração do Equinócio de Primavera, http://casatelucama.blogspot.com , tive várias projeções, ), mas há muito tempo parei de tentar colorí-las e distorcê-las a partir de minhas crenças prévias, espiritualistas ou não. Hoje eu as aceito como são. Chegando lá, tenho para mim que haverá um novo Eu, Acolá e Depois. E nele viverei o Eu, Aqui, Agora de então. Se sou hoje a continuação de uma outra vida é irrelevante a partir do momento em que não a acesso diretamente, e ela não me isenta da responsabilidade de meus atos do dia. Nossa vida "reencarna" a cada manhã.

Sei que muitos tem seus mitos e crenças para explicar - às vezes com "detalhes" de uma certeza religiosa que não passa de aposta - aquilo que todos nós percebemos, cada um em sua prática espiritual ou fenomenológica. Creio que a verdade talvez esteja contida parcialmente em muitos dessas nossos tentativas pobres de explicação daquilo que a memória coletiva e a nossa (suposta) existência perene possam vir a ser, mas acho pouquíssimo provável que "a verdade" esteja integralmente em qualquer uma dessas apostas.

A maneira pela qual concebemos "reencarnação" no Brasil, por exemplo, é bastante curiosa e local, pós-Kardec e pós-Darwin. E tomamos como regra! Para um hindu ou grego antigo, não havia este caráter "espírita" e "mediúnico" nas idas e vindas à roda de Samsara, nem esse conceito de "evolução", tão dependente fisicamente do tempo-espaço (que talvez seja uma experiência mais local do que espiritual).

Portanto, SIM, creio ser altamente provável a continuidade de nossa existência, inclusive como um centro de personalidade consciente. E também, SIM, estou convencido de que a vida é mais coletiva que meu ego (que talvez seja supérfluo à "evolução"), e que minhas experiências individuais não são em vão, por motivos que ainda engatinhamos em perceber. Mas NÃO, por tudo que vivenciei, não estou tão certo assim de que seja na mesma linha temporal crescente, e baseado no mesmo ego, como querem os espíritas. E NÃO, não creio que nenhum dos grupos espiritualistas ou religiosos comumente conhecidos sejam possuidores de uma "verdade absoluta" sobre as coisas que nos transcendem. Embora SIM, eu creia que a verdade (se há uma, e só uma) resida um pouco em cada um dos que a experienciou, teorias religiosas inclusive, e cada um tenha uma explicação poética, simplista e didática para algo que é muito maior, para o qual não temos condições (nem necessidade) de responder sobre.

No fundo mesmo, minha crença pessoal é de que será algo como uma mudança de paradigmas, muito mais simples do que imaginamos, algo que seria impossível de ser pensado daqui, e que a primeira fase que diremos será: "Ah, mas então era ISSO?". Feito uma daquelas aberturas de temporada de Lost, ou finais de filme estilo Sexto Sentido, onde tudo anteriormente fica ridiculamente simples com a mudança de perspectiva, inimaginável até então.

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

Como ter uma vida sexual saudável sem sexo disponível, naquelas fases às vezes bem longas em que não há parceira?

Tá vendo essa mão aí? ;-P

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

Acredita que uma pessoa pode ter experiências de vida que são traçadas ou determinadas previamente por uma força maior (Deus, ou seres mais inteligentes)? "Você vai nascer, e quando tiver a idade X, tal coisa vai acontecer com você."

Mal sei porque estou aqui ou quem de fato Eu Sou, o que poderia eu dizer sobre os desígnios de Deus?

Mas quero CRER que a vida não seja tão determinista assim. Deus não precisa de robôs.

Este foi um bom debate filosófico... na Idade Média.

Livre Arbítrio: http://pt.wikipedia.org/wiki/Livre-arb%C3%ADtrio
Determinismo: http://pt.wikipedia.org/wiki/Determinismo

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

Qual sua opinião sobre os textos de Luis Pondé, publicados na Folha de SP?

Em geral, gosto do Pondé e de boa parte dos argumentos dele. Especialmente os polêmicos ou que vão contra o senso-comum, INCLUSIVE o senso-comum acadêmico que "acha" que é contrário ao senso-comum-comum.

No Seminário Paulopolitano, onde estudei Filosofia, percebi que o Pondé sofre muitos preconceitos e generalizações. Por sorte, tive também professores como o Domingos Zamagna (que utilizava em sala visões do Pondé sobre Estética) e Mauro Araujo de Sousa (autor de Nietzsche Asceta, e que foi orientado pelo Pondé em seu doutorado), que me permitiram ver Pondé com outros olhos, antes que o preconceito acadêmico tentasse me converter.

Agora, cá entre nós, ô perguntinha simplista e genérica esta acima, não? Sei que foi uma pergunta inocente e bem intencionada, mas nas entrelinhas ela embute uma generalização ad hominem que ilustra o que ocorre contra pessoas que pensam como ele.

Tipo, qual dos textos? Se gostar de um, tenho que assinar embaixo de todos? Mesmo ele sendo intencionalmente polêmico e provocador? Ou o contrário: Se alguém um dia se incomodar com uma das quebras de paradigma do Pondé, deve baixar para o nível pessoal e refutar todos seus textos, a priori?

Percebo isso particularmente por ocorrer bastante comigo, que às vezes penso além do senso-comum de algumas áreas onde trafego. Embora eu não seja nenhum Pondé, e no máximo escreva algumas mensagens - despretensiosas e sem edição - em alguns blogs, redes sociais e listas de discussão. Pobre Pondé.






OBS1) Para quem não sabe de quem estamos falando, segue o Lattes deste filósofo, especialista em ciência da religião. Seu currículum fala mais por ele - e por seus temas de pesquisa - do que alguma opinião minha generalizada:
http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4728105J6

OBS2) E aqui seguem-se as íntegras dos artigos dele na Folha, inclusive o último (Religião Sustentável), onde critica a "busca de uma Espiritualidade Light que mais parece a busca de uma marca de jeans". Desta vez, sobrou para o (pseudo) budista pop, um tipo que conhecemos bem nas listas de discussão e grupos espiritualistas - e, mais recentemente, nas rodas sociais e casas da venda do saber: fã (distante) dos Dalai Lamas, classe social média-alta, preocupações "sustentáveis", estilão de terapeuta-pseduo-ativista-light (ou cliente mais light ainda destes), que trata a espiritualidade como... bem, vamos dar a palavra ao autor:
http://integras.blogspot.com/2009/06/artigos-de-luiz-felipe-ponde-para-folha.html

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Como diferenciar aquilo que é questão a ser trabalhada (com possível resistência) e aquilo que é simplesmente divergência filosófica entre analista e paciente?

Com interpretação, oras. Até porque, o paciente não está ali para concordar ou divergir filosoficamente com o analista. Acreditar que se trata de um embate intelectual já pode ser um mecanismo de defesa, tanto da divergência mas até mesmo na concordância. Conheço pacientes que "resistem" concordando com tudo, quase aplaudindo a interpretação, tentando dar um ar acadêmico. É como se dissessem para si mesmos que, por terem concordado, por terem um "bom" analista, não precisariam se transformar. Em geral, estes são OS MESMOS que mais adiante na análise entrarão em resistência igualmente "intelectual". A "racionalização" é um mecanismo de defesa documentado, e é indiferente quando essa se instaura de forma positiva ou negativa.

Provavelmente o analista lhe mostrará seu mecanismo, sua disputa intelectual, ou até mesmo lhe apontará pessoas (pai, irmão) internalizadas, com (ou contra) as quais o embate está se dando. Ou seja, o paciente PENSA QUE está num colóquio intelectual com seu analista, e que com isto está fugindo do comprometimento com a análise, mas na verdade pode estar repetindo a disputa intelectual fictícia que tinha com o pai, com o irmão ou com alguém; OU tentando se isentar da ação fora dali (se já sei em detalhes o que é meu câncer de pulmão, posso continuar fumando; ou como o endocrinologista gordo).

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

Terapia a distância dá resultado? Ouvi no rádio que psicólogos agora estão atendendo via Skype...

Não, não dá o mesmo resultado. Psicanálise à distância é quase uma contradição, em função do setting e transferência. Quem mais adota terapia à distância são as terapias do ego, as cognitivo-comportamentais e as terapias alienantes, bem como os "vendedores de conselhos". 

Psicanálise séria não é isso, e depende da análise da transferência, em ambiente isolado. Como o paciente chega, como se porta, como se dá a relação "esterilizada" com o analista em uma sala diferenciada. Isso fala mais do funcionamento psíquico da pessoa do que a própria "história" que ela conta (que muitas vezes é parcialmente falsa, ou encenação, o que não importa). 

Portanto, quem faz esse tipo de atendimento faz no máximo "aconselhamento", ou venda de auto-ajuda personalizada à distância. Isso não é nem 5% das possibilidades clínicas. Em um caso de emergência, poderia até ser, excepcionalmente. Mas sabendo que se trata de counseling raso e pontual (como nos serviços de escuta), não dispensando jamais as práticas clínicas e transferenciais.

Há mais um fator, que é o do clientelismo, da concorrência desleal. Psicanalista não é verdura na feira. A escolha do analista é parte da relação de cura, e ela precisa poder fazer isso livremente, por identificação psíquica, algo quase "inconsciente". A oferta de atendimentos "fáceis", à distância ou (predatoriamente) "promocionais" na verdade PREJUDICA a todos, inclusive aos pacientes, uma vez que interfere bastante na possibilidade de livre escolha dele. Alguém que já está resistente sempre preferirá algo descompromissado e à distância do que algo que lhe peça envolvimento, tempo, esforço. Nesse sentido, a terapia pode estar agindo em sentido contrário ao que deveria.

E se eu ofereço aqui em São Paulo terapias via internet, estou fazendo concorrência desleal aos meus colegas de Salvador, de Quixeramobim, de Lages, de Caixas do Sul. Estou desincentivando as pessoas de várias cidades a procurar profissionais para estabelecer uma relação analítica autêntica e compromissada! A pergunta é PORQUE EU FARIA ISSO, se sou um bom profissional, o que implicaria em agenda cheia? Será que estou tão sem clientes assim? Porque será? Talvez por isso, em geral, quando alguém me mostra um "terapeuta" que faz "psicanálise e psicologia" à distância, eu geralmente mostro alguém recém-formado, ou com mais tempo livre do que alguém competente e bem-indicado costuma ter.

Há exceções, claro. Mas elas são ocasionais. Por exemplo, um estudante de psicologia do interior do Mato Grosso que precisa de um supervisor clínico com base junguiana E winnicottiana; ou uma ex-paciente minha que acaba de se estabelecer em outro país, ainda com barreiras linguísticas, financeiras e culturais, mas já precisando de atendimentos eventuais.

Há anos estudo um modo de fazer atendimentos à distância, devido à grande procura. Mas como sou criterioso, o fato de há anos eu não ter resolvido todos os problemas envolvidos me parece um sinal de que a maioria dos que "atendem à distância" estão em geral mais preocupados em clientelismo do que em preservação do setting. Como quero crer que sejam bem intencionados, imagino apenas que SEQUER lhes ocorreu pensar em 0% dos alertas sérios que problematizei. Isso não me parece um bom sinal.


Sei exatamente para onde eu vou depois de morrer: para uma terra que existe em um livro que eu li, gostei de lá, quero morar por lá qdo desencarnada, vou adorar. Mas as pessoas acham que não é uma opção espiritual válida. O que vc acha? Eu acho que é!

Eu "acho" que seja a sua crença. Íntima, pessoal, inalienável. É direito seu. Ou no mínimo seu "desejo", a melhor opção dentre as que leu. Temos o direito de imaginarmos o que quisermos para a nossa vida, e mais ainda para o que está além dela.

Não sei se as coisas por lá funcionam assim , na base do "gostei de lá, quero morar por lá, vou adorar". Aqui na Terra, não funciona exatamente assim. Gostei muito de umas casas de Ilha Bela, adoraria morar lá, mas ainda não consegui. Há muita gente espiritualista (séria) que diz que as leis do lado de lá são mais parecidas com o lado de cá do que gostaríamos.

Nesse caso, não posso garantir que seja assim porque você quer que seja assim. Mas concordo que, do lado de lá ou de cá, querer, desejar, acreditar já é um ótimo começo. Nem sempre acreditando, desejando, investindo e perseverando conseguimos tudo aquilo que queremos. Mas em geral, as que conseguem souberam acreditar, desejar, investir e perseverar. Você não precisa abrir mão da sua fé.

Outra coisa distinta é o que vem a ser "opção espiritual". Para mim, não é o mesmo que crença ou fé. Simplesmente acreditar que vai para um lugar lindo não é "espiritualidade", pois essa é feita no eu, aqui e agora. Com ou sem fé em algo depois. Talvez seja isso que as pessoas estejam querendo lhe dizer. Independentemente do que você acredite que ocorrerá no futuro, faça sua espiritualidade (ou opção espiritual) aqui e agora. No hoje. Quando chegar o dia de estar lá, onde quer que seja este lá, faça o mesmo, e viva bem o momento presente de então. Isso é espiritualidade, bem mais do que acreditar em algo... ou não.

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Já vi você comentando, caso o paciente tenha interesse, sobre a utilização do I Ching ou Tarot na terapia. Como introduzir/anunciar isso na psicanálise? Seria necessário algum curso de Jung para melhor enfoque/proveito? Indicações aqui em SP de Jung?

1) Se o terapeuta utilizar ferramentas deste tipo, não se trata mais de psicanálise. Sem julgar a veracidade do que um instrumento divinatório qualquer possa (ou não) dar, a questão é até de MÉTODO: Psicanálise implica em interpretação do conteúdo do paciente. Ou seja, não é o analista quem "diz" algo de novo, ou "dá conselhos", pois se fizesse isso (mesmo que via uma ferramenta, ou uma suposta conexão espiritual), quem estaria falando seria o inconsciente do terapeuta, e não o do analisando. Ou seja, psicanalista não tem como dar sequer "conselhos", pois ele não é "terapeuta", "conselheiro", "mestre ou "clarividente" ali (mesmo que seja em outro lugar), e sim "analista". Ouve, interpreta. Sua opinião não conta, mas sim sua interpretação.

O problema é que ferramentas divinatórias, métodos alternativos, curas espirituais, clarividências e afins IMPLICAM em fazer valer algo que o terapeuta sabe, ou acha que sabe, e o paciente não. Muda o foco. Vira, de algum modo, uma venda de conselho: seja baseada na sabedoria, espiritualidade ou experiência do consultor; seja na crença em alguma energia ou presença espiritual inerente à egrégora ou ao instrumento.

PARTICULARMENTE, gosto de algumas ferramentas divinatórias e conheço alguns coordenadores espirituais de grande sabedoria e, na minha visão, profunda conexão com o transcendente. Eu mesmo tenho minhas crenças e práticas, extra-consultório, em fórum íntimo. Mas aí não se trata mais de psicanálise. Um psicanalista pode ser católico ou protestante - Freud era judeu - e é claro que não fará seus cultos dentro da sessão analítica. Do mesmo modo, não há nada incompatível em um psicoterapeuta ser espírita, espiritualista, pagão, budista, hinduista, devoto do candomblé ou o que for. Desde que, é claro, não baixe o santo nem se denomine "o médium", "o clarividente" ou o que for no meio da sessão, nem saia dizendo que está "sentindo" que o problema do consulente é tal.

2) Dentro das possibilidades transpessoais e para-junguianas, em campo já longe da psicanálise, alguns profissionais se utilizam de ferramentas divinatórias em clínica - tais como astrologia, i-ching e tarot - como instrumentos de (suposta) prospecção, ou interpretação de sincronicidades. Crer nisso implica na aceitação de alguns pressupostos além de Freud, e que já tocam mais em sincronicidades, arquétipos, símbolos e inconsciente coletivo (mais típicos da psicologia analítica de Jung).

Ainda assim, um profissional mais sério (em psicoterapias) que opte por utilizar desses instrumentos precisa ter um cuidado metodológico maior que a média para não substituir a interpretação pelo acaso. Ou seja, um astrólogo mais junguiano pode optar por partir sua investigação do inconsciente das informações que um mapa astral (supostamente ou fenomenologicamente) lhe daria sobre o paciente, acelerando o processo. Mas a partir daí, a necessidade de análise e interpretação continuariam do mesmo modo, a partir da identificação ou recusa do consulente em relação a cada uma das "previsões" apresentadas. Lembrando sempre que se por um lado há bons profissionais que trabalham deste modo, seja por sua base junguiana (seja por sua sensibilidade em particular, seja por algum outro meio que não conheçamos ainda), de todo modo ISSO NÃO É MAIS PSICANÁLISE.

3) Cursos de Jung não ensinam ferramentas divinatórias. Pelo menos não os mais sérios. Há muita confusão a esse respeito. Jung não era um tarólogo ou esotérico, até onde saibamos. Ele era um médico e investigador do inconsciente, apresentando seus resultados da maneira mais científica quanto possível para a época e tema, e trabalhando com a psique, com a loucura e com o fenômeno espiritual, INVESTIGAVA também as causas de "coincidências" estranhas, "sincronicidades", alguns estados alterados de consciência e a repetição arquetípica de certos padrões. Entender como isso ocorre em um mapa astral ou tirada de I-Ching é assunto junguiano, inclusive academicamente. Já se tornar um tarólogo, astrólogo ou mestre taoista, certamente não. Nada contra, mas o próprio Jung nos lembrava que nosso compromisso é com pacientes neuróticos ou psicóticos da clínica, no campo da psicoterapia. Segundo ele, podemos OBSERVAR fenomenologicamente certas ocorrências, e até dar conta delas, mas suas "explicações" não seriam de nossa competência ou responsabilidade, cabendo mais deixá-las, segundo ele, "para a filosofia, para a parapsicologia ou mesmo para a teologia". Ou seja, ele admitia a existência de questões metafísicas influenciando a psique, mas entendia que o clínico não precisaria (ou deveria) se adentrar na suposta CAUSA (provavelmente incognoscível) desses fenômenos, sendo mais sensato *considerá-los* (não descartá-los) e interpretá-los a partir de como se apresentam e do que parecem (simbólica ou metaforicamente) querer dizer.

O que ocorre é que grupos esotéricos, divinatórios ou místicos, querendo dar um "ar acadêmico" (pseudo-acadêmico) às suas crenças e práticas, muitas vezes se APROPRIAM do pensamento do Jung, que parece mais próximo de suas crenças do que outras correntes da psicologia. Há quem faça isso com uma certa inocência reducionista e boa intenção, apenas por ignorância do que Jung realmente seja, embora alguns façam isso de má fé mercantilista. Mas em geral, a idéia é que "ah, se ele fala de inconsciente coletivo e sincronicidade, então aí há uma possibilidade de que aquilo em que eu acredito tenha uma explicação possível, no terreno junguiano". Sim, há a POSSIBILIDADE (se há inconsciente coletivo, TALVEZ alguma telepatia seja possível, em ALGUNS casos), mas o erro é pensar que apenas por isso já seja uma CONSTATAÇÃO ou ENDOSSO de QUALQUER COISA que se praticar ou acreditar. Equívocos semelhantes ocorrem também em relaçao à física quântica: Não é porque uma partícula subatômica possa aparentemente desaparecer ou parecer estar em mais de um lugar que eu possa atravessar paredes, nem "provar cientificamente" que aquilo que eu pensar IRÁ se realizar, só porque PODE SER que se realize.

Portanto, se você vê um esotérico que se pretenda sério (seja ou não), ele provavelmente tentará alegar a teoria junguiana (ou até a física quântica, risos) em seu favor. Mas isso não quer dizer que a teoria junguiana em si (e menos ainda a física quântica) sejam escolas de ferramentas e práticas esotéricas. Sérias ou não.

4) A UNIP está com uma pós graduação em Jung que parece bem razoável. Pesquisando na internet, encontrei também há algum tempo uma especialização em Jung com Waldemar Magaldi, na Vila Mariana, reconhecido pelo MEC e formando psicoterapeutas junguianos. Não o conheço, mas o discurso e o programa me pareceram sérios e consistentes. Avaliem por vocês mesmos: http://www.ijep.com.br/index.php?sec=cursos&id=10&ref=psicoterapia-junguiana#conteudo

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

sábado, 10 de setembro de 2011

Se estamos passando por um período de resgates cármicos, encontrando pessoas de outras vidas, com as quais ainda temos alguma dívida, o que fazer para arrumar isso, e como saber o que fazer? Pode ser apenas fazer amizade e viver sem brigas?Pedir desculpa?

Há perguntas que mais afirmam uma crença do que de fato perguntam algo. O problema é que elas já de algum modo embutem a "resposta" que o perguntador espera, pois elas condicionam e delimitam quem responde ao paradigma do entrevistador, já que é nisso que ele acredita - mas não necessariamente o entrevistado.

Por isso, entendo que essas perguntas sejam, de algum modo, uma tentativa de adesão do entrevistado à causa ou crença do entrevistador, ou de ajudá-lo a ter mais convicção de crenças (que são particular, inaliável e intransferivelmente suas), ou no máximo um teste para ver se o entrevistado comunga das crenças do entrevistador. Nenhum destes três propósitos é o meu objetivo nesse espaço.

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

sábado, 3 de setembro de 2011

Ter armas em casa (seja revólver, espada, etc) ou ter que trabalhar com elas (no caso de policiais ou praticantes de esportes) pode trazer algo de negativo para quem as usa? Só o fato de uma arma ser concebida para causar dano já cria uma "egrégora" r

Já leu o Baghavad Gitá?

Entendo que o policial ou segurança que precisa usar uma arma no exercício de sua função apenas cumpre seu dharma (missão de vida, ocupação, realização), como Arjuna. Realiza seu papel no mundo, um papel importante e justo, mesmo que um dia precise usá-la.

Já quem tem arma em casa por "suposta" segurança, não está cumprindo seu dharma. Ao contrário, ele a possui por imaginar mentalmente uma situação crítica e negativa. E pior, reagiu fisicamente (comprar a arma) a uma situação infeliz que criou em sua própria cabeça. Não é de seu dharma matar. Mas é uma atitude (karma) comprar a arma, já prevendo intencionalmente a consequência (karma, ação e reação).

A arma não "cria" uma egrégora. O conceito de egrégora implica em uma série de pessoas fazendo uma atitude por uma série de tempo, uma espécie de holopensene coletivo (pensamentos+sentimentos+energias), a ponto daquilo criar uma instância "protetora" da sua existência. Pelo conceito espiritualista, o comprador da arma tem um holopensene, mas não uma egrégora. Ele talvez ALIMENTE uma espécie de "egrégora negativa", um arremedo de egrégora, mas chamaríamos isso mais de um holopensene coletivo, que não é o mesmo que egrégora (que religiões e ordens tem). Em termos populares, ele entra na "onda baixo astral" paranóica e coletiva em que tanto Datenas quanto bandidos quanto telespectadores sintonizam e alimentam, um mundo mental bárbaro onde todos devem matar e morrer, onde perigos persecutórios estão para todo lado. 

Do ponto de vista espiritualista e energético, não seria surpresa se os telespectadores desse tipo de programa ou compradores de armas de fogo atraíssem mais assaltantes que a média, afinal, eles se retro-alimentam mentalmente, e comprar uma arma pensando em matar alguém (ainda que em suposta defesa), além de ser "karma", também é uma maneira de aumentar uma suposta guerra cada vez mais mortal. Quanto mais riscos de armas em casas, pode estar certo que mais agressiva e fatal precisará ser as ações dos bandidos. 

Então, pela lógica espiritualista, dentro das crenças desse paradigma, SIM, ter armas em casa seria algo negativo, e poderia até mesmo atrair coisas ruins. Já usá-las como parte de uma profissão necessária e de interesse coletivo, não, até mesmo ao contrário, pois nesse caso sim, as corporações teriam a sua "egrégora" protetora (aí sim egrégora de fato, e não apenas um holopensene coletivo e negativo).

Por outro lado, de acordo com o pensamento de algumas linhas budistas, perguntar-se-ia porque a intenção de trabalhar em algo que causa dor ao semelhante. No caso do policial, a intenção do dharma é proteger. Mas trabalhar em uma indústria de armamentos, por exemplo, mesmo indiretamente, não seria o que chamam de "trabalho lícito". Na medida do possível, o adequado seria ter ações - no amor, no trabalho, na vida - que evitem causar sofrimento aos semelhantes. O dharma de um bom policial seria uma (boa) excessão, que não deveria ser usado para justificar a posse de armas por cidadãos comuns - até exatamente por já haver pessoas preparadas para exercer esse dharma.



Tenho medo de dentista! Muito medo! Mas meu dente doi... oque eu faço????

Como diria Gandhi: "Vá ao dentista! E pare de comer açúcar..." ;-)

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

Qual é a religião mais reacionária o catolicismo do Papa Bento XVI ou a conscienciologia do médium pangráfico Waldo Vieira?

Há perguntas que parecem querer mais afirmar ou impor algo do que de fato perguntar. Caberia ao "perguntado" apenas confirmar de algum modo o Plurium Interrogationum falacioso. Não as respondo, por humildade: pelo jeito é o perguntador que sabe a sua própria resposta, não eu. O que mais eu poderia acrescentar a ele? Sugestões de pontuação?

Eu considero a conscienciologia uma estrutura neo-religioso-dogmática em muitos aspectos, mas certamente isso não tem a concordância de seu fundador e membros. Portanto, a comparação tornar-se-ia improcedente desde a palavra "religião". O catolicismo é uma religião de fato, não uma caricatura. Tem séculos de atuação, bilhões de adeptos ao longo da história. Muito reducionismo generalizá-lo, ele é de fato "católico", universal, há centenas de ordens, inúmeras formas de ser católico, algumas se aproximando dos grupos protestantes neopentecostais, outros parecendo ritos medievais, alguns com vida monástica, comunidades, retiros, liberalismos, conservadorismos: impossível generalizar apenas por usarem a mesma liturgia.

O catolicismo como concebo não é "do Papa", nem do antigo Ratzinger, um teólogo de posições mais conservadoras, às vezes radicais, mas ainda assim teológicas, baseadas em conceitos da filosofia da religião. A única comparação possível é que Waldo Vieira é igualmente radical, e fim. Waldo não é necessariamente conservador ou "religioso", não demonstra maior preparo ou formação filosófica ou teológica. Waldo apenas estipula o que Ele acha certo (ou até mesmo necessário) para uma minoria exótica de seguidores, boa parte deles afastados de suas vidas e cidades originais. Um "Vale do Amanhecer" da Cultura [Racional] Consciencial.

Ora, há movimentos assim em Planaltina, São Tomé das Letras, Mapiá, Alto Paraíso, Porangaba, Trindade, Figueira...  Discirnam por vocês mesmos: Que nome dariam a isso se as crenças fossem de outros pastores e gurus? Não me parece acaso Waldo Vieira dedicar diversas páginas de seu "Livro Branco - 700 Experimentos" para atacar esses seus espelhos e concorrentes co-irmãos. Waldo acaba criando sem querer um enorme corpo dogmático, bastante dependente de sua pessoa. Um novo Trigueirinho ou Osho, sem 1% do alcance de seus rivais. Pior: os gurus ao menos repousavam em antigas tradições e religiões, assim como um papa poderia no máximo dar um tempero seu a uma boa e grande religião já existente. Waldo, ao contrário, parece negar e invalidar toda e qualquer religião, dogma ou rito - toda - o que paradoxalmente acaba sendo uma forma de afirmar a sua própria "religião".

Mas se sobram dogmas e exigências de Waldo a seus crentes e militantes virtuais, falta à conscienciologia tudo ou quase tudo que faz com que TODA religião seja boa. Os dogmas e imagens são apenas a camada primeira das religiões, mas muito mais importante que isso, há a possibilidade de uma vida simbólica (indispensável ao homem, segundo Jung), há toda uma consciência e tentativa de comunicação com o transcendente (que a conscienciologia reduz a tecnicismo metodológico-fenômenológico), há um fortíssimo senso de compaixão e empatia, há sempre toda uma preocupação ética e moral, há sempre um trabalho em favor de utopias de amor e paz, há um certo respeito e submissão ao divino, há um forte caráter filosófico-existencial, e a lista seria imensa...

Observando tudo isso que qualquer religião faz, mas a conscienciologia não, podemos CONCLUIR que TODA religião é boa, em algum nível... Mas que, infelizmente, apesar de ser bastante dogmática e meta-religiosa, a conscienciologia não é, de fato, nem mesmo uma religião.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Você sabe me explicar como fazer para entrar em contato com meu mestre interior ou o sagrado anjo guardião ? Beijos

Faça menos barulho com a mente, neuroses, paixões e desejos. O coração sempre está tentando falar conosco e nos conduzir de volta ao caminho de nossa felicidade e auto-realização - só que ele fala baaaiiixxxinho, e pouquíssimos fazem o silêncio interno indispensável para escutá-lo.

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

Você acha que vale a pena procurar um "professor" em alguma tradição meditativa ao invés de praticar meditação sozinho? Quando os benefícios superam os problemas que essa relação pode trazer?

Evidentemente, em qualquer área de qualquer coisa, quem dedicou-se especializadamente a algo por mais tempo e ainda se dispõe a repassar o conhecimento SEMPRE pode ter algo a ensinar àqueles que tiverem a humildade de aprender. Eu entendo que um guru seja excelente para aqueles que precisam de um guru, e péssimo para aqueles que não precisam de um guru. Qual a sua necessidade, só você poderia dizer.

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa: