sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Freud esta obsoleto? A psicanalise se renovou desde Freud? Ou algumas coisas se constataram e outras foram descartadas? O quanto Freud acertou e o quanto ele errou segundo as pesquisas atuais como a Neuropsicanalise?

- Freud era um gênio em seu tempo. O que ele descobriu não está "obsoleto", ao contrário. Mas seu campo de observação não englobava tudo, e precisava ser acrescido das futuras descobertas neurológicas, como ele mesmo advertiu.

- A Psicanálise se renovou bastante desde Freud. Klein, Bion, Winnicott, Lacan... Mesmo Jung, que parte de bases psicanalíticas e do inconsciente. Vejo grupos psicanalíticos bem contemporâneos e atualizados na USP, PUC e UNIFESP. Sem falar nos renovadores explícitos, transdisciplinares, como Gilberto Safra e o Grupo de Neuropsicanálise. Mas isso não quer dizer que todos os psicanalistas, institutos e sociedades psicanalíticas tenham se renovado. Muitos querem fazer de Freud mais um tabu do que um tótem, e agem como se a clínica, o profissional e a sociedade ainda fossem as de 1920. Não são. Como em toda área, autor ou mesmo religião, há os mais ortodoxos e fundamentalistas que se apegam literalmente ao que as obras de referência dizem, impedindo qualquer progresso e alteração; e há os mais heterodoxos que lêem os clássicos para entender o método do autor, continuando ou atualizando sua obra.

- Freud não é um santo ou profeta, apenas um observador fenomenológico da psique. Sorte nossa que ele não tinha ressonância magnética e neuroimagens. Ele relatava, anotava, teorizava sobre o que observava. E em relatos assim, os critérios de "certo", "errado" e "comprovável" não se aplicam tanto. Alguns de seus juizos são estranhos, certamente (inveja do pênis, por exemplo), outros talvez sejam contaminados por suas crenças e época. Mas não há erro em relatar algo, e se ele vivesse hoje, talvez relatasse ou concluísse outras coisas, uma vez que a psique coletiva parece ir mudando aos poucos, embora a meu ver mantendo algumas estruturas mais arquetípicas. Os (pseudo) cientistas de hoje nem sempre compreendem isso, um erro a meu ver de método filosófico. Se Freud fala em "superego", como estrutura funcional observável, alguém mais reducionista quer "encontrar" um superego passeando pelo cérebro e acenando para o tomógrafo. Freud deixou claro que não era essa a idéia ou o conceito dele, mas essa parte poucos lêem.

- Neuropsicanálise é um termo que pode ser compreendido em algumas abordagens. Se você a usa como Mark Solms, ela de algum modo estaria ali para comprovar ou endossar neurocientificamente as posturas de Freud. Não penso assim, e os grupos que conheço também não. Embora os trabalhos de Solms sejam muito relevantes e pioneiros, há outras frentes que tentam levar a Neuropsicanálise para ALÉM dos limites da neurociência E DA psicanálise, ou seja, que a vêem como uma NOVA área que não pode ser tão reducionista quando uma neurociência que não enxergava a complexidade da psique, nem tão reducionista quanto uma psicanálise ortodoxa que não enxergava as implicações das descobertas da neurociência ampliando aquilo que Freud só podia conhecer por observação.

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