Numa sociedade neo-hedonista-narcisista que simbolicamente elegeu zumbis como seu ícone cultural, envelhecer parece ter se tornadocrime ou doença.
Uma "reportagem" acusa Vera Fischer, a real, de não se parecer mais com o personagem que o imaginário do "jornalista" tem em sua fantasia.
"Impostora, como pode sair na rua assim?"
O senso-comum do repórter exige que em 2015 (sem produção e flagrada inautorizadamente em momento pessoal) ela tivesse que se parecer com uma aparência pública dos anos 80 e 90 (e com produção de estrela global). Que absurdo! Ela real não se parece com a "ela" idealizada...
Deveríamos então ser os eternos adolescentes, walking deads, só aparência, nos forçando a pedalar e transar sem parar, consumindo viagras e antidepressivos para mascararmos e negarmos nossa maturidade - e possibilidade de sabedoria?
O mais cruel é que o envelhecer era respeitado como saudável e sábio quando vivíamos pouco, assim como as relações (amorosas, profissionais, fraternas) de longo prazo. E agora, invertemos tudo, criamos políticas públicas e de transporte excessivamente físicas, pressões midiáticas excessivamente imagéticas e produtos e serviços que se tornam prematuramente obsoletos. Ou seja, passamos a desprezar e segregar a velhice, a permanência, a sabedoria - justamente agora em que vivemos 100 anos.
Vivemos o dobro e exigimos que tudo - relacionamentos, empregos, produtos, carros, amizades - dure a metade ou um quinto do que antes. É evidente que teremos problemas EXPONENCIAIS com essa conduta.
Como Highlanders Walking Deads, não se pode mais "viver, amadurecer, envelhecer e morrer", nos cobram que vegetemos eternamente com a idade em suspenso, entre sorrisos, maquiagens, plásticas, viagras e prozacs. Não é por acaso que tantos adotaram, inconscientemente, os zumbis como ícone "artístico" projetivo dos tempos líquidos atuais.
De cara lavada, Vera Fischer aparece irreconhecível ao embarcar no Rio
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