segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Filosofia Clínica é melhor que psicanálise? Uma pessoa da filosofia me disse que psicanálise serve apenas para algumas pessoas, e que é extremamente muito mais demorada. Qual sua opnião?

São coisas diferentes, e que podem se complementar. Eu, particularmente, sou um psicanalista que estudo filosofia - e muitas outras coisas. Lamentável se um, para vender o seu, tiver que dizer que o outro não serve. Na verdade, a Filosofia Clínica é que tem um público bem menor. Mas as duas áreas são muito próximas, e deveriam celebrar mais as suas grandes semelhanças do que se degladiarem por pequenas diferenças. Psicanálise está para Filosofia e vice-versa, e menos para a Medicina.

O que levanta suspeita na competência de quem lhe disse isso é a afirmação de uma ser "demorada" e a outra "rápida". Isso não combina com práticas que tendem a ser um processo contínuo, filosófico existencial, e não um pit stop para consertar a psique doente de alguém. Psicanálise não tem como ser lenta ou rápida, porque não é panacéia, nem "terapia". Não "conserta". Não é pragmática, não tem um resultado a obter em 4 semanas. 

Quem quer resultado imediato deveria procurar um psiquiatra, por vários motivos. Norte americanos pensam assim, que tal um comprimido que eu engula e resolva meus problemas? Ou uma sessão milagrosa de PNL ou cognitivo-comportamental, me "curando" em 8 sessões sem precisar adentrar nas causas? De fato, psicanálise não é para pessoas que pensam assim, mas FILOSOFIA menos ainda. 

Psicanálise e Filosofia são para as pessoas que cansaram de quebrar a cara em soluções imediatistas assim, e tem coragem de adentrar um pouco mais nas partes delas mesmas que nunca quiseram ver. E não tem prazo. Assim como praticar yoga e musculação é um cuidado para com o físico, a psicanálise é também um hábito de cuidar semanalmente da psique. Eu faço há muitos anos a minha, por exemplo, e não é porque eu sou um profissional da área que desejo parar de me cuidar. Pelo mesmo motivo que não faria sentido um professor de educação física gordo e que nunca faça práticas esportivas.

Estive no penúltimo congresso de Filosofia Clínica em Curitiba, com o Lúcio Pakter e todos mais. Acho muito interessante. Mas notei lá que há muito desconhecimento - e até um certo preconceito - em relação à psicanálise por parte de uma maioria de praticantes menos informados que os fundadores. Vi que debatem problemas de técnicas, transferência, contratos clínicos, psicopatologias como se fossem quase inéditos, infelizmente ignorando contribuições que 100 anos de práticas clínicas de diversas linhas já trouxeram.

Outra coisa que notei no congresso é que a maioria dos praticantes de filosofia clínica NÃO SÃO FILÓSOFOS. Eu estranhava algumas posições mais radicais, coorporativistas ou falaciosas que seriam pouco esperadas de alguém que tivesse sobrevivido a uma faculdade de filosofia, lidando com tantos pensamentos diferentes. Quero crer que quem disse isso a você seja um desses, menos esclarecidos, e não um dos excelentes fundadores e divulgadores das possibilidades da Filosofia Clínica.

Por fim, é bom esclarecer que FILOSOFIA CLÍNICA (a do Pakter e da Ayub) é uma excelente técnica e codificação de base clínica que usa a filosofia como base, mas não é nem deve ser a única forma de acrescentar FILOSOFIA e preocupação existencial na clínica de psicoterapia. Pakter usa um segmento muito específico da FILOSOFIA, faz suas escolhas dogmáticas, a partir de Aristóteles, fenomenologia e outros recortes. Eu gosto, mas certamente faria recortes diferentes. Há muito mais na filosofia que não foi selecionado por ele, por não ser aplicável à SUA técnica em particular. 

OU SEJA, há inúmeras outras formas de se aplicar FILOSOFIA à prática clínica, em especial à psicanalítica e humanista. Eu, particularmente, utilizo BASTANTE dos autores filosóficos que estudo na abordagem clínica que faço. Mesmo sem classificar pela técnica específica de Pakter, suas categorias e filosofia clínica - com quem aprendo também. O importante é estar ABERTO para tudo, pegando o que for bom. Eu particularmente trabalho com autores como Donald Winnicott, Victor Frankl e Ken Wilber, além do próprio Jung, cujos pensamentos necessariamente embutem na clínica a presença de questionamentos filosóficos e existenciais.

Um comentário:

  1. A psicanálise não é pra todos, asism como a filosofia.
    Francine

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