terça-feira, 3 de janeiro de 2012

É mais difícil resolver questões ligadas à repressão excessiva ou à falta de repressão/limites?

É mais difícil resolver questões ligadas à repressão excessiva ou à falta de repressão/limites?

Todo EXCESSO é imprevisível, não sabemos como o traumatizado lidará com o que sofreu, e me parece que é ele que interessa.

Mas se falamos conceitualmente, de para que lado é melhor errar, tendo a acreditar que é melhor que haja alguns limites e valores do que nenhum. Em tese, um pouco de recalque é natural, é inerente à sociedade (socializar-se implica em superego, em nos "formatarmos" e "contermos", afinal, ninguém anda pelado ou roubando comida por aí). Repressões estão estatisticamente ligados às neuroses. Podem gerar depressão, estados compulsivos, dentre outros, em geral tratáveis de diversas formas. Já a falta de limites está estatisticamente associada a transtornos de personalidade, à dependência química (drogas), a sociopatias, a estados de ansiedade graves, a dificuldades de adaptação social (socializar-se implica em conter-se). As psicoterapias são mais difíceis no segundo grupo. As medicações necessárias para o segundo grupo também são bem mais complexas, e praticamente indispensáveis. E os mecanismos de defesa do primeiro grupo tendem a ser mais "neuróticos", ou seja, de terceiro nível, enquanto os do primeiro podem mais facilmente cair nos "narcísicos" ou "imaturos" (ou seja, os de primeiro e segundo grupo).

Mas trata-se de uma generalização, téorica. Eu preferiria errar educando mais do que menos. Os processos psíquicos questionadores da adolescência, e a própria evolução da sociedade e costumes já trazem mecanismos de controle para irem além dos limites e equívocos dos pais. Já no caso da falta de limites - ou, pior ainda, de aparente "excesso" de limites sem atitudes e exemplos equivalentes - a adolescência e desenvolvimento não tem como reparar tão fácil. Ao contrário, uma adolescência assim pode ser trágica, e às vezes moldando o caráter e escolhas para sempre. Lembrando que EXCESSO de limites muitas vezes é uma outra forma de FALTA de limites. Não adianta o pai fera fazer discurso contra as drogas e ócio enquanto se embebeda diante do futebol de domingo, ou desrespeita todos os limites e convenções. Tendemos a chamar esse tipo de pai rígido, mas é justamente o contrário, sendo o PIOR TIPO de "falta de limites", aquele em que as regras sequer tem sentido ou aplicação, sendo tomadas praticamente como um convite à desobediência.

Um professor meu do Instituto de Psiquiatria da USP sintetiza isso brincando. Sendo assumidamente o "pai fera" de uma bela filha adolescente, lembra que "se errarmos a mão, os filhos neuróticos sempre poderão fazer psicoterapia depois, como fizemos um dia para resolvermos questões relativas a nossos pais". Entretanto, segundo ele, caso forme uma adolescente sem caráter, sem profissão, sem educação de base, sem socialização ou mesmo psicopata, não há tanto como resolver mais adiante. Ele lembra, brincando: "Eles ainda não tem córtex frontal desenvolvido! Até os 20 anos, o córtex frontal dos filhos PRECISA ser o dos pais." Acrescentaria o dos professores e religiões, que também tem importante papel nessa formação do caráter social.

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