quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

O que você pensa sobre a eutanásia aplicada a doentes terminais visando reduzir o sofrimento? E em outros casos?

Cada caso é um caso, mas não me pauto nisso por questões supostamente religiosas. Evidentemente não faz sentido deixar alguém SOFRER de modo insuportável, ainda mais quando esta sobrevida se dá por mecanismos artificiais, por orgulho ou egoísmo dos parentes ou médicos. Estou falando de pessoas que desejam morrer, que percebem que seu corpo quer e precisa ir, e que sofrem muito ficando aqui.

Penso que a natureza tem seu tempo e saídas, e pode ser que ela esteja dizendo que o tempo possível já passou. Em condições mais naturais, deveriamos viver em média 40 anos, e não 80. Nosso direito e conquista de sabermos hoje como prolongar a vida não deve nos tornar cegos ante aos próprios mecanismos da vida de optar pela pulsão de morte.

Mas nos casos em que o doente está inconsciente ou sem condição de juízo próprio, a questão é saber se o "sofrimento" que se quer reduzir é o do doente ou o da família. Questão impossível de generalizar. Será mesmo que não há esperança futura? Será mesmo que o doente está sofrendo, se devidamente sedado? Aliás, será mesmo que está inconsciente de fato? Temos inúmeros relatos de pessoas que, durante processos de anestesia, sedação constante, aparente insconciência e até mesmo Acidente Vascular Cerebral (derrame) permaneceram por muito e muito tempo aparentemente "inconscientes", mas que na verdade percebiam tudo o que ocorria, estavam lúcidos, vivos e assustados, apenas não conseguiam se comunicar - como numa catalepsia que nunca chegava ao fim.

O filme "O Escafandro e a Borboleta" (Le Scaphandre et le Papillon, 2007) aborda um caso REAL assim.

Acompanhei minha própria vó materna por mais de 10 anos, em Araxá, vitimada por um AVC. Inúmeras das vezes que a pensavamos inconsciente, descobríamos depois que ela estivera lúcida, quando ela enfim conseguia recuperar a fala e as funções cognitivas e nos relatava detalhes de quem a visitou. Havia vida ali, e não me parece que teríamos direito de discutir à revelia dela se a mesma deveria ou não continuar, para "nosso" conforto. Isso me pareceria um assassinato, e talvez jamais soubéssemos depois que ela acompanhava isso de forma lúcida, apenas incapaz de se expressar. Não era fácil cuidar dela, mas até onde percebi, a opção dela sempre foi a de viver. Evidentemente JAMAIS cogitamos algo como eutanásia, mas se em caso parecido alguém optasse por algo assim, será que o sofrimento inadministrável seria o do paciente ou o dos familiares?

Respostas difíceis, pois a maioria dos casos talvez incorra em um meio termo, onde talvez não haja tanta esperança, onde talvez não haja tanta consciência, e onde talvez de fato a família nem sempre tenha condições de cuidar eternamente, sem saber sequer se com isso está ou não fazendo o bem. IMPOSSÍVEL GENERALIZAR, e isso se aplica também ao discurso religioso, que muitas vezes traz hipócritas e irresponsáveis RESPOSTAS PRONTAS, culpas e proibições - baseadas apenas em dogmas prévios - sem considerar a particularidade de cada situação.

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

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