sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Espiritualistas e outros dizem que nossa natureza não é daqui. Não somos o corpo, mas estamos nele. O real seria o etéreo, e a vida aqui seria o treinamento, a matrix. Partindo disso, conhecer, então, o outro lado, não é de importância prioritária?

Não acho. Primeiro porque isso significaria também dizer que uma crença (ou seja, o que "espiritualistas e outros" dizem) tenha que ser a SUA importância PRIORITÁRIA. Gosto de crenças, mas elas não substituem o viver.

Depois, pelo argumento de Nietzsche. Em havendo algo maior e imaterial, este mundo aqui também é sua criação, a mais manifesta delas. Deste modo, fugir daqui focando no "lá" imaginário seria uma blasfêmia, seria cuspir e escarrar na obra de Deus. Nesse sentido, não há ninguém menos religioso do que o "religioso". O que vive só lá, criando fantasias para lhe isentar da responsabilidade de viver aqui, ou para compensar uma inferioridade que caberia a ele mesmo - e não aos deuses - resolver.

Mais ainda, pelo argumento da utilidade da mensagem espiritual. Religiões e crenças são importantes enquanto sistemas de sentido. A mensagem espiritual nos ensina a vivermos melhor aqui. Nenhum mestre milenar que mereça o nome fez pregações destas pseudo-filosofias de deixar a vida para viver a fantasia do outro. Ao contrário, recados espirituais decentes sempre foram de natureza interna, transformadora, e não relatos "objetivos" de como "deveria ser" em detalhes o "mundo de lá".

E por fim, por enquanto, pelo argumento da psicose. Ora, a experiência espiritual é pessoal, simbólica, subjetiva. Já a psicose é caracterizada por alguém - doente - tentar não só ter uma vida psíquica e simbólica (o que é lícito e universal), mas tentar interagir com ela no mundo externo, como se o que fosse pessoal passasse a ser coletivo, como se o que fosse simbólico passasse a ser literal, como se o que fosse subjetivo passasse a ser objetivo. Há um rompimento com o princípio da realidade. Ora, quando a espiritualidade se dá em fórum íntimo ou em ambiente adequado, visando o crescimento espiritual e psíquico da pessoa, ela atende o primeiro critério. Mas quando a "espiritualidade" para a se fiar mais nos relatos do lado de lá, ou a exigir que as pessoas mudem aqui a partir do que o outro disse ter visto do lado de lá, mesmo que tenha visto temos o rompimento dos limites, ou seja, o que era simbólico, interno e subjetivo do guru ou médium está sendo apresentado como tendo que ser literal, externo e objetivo não só para ele, mas para o outro. A isto se chama esquizofrenia, e não religião.

Se eu falo com as plantas, sou normal. Se elas respondem, sou psicótico.

Quanto à Matrix, cada Neo precisa esperar o seu Morpheus. Ele só fez o treinamento quando convidado a Zion. Ou seja, se estiver projetado, além da Matrix, treine. Mas isso não nos isenta de vivermos bem, aqui, onde a morte é real.

Dizem que um discípulo chegou para seu guru todo feliz, após muito meditar, e disse:
- "Mestre, mestre, enfim vi, este mundo é uma ilusão, a dor não existe!".
E então o mestre lhe deu um forte murro no nariz: "
- O que está doendo agora?"

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

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