Não sei se entendi a pergunta? Você nunca foi fã de ninguém? E acredita mesmo que só o "racional" nos salvará e explicará tudo?
Evidentemente, não sou fã de Crepúsculo e Restart - mas já fui guitarrista de banda cover dos Beatles, nos anos 80. O mundo fica um pouco pior quando desistimos de nossas utopias.
Claro que há histerias e compulsões que são projetadas patologicamente para tudo, inclusive para os "ídolos". Há também catarses nessa relação com a música. Mas me parece claro também que SEMPRE há uma geração curtindo seus ídolos, que de um modo ou de outro refletem utopicamente seus ideais, e isso me parece.. bom! E sempre há uma geração mais velha, que agora somos nós, tentando achar ridículo esse gosto tresloucado dos adolescentes de então. Sempre nos esquecendo que, em outros tempos, os adolescentes éramos nós.
Eu gosto de Beatles, Restart e Crepúsculo. Não artística ou esteticamente, mas pelo que representam, enquanto utopias. O que traduzem. Exagerados, todos os gostos adolescentes o são, mas precisamos ir além e entendermos o que eles querem nos dizer.
Nos anos 60, o movimento Paz e Amor e "all you need is love" dos beatles apontava formente o excesso de guerra que quase destruira o planeta anos antes. Era exagerado, era utópico, como tem que ser mesma a juventude traidora da tradição e renovadora. Mas também dava a tônica do mundo que aqueles jovens construiriam depois.
O fenômeno Restart e Emmo destacam, exageradamente, a importância do amor e dos sentimentos. È ruim esteticamente? Pra mim sim, pra outros não. Mas mais importante do que isso, a utopia restart aponta aquilo em que seus pais falharam: amor, esperança, carinho, subjetividade. Os jovens hoje querem ser emocionalmente hardcores, e isso é um tapa-na-cara de nossa geração que esfacelou relacionamentos, que chamava de tolos ou trouxas quem se expunha, quem amava, quem chorava. Eles estão nos dizendo que a guerra destrutora que travamos não foi mais como a dos anos 40 que Beatles criticava, mas contra nossos próprios corações.
Crepúsculo também tem muito desse tom, e vejo pais criticando o "excesso" de romantismo da saga. Na verdade é o contrário, os filhos é que estão criticando a FALTA de amor da geração dos pais, e estes estão tão cegos que não percebem o tom em comum de quase todas as obras culturais dessa geração.
Mas crepúsculo é mais grave, porque fala também de vampiros e lobisomens, ou seja, figuras arquetípicas da SOMBRA psíquica, aquilo que jogamos na lixeira e que volta para que possamos trabalhar. EM outros tempos, mais violentos, os vampiros eram também violentos, destrutivos. A agressividade estava em nossa sombra psíquica. Décadas depois, nos anos 70 a 90, o tema vampiros falava mais da sexualidade. O que achavamos que era livre, e ao mesmo tempo recalcada. No mundo do sombrio, nos porôes da psique humana, estava a sexualidade, recalcada antes, e agora vazando pelo ladrão. Mas curiosamente, o tema dos vampiros atuais não são mais a violência ou a sexualidade invasiva, mas sim o romantismo. É um recado triste à nossa geração anterior, pois significa que não só despriorizamos o romantismo, mas o jogamos na vala da sombra psíquica, de modo que os adolescentes precisam resgatá-lo através dos mitos de vampiros e lobisomens. Eles estão nos dizendo que SOMBRA igual a ROMANTISMO, e deveríamos ter muita vergonha disso. Deviamos pedir desculpas aos nossos adolescentes pelo mundo emocional que lhe deixamos de herança. Mas é mais fácil e cômodo criticarmos os ícones deles que trabalham amor, emoção, romantismo e sentimento. Afinal, para nós essas coisas são ridículas e falsas, não é mesmo? QUE BOM QUE PARA ELES, NÂO!
Comentários, reflexões e respostas em psicanálise, filosofia, espiritualidade, sociologia e política, pelo Prof. Lázaro Freire. Pergunte-me qualquer coisa. Se deseja alguma resposta na forma de post, envie sua pergunta anônima, sintética e respeitosamente nos comentários, começando sempre com " PERGUNTA ANÔNIMA: " (sem as aspas).
sábado, 19 de março de 2011
Por que acontece tanta euforia em fãs de Crepúsculo, Beatles, Restart, etc? O que acontece, psicologicamente, para que essas coisas se tornem tão importantes a ponto de levar as atitudes a níveis quase irracionais?
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário