sexta-feira, 15 de julho de 2011

Sua constante ponderação atual para falar sobre fenômenos espirituais/metafísicos que antes eram tratados com naturalidade tem a ver com a preservação de uma imagem acadêmica, de não parecer estranho entre outros filósofos/terapeutas do seu círculo?

Gargalhadas, claro que não, rs. Respondo com base no que acredito, no que vivencio, no que percebo em clínica. Não tenho escritos "acadêmicos" aqui. Me parece natural, na vida de mim e de muitos, que quanto mais se estuda e vive, mais incertezas temos; ao mesmo passo que não é difícil perceber que quanto menos segurança e conhecimento, mais certeza absoluta teremos dos nossos objetos de fé. Isso é mais verdadeiro ainda em filosofia.

Se eu for escrever um artigo acadêmico específico sobre fenômenos espirituais, claro que LÁ no artigo eu usarei as devidas citações e referências a outros autores, e preferirei termos adequados, dentro de um enfoque fenomenológico, metafísico ou o que for. Mas lá não é aqui, e eu NÃO ESCREVO sobre estes temas em minhas pesquisas acadêmicas. Escrevo sobre "técnicas psicanalíticas para o professor de filosofia do ensino médio", sobre "hedonismo epicurista X neohedonismo narcisista - equívocos na busca do prazer no mundo líquido" e sobre "bases filosóficas da epistemologia freudiana para endosso transdiciplinar da área da neuropsicanálise". SE eu escrevesse sobre espiritualidade lá, TAMPOUCO o "mundo acadêmico" seria uma espécie de "pai projetado" que as pessoas (em geral as de fora da academia) imaginam estar ali castrando as fantasias espirituais delas. Escrever acadêmicamente implica apenas em citar e defender o que se fala, e não em converter pessoas. É evidente que uma banca de filosofia da religião não vai exigir a materialização de Deuses na faculdade. A metodologia científica para humanas e metafísica é, evidentemente, diferente da demonstração EMPÍRICA da área de exatas ou naturais, por motivos ÓBVIOS.

Penso que as pessoas tem uma certa fantasia sobre aquilo que elas chamam de "acadêmico", risos. Se a pessoa estudar engenharia, matemática, história, administração, pode. Mas se algum espiritualista OUSA estudar humanidades (o que seria natural), filosofia, ciências da religião, psicologia, parece que - aos olhos de quem NÃO estuda - este pobre espiritualista torna-se IMEDIATAMENTE uma espécie de herege, incrédulo, falso, obsediado, dissimulado! Não, não pode ser! Ele deve estar disfarçando o que diz para ser aceito no "tal" meio adult, ops, acadêmico!!! Curioso é que não implicam com quem estuda outros assuntos, que não incomodam a sua fé. Mas o que estudamos também não incomoda a NOSSA fé ou à NOSSA experiência íntima. Mas parece que incomoda demais aos demais.

Escrevi sobre isso em: http://www.voadores.com.br/site/geral.php?txt_funcao=colunas&view=4&id=336

Então, quando eu soltar a minha voz por favor entenda que, palavra por palavra, eis aqui uma pessoa se entregando: tudo o que você ouvir, pode estar certa que estarei vivendo. E compartilhando também.

Certezas, nunca as tive, e menos as tenho quando estudo. Eu busco perguntas, e não respostas. E em geral, as perguntas incômodas. As "certezas" hoje me fazer rir. Principalmente as minhas, antigas. Após algum tempo de caminho, o máximo que alguém intelectualmente honesto pode conseguir é uma temporária "ausência de dúvidas". E ainda assim, dentro de um paradigma.

Quanto aos meus círculos, estudei filosofia no Seminário de São Paulo, junto com seminaristas mas também protestantes, espíritas e budistas. Uma escola que, por tradição, se dedica particularmente à filosofia da religião, à teodicéia, à filosofia medieval, à antropologia religiosa, aos autores da metafísica, dentre outros. MInha formação em psicanálise se deu numa escola da área transpessoal. Não sei o que poderia ser "estranho" para os "meus colegas" filósofos.

Quanto aos que não tem a mesma crença que eu, tampouco se incomodam.. Há médicos espíritas, há administradores de empresa católicos, há professores budistas, há dentistas ateus, há publicitários maçons, há chefs de cozinha judeus, há contadores messiânicos, há consultores muçulmanos, há economistas protestantes... NINGUÉM do meio profissional - que mereça o nome de profissional - fica ali se incomodando se o psicanalista ou psicólogo, em seu fóro íntimo, é espiritualista ou agnóstico. Parece que quem se incomoda MUITO com isso são os próprios espiritualistas, dando conta da relação entre fé e profissão dos seus iguais. Nos meios de classe ou nas escolas, nunca tive problemas. Já com "gurus" que fugiram da escola, aí complica mais. Nosso estudo é, para alguns deles, quase uma heresia ou ofensa pessoal.

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