terça-feira, 26 de julho de 2011

Posso me livrar de alguma compulsão sem terapia somente tentando me controlar?

Talvez sim. Mas não gosto muito da palavra controle, que presume um tremendo esforço, não raro com recalques. Ora, muitos dos problemas que tratamos em terapia vem justamente da tentativa de controle. Portanto, quando se trata de inconsciente - e não me parece que ninguém queira ter neuroses e compulsões conscientemente - pode ser que "controle" seja muito mais o problema do que a solução.

Além do mais, sua pergunta não dá detalhes do caso. Há vários tipos e graus de compulsão, com possibilidade de prejuízos funcionais ou sociais. Parece haver uma relação entre transtornos obsessivos e compulsivos e um baixo nível de serotonina, e alguns casos se beneficiam de alguns inibidores seletivos da recaptura da serotonina, de acordo com orientação médica adequada. Se a compulsão lhe traz prejuízos funcionais, sociais, sexuais, alimentares, de saúde ou de qualquer tipo, convém sim procurar profissionais adequados. Para que prolongar o desconforto, se houver possibilidade de tratamento, seja psicoterapêutico e/ou farmacológico? O esforço despendido em tentar "controlar" poderia ser utilizado em outras coisas. Ser feliz, por exemplo. Ou realizar melhor os próprios projetos. Mas não tenho conhecimento do caso para dizer o que melhor se aplica a você.

Ainda assim, a resposta é "sim", se não for através de tanto "controle". A psicanálise tem só 110 anos; e o homem, 200.000. Quero crer que possamos sim nos resolvermos por nós mesmos. Entretanto, uma orientação psíquica adequada (psicoterapia, espiritualidade, etc, de acordo com o caso) pode acelerar em MUITO alguns estes processos, economizando muito desgaste, tempo, dinheiro, desilusões.

Entendo o analista, pelo menos o junguiano / espiritualista, como uma espécie de substitutivo funcional dos antigos xamãs e gurus, só que numa acepção mais profissional e libertadora do que geradora de dependência religiosa. No ambiente das grandes cidades, nos problemas usuais de nosso mundo neurótico, é o analista que reintegra o homem ao seu inconsciente, que devolve o significado de sua vida simbólica, que promove o encontro com a vida interior, que ajuda na interpretação dos sonhos e dos sinais, que facilita a percepção de insights, que quando necessário conduz o "iniciando" urbano aos porões mais sombrios de sua psique, fazendo-o enxergar tanto suas deslealdades internas quanto seus mais escondidos potenciais.

Costumo dizer, brincando (mas nem tanto), que psicanalista não é o mesmo que psicólogo nem terapeuta, e que a maioria das pessoas vai ao "terapeuta" (sic) para sair se sentido "melhor"; mas que em sessões de psicanálise, algumas vezes sucesso é quando o paciente chora ou sai "pior", isto é, quando enfim consegue tocar nas questões que, não raro, gostaríamos de esconder até de nós mesmos.

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

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