domingo, 29 de agosto de 2010

Eu diria que o filme A Origem é o Matrix da psicanálise. Você concorda?

Não.

O filme Origem é até interessante, e permite algumas leituras simbólicas. Também tem seu mérito em popularizar mais a atenção a sonhos lúcidos. E introduz acertos inéditos em Hollywood, como a relatividade do tempo em níveis distintos de consciência alterada. Sei o que isso é na prática.

Mas ele é bem fraco em termos PSICANALÍTICOS e ONÍRICOS. Até mesmo o "Ilha do Medo", filme anterior do Leonardo di Caprio, seria melhor psicanaliticamente.

Um dos principais problemas do A ORIGEM é que ele trata o terreno dos sonhos como uma linguagem quase objetiva. Aparentemente, não possui muitos requintes simbólicos compatíveis com as funcões dos sonhos (arquétipos, deslocamento, condensação, simbolismos), como ocorre nos filmes SONHOS (Akira Kurosawa), A CELA, APANHADOR DE SONHOS (Stephen King) que são bem mais felizes em usar linguagem onírica o tempo todo.

Um dos poucos acertos é usar a imagem de um catavento para sugerir divisão. Isso parece mais com sonhos, um papel de contrato unido por um centro (mandala) porém fragmentado SUGERINDO uma divisão de um império financeiro. As imagens nos sonhos de verdade não são tão diretas quanto no filme, uma visão a la Hollywood. Possivelmente um segredo daqueles arrancados seria dito de forma criptografada, simbólica, exigindo um trabalho arquetípico (ou freudiano) de interpretação de sonhos por parte de Di Caprio, que precisaria ser quase um xamã ou psicanalista para exercer bem aquela função. Entretanto, no filme tudo se dá de modo (quase) direto, provavelmente para não exigir muita reflexão subjetiva e simbólica de um expectador hollywoodiano de thriller de ação.

A implementação do Limbo também deixou a desejar. Num nível tão profundo e atemporal, era de se esperar camadas bem mais simbólicas e metafóricas. Talvez até a presença de "deuses" ou outras materializações de formas arquetípicas ou "elementais". Entretanto, o diretor pareceu recriar um cenário dantesco, no estilo que já vimos em What Dreams May Come (Amor Além da Vida).

Esperamos que o A Origem 2 trabalhe camadas mais profundas. Por exemplo, tudo ficaria mais interessante se o peão não parar de girar, e se a Mal tiver mesmo razão - como eu acho que tenha. Se a Mal for a única lúcida ali, como eu penso que seja, então o filme estará salvo. Caso contrário, será mais um filme de ação com temática original, não mais que isso. Como alguém disse numa piada do twitter, o enredo fica tão simplista que toda a problemática do filme seria resolvida se simplesmente tivessem implantado no di Caprio a idéia de, ao contrário, embarcarem os filhotes dele num vôo para Paris... Dinheiro para isso nunca lhe faltou, né? Quero crer que não seja por acaso que a visão das crianças seja sempre a mesma, mesmo ângulo, mesmas cores, mesmo fundo do momento do "reencontro" real. Espero que não seja premonição, e sim um sonho que pôde continuar, enquanto a Mal não vem resgatar todos dali daquela maluquice de "invasores de sonhos" em um A ORIGEM 2.

Nenhum comentário:

Postar um comentário