sábado, 14 de agosto de 2010

Você acha que a desconstrução moderna e pós-moderna vai relegar a espiritualidade ao universo da mera subjetividade?

Creio que não. Desde Kant, e principalmente após Hegel, há outras possibilidades para o espírito, inclusive na imanência. Se bem que, dependendo do filósofo, tudo é subjetividade, né?

Eu já "creio" que aquilo que é desconstruído no que chamam de "espiritualidade" é muito mais a camada mitológica e religiosa. Removidas as cascas, aquilo que chamo de "espiritualidade" permanece. Se prefere uma leitura kantiana, digamos que o transcendente estará lá, só descontruímos fenômenos, não o númeno, o "incognoscível". Se pensarmos mais como Hegel, sujeito e objeto se fundem, o conhecimento é o próprio ser, e então não faz sentido dizer que, por estar imanente, a espiritualidade foi desconstruída.

Por isso, SEMPRE há este temor de que "os novos tempos" acabarão com a "espiritualidade". Ocorreu isso nos tempos do surgimento da filosofia, que perverteria os bons valores religiosos da antiga Grécia. Ocorreu quando Jesus, aquele subversivo, dava outro cumprimento mais lógico para a Lei Mosaica. Ocorreu quando o Renascimento e Humanismo puseram fim ao período medieval, e a ciência passava a explicar as leis naturais. Ocorreu novamente com Marx, Darwin, Freud e Nietzsche, cada um deles "destruindo" uma visão de "Deus" que havia até então. Ocorreu quando fósseis de dinossauros colocam as datações bíblicas no ridículo mitológico que sempre lhe coube.

Entretanto, embora os "religiosos" sempre alardem, em cada momento desses, o surgimento de um tempo "sem Deus", uma apocalíptica "desconstrução total e final" da tal "espiritualidade", na verdade isso nunca ocorre. Cairiamos, num outro nível, na questão da transcendência ou imanência.

Não importa quantas cascas de cebola retirem-se, só há duas visões possíveis, a meu ver: Para os da transcendência, SEMPRE haverá um númeno além, algo além das aparências, o que causa o fenômeno - e, portanto, a camada desconstruída foi apenas mais uma camada mitológica. Para os da imanência, tudo sempre esteve aqui e agora, e a camada desconstruída foi apenas uma projeção de uma suposta divisão do indivisível. Em ambas as possibilidades, o mesmo espiritual continua existindo, seja no transcendente, seja no imanente. E como podemos acreditar ou não nisso, aceitar ou negar, não é que a dita "espiritualidade" seja reduzida à subjetividade. Na verdade, ela *sempre* foi subjetiva, ou seja, relativa ao sujeito. Pensar diferente disso é, no fundo, acreditar em um Adão e Eva literal, ou nos deuses do Olimpo. Muitos fazem isso até hoje, ainda que em nome de Jesus.

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

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