segunda-feira, 24 de maio de 2010

A psicologia funciona para pessoas que estão indo obrigadas (por um juiz, por exemplo)?

Psicologia, talvez, dependendo da linha. Psicanálise nem tanto. Psicanálise pressupõe coragem, disposição para ver suas próprias sombras, e não se obriga ninguém a TER QUE atravessar seus infernos psíquicos. Entretanto, uma relação analítica de cumplicidade e confiança pode ser CONSTRUÍDA após algumas sessões. De comum acordo entre os dois. ALIÁS, psicanálise só começa após sessões que estabelecem um "contrato analítico" em que o analista precisa aceitar o cliente como seu paciente, e vice-versa. Dependendo da escola, temos critérios bem específicos para aceitarmos (ou não) alguém. Nenhum psicanalista que possa dizer praticar psicanálise trabalha só por dinheiro e/ou com pacientes obrigados ou que lhe desagradem. Seria um estupro, a si próprio e ao outro. Escolhemos nossos pacientes do mesmo modo que somos escolhidos por eles. Se um psicanalista aceitar trabalhar por coerção, estará praticando qualquer coisa - provavelmente "aconselhamento" ou "palpites psíquicos" - EXCETO psicanálise e suas indispensáveis transferências.

Mas a relação entre duas pessoas traz possibilidades infinitas, que não posso prever. Muitas vezes pacientes que vieram quase "obrigadas" à clínica (por mães, ou por cônjugues como requisito após descoberta de traição) se surpreenderam (e me surpreenderam) com a construção de um excelente relacionamento analista-partilhante. Afinal, nunca somos o analista de quem nos indica, e sim de quem deita em nosso divã. Com a relação clínica, intensa, íntima, a maioria dos que vêm compreendem que ELES é que serão ouvidos. É um alívio, e quase uma "vingança".

Por fim, ressalto que na minha experiência observo que a maioria das pessoas que EXIGE que seus filhos ou maridos TENHAM QUE fazer terapia eram elas mesmas tão ou mais necessitadas do que os clientes que me indicaram. "O inferno são os outros", dizia Sartre. Tive uma mãe que literalmente me disse que me mandou seu filho (entre 20-30 anos) porque precisava de alguém que o criasse para ela. Ainda assim, o "menino" teve uma relação clínica excelente por anos comigo, enquanto durou a terapia. Teve resultados excelentes, e nem lembravamos mais como e quando começou o processo.

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

Nenhum comentário:

Postar um comentário