segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Já passou por alguma catarse?

Desde pequeninho, a cada gol que aquele time de Raul, Piazza, Dirceu Lopes, Tostão e Natal marcava no mineirão! Depois que eu descobri a sexualidade, então, aí é que tive mais um monte. E jogando bola, então? Especialmente no time da empresa, quando botamos os bichos para fora? E os transes mediúnicos? E as meditações ativas que já coordenei (quem fez meditação comigo sabe que uso muito metallica, satriani e cia, e muita muita atividade física e tarefas non-sense antes do STOP a la Osho)?

O problema (a meu ver) é quando psicoterapeutas deixam de fazer seu trabalho analítico e passam a promover catarses clínicas, algumas com desculpas espirituais. Respirações estranhas, transes, hipnoses, técnicas de grito ou porra-louquice, etc. Alguns chegam a dar alucinógenos indígenas para pacientes, alegando intenções "terapeuticas". E, pior, às vezes ainda misturando crenças e espiritualidade nisso! Dá sensação de alívio? Bem, claro, pode dar. Ajuda a liberar tensões? Bem, errr, pode ser. E exatamente por isso pode NÃO SER terapêutico, mas sim ilusório, paleativo. Dando a falsa impressão de que a pessoa sempre saiu "bem", mas sem dar compreensão sobre a raiz do problema.

Explquemos: a catarse, seja no mineirão, seja em um transe anímico, seja no palavrão que se solta no trânsito, tem características de "liberação" de pulsões. Vai libido ali. E muito, muito inconsciente. Acontece que esta espirradinha, por mais forte que seja - e há riscos quando é forte - no fundo é insignificante diante de tudo que há lá dentro das profundezas, onde os contextos foram represados.

Além do mais, o inconsciente tem seus mecanismos de DEFESA em relação a conteúdos, e não usamos a palavra "defesa" à toa. Exposição direta a algumas questões traumáticas podem nos levar inclusive à psicose, e é consenso analítico de que as nossas neuroses, antes de serem uma "doença" como querem alguns psicólogos e psiquiátricas, é antes de tudo uma "cura", a melhor expressão que aquela psique conseguiu organizar. Cabe a um bom psicoterapeuta compreendê-la (em sua raiz) e ajudar para que o remédio da defesa não mate o paciente, ou seja, para que possamos conviver socialmente com quem somos, e arrumemos outras soluções e sublimações para nossos problemas e traumas, um pouco melhores do que a repetição neurótica das respostas infantis. Portanto, técnicas profundas de liberação da tampa da chaleira sem o devido manejo e mudança consciencial podem ser enganosas e estéreis, e ainda correm o risco de se tornarem,,,, perigosas.

Mas e as religiões, não promovem catarses há tempos? Isso não é bom? Bem, note que uma catarse religiosa, como fazem alguns ritos, geralmente tem um contexto ético ou iniciático associado, ninguém "faz a cabeça" ou "desenvolve mediunidade" da noite para o dia ou sem compromisso com os preceitos daquele grupo ou religião. Antes de um índio participar das beberagens e fumos sagrados, precisa dar provas sucessivas de sua coragem e maturidade, às vezes se adaptando por anos. Observe que o que pseudo-xamãs e terapeutas menos responsáveis (ou, talvez, menos informados e com menor base acadêmica séria) fazem NÃO É isso, já que às vezes colocam o sujeito em contato com regressões, respirações holotrópicas, renascimentos profundos e até mesmo alucinógenos já nos primeiros contatos. Embora alguns possam talvez entrar em contato com seus complexos conseguindo ter algum insight e organização disso, o risco não compensa, uma vez que para a maioria será apenas pirotecnia fenomenológica com sabor (temporário) de alívio; e, para uma minoria, infelizmente um risco altíssimo e bem real de induzir estados de surto, por expor o sujeito violentamente a algo que a sabedoria de sua psique elaborou uma vida toda para bem se defender.

Se fosse mesmo tão terapêutico assim, a torcida da Gaviões da Fiel apresentaria o maior nível de equilíbrio psíquico e normalidade do planeta. A catarse pela catarse é, no máximo, "gostosa". Claro que a pessoa terá a sensação de ter colocado seus bichos para fora, e muito terapeuta menos técnico encherá os bolsos com isso. Mas os bichos sempre estarão lá, aguardando o novo jogo ou nova sessão.

Fala que eu te escuto... Pergunte-me qualquer coisa:

Um comentário:

  1. Gostei,mas tenho dúvidas,eu pensei que pela psicoterapia,a revelação dos conteúdos traumáticos ajudassem a resolver o problema e que isso provocasse uma catarse no analisando.Sou pessoa leiga no assunto,faço terapia e tenho necessidade de entender o que estou buscando fazer...já passei por muitas experiencias como a hipnose,que me deixou "normal"por duas semanas...que coisa mais diferente,ser normal por duas ou tres semanas para quem sente muitos problemas é uma experiencia interessantíssima,embora doa muito,voltar ao patamar antigo.

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